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6 Diário da Câmara dos Deputados

Sentiu-se de repente que no meio do desânimo, no meio das tristezas, no meio da dissolução dos caracteres, mais alto do que tudo isso, se levantam dois portugueses que demonstram que ainda a raça tinha, as velhas energias, sentia as velhas responsabilidades da tradição portuguesa.

Vivemos uma hora de desânimo: olhamo-nos uns aos outros e sentimos com verdadeira vergonha de nós próprios.

E quando olhamos o passado, quando olhamos a herança que os nossos maiores nos pegaram para nós próprios, o Sr. Ministro da Justiça, procura matar; em obediência a um élan, que não é próprio que não está na consciência portuguesa, as velhas tradições religiosas.

E, quando olhamos o Sr. Ministro das Finanças, e verificamos que S. Exa. destrói o crédito português com uma sencerimónia assombrosa.

E emquanto todos os portugueses se regozijam por uma circunstância que nos eleva no conceito da Nação, verificamos que falta aqui o Sr. Ministro da Guerra para honrar um facto que traz tanta glória para os portugueses, para se associar - êle que é um soldado valente e brioso - ao facto glorioso que outros soldados briosos e valentes praticaram.

Mas a nossa consciência livremente nos diz que, apesar de tudo, a raça portuguesa tem condições para viver, e a primeira condição de que um povo precisa para poder viver é ter fé nos seus próprios destinos.

Os portugueses nestes últimos dias têm tido fé nos seus próprios destinos, não mercê do Sr. Ministro da Guerra, mas mercê da acção de dois bravos soldados, pertencentes a uma aviação agora dissolvida que, segundo a velha tradição portuguesa, resolveram intrepidamente, sem meios, desamparados das instâncias oficiais, lançar-se pelos ares fora, num velho avião com o élan, com o interêsse que é próprio de quem vive com fé, a fé que nos faz acreditar nos destinos de Portugal.

Ao mesmo tempo que êsses dois bravos soldados, com as mãos fortes, agarradas ao volante, vão por aí fora, levando no coração o nome da Pátria, o Sr. Ministro da Guerra desinteressa-se dêsse facto então acredita nêle, não tendo, como êsses dois briosos soldados, fé nos seus destinos, fé nos destinos da Pátria, recusando os doze miseráveis contos que eram necessários para iniciar a viagem.

O Sr. Ministro da Guerra, que é uma figura galharda do soldado português, aliado aos próprios destinos da sua terra, não acredita nêles; o Sr. Ministro da Guerra, em lugar de ser o chefe glorioso do exército português, descrê dos seus destinos, abandona esses dois homens ao seu próprio esfôrço.

E sabe V. Exa. quem os amparou?

Foi o coração magnânimo do povo português que deu aqueles doze contos. Êsses miseráveis doze contos, que foram recusados pelo chefe do exército português, pagou-os generosamente esse mesmo povo.

Sarmento de Beires e Brito Pais são nesta hora os dois melhores representantes da aviação portuguesa.

O povo português pagou tudo que foi preciso para a vitória dos dois gloriosos português; pagou-o com pequenas espórtulas que são aqueles que mais são de agradecer; pagou tostão a tostão, porque o povo português acredita nos seus destinos, ao passo que o Sr. Ministro da Guerra, que é chefe do exército português, descrê dêles.

Os dois gloriosos aviadores chegaram a Macau; e precisamente no momento em que chegaram esses heróis ao fim do seu glorioso raid, chegava à fronteira o Sr. Afonso Costa! Ironia trágica!

Por um lado dois dos melhores portugueses que arriscaram a vida demandando os ares ao longínquo oriente e por outro lado o homem que docemente se instalou em Paris!

Ironia trágica que muitos portugueses hão-de sentir!

Muitos apoiados.

Pois nesse momento, em que chegaram a Macau Brito Pais e Sarmento Beires, precisamente nesse momento, chegava, corpo já disse, à fronteira portuguesa, o Sr. Afonso Costa quando estavam presos os companheiros de Brito Pais e Sarmento Beires!

Estavam presos os melhores companheiros de Brito Pais e Sarmento Beires, aqueles que incitaram a êsse glorioso raid!

Muitos apoiados.

É triste constatar tudo isto!

Apoiados.