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Sessão de 9 de Julho de 1924 13

pente, uma voz aflita se levantou, dizendo:

«Aí vem o Cunha Leal com a dissolução».

Já toda a gente sabe que eu não sou ambicioso, que não freqüento o Palácio de Belém, que não faço mesuras a quem quer que seja e que não sou a pessoa própria para presidir um Ministério desde que me condenei a mim próprio a um voluntário ostracismo.

Êste grito tem a sua significação, interpretado, não como os jornais dizem que êle se proferiu, mas desta maneira:

«Aí vem o Partido Nacionalista com a dissolução», grito que aterrou o Partido Democrático. Porquê?...

Porque o Partido Democrático ainda não acha que tenha feito sofrer bastante êste País; ainda não entende que a sua hora de oposição chegou.

Êste pobre País que tanto tem descido já, é preciso que desça ainda mais!

É assim, o que, levou o Sr. Rodrigues Gaspar ao Poder foi a solidariedade alcançada à custa da voracidade do Poder.

E os democráticos diziam: o Poder é nosso, ligando-nos com os homens da Acção Republicana como o Sr. Abranches Ferrão, e indo arrancar à sua vida sossegada o Sr. Xavier da Silva, trazendo-o para a vida política, porque é necessário que o Partido Democrático continue governando, porque republicanos somente são os homens do Partido Democrático, que são históricos, historiquíssimos, havendo sempre o cuidado de escolher para os lugares aqueles que são anualmente republicanos.

Confesso que o Sr. Rodrigues Gaspar me deu um momento de alegria, quando foi encarregado de constituir Ministério, porque nós, nacionalistas, gente de ordem, se por um acaso extraordinário formássemos Govêrno, quereríamos meter a todos dentro da Constituição e da lei, para exercermos a nossa acção.

O Partido Nacionalista entre dois males, o Sr. Rodrigues Gaspar e o Sr. Domingues dos Santos, prefere o Sr. Rodrigues Gaspar, porque o Sr. Domingues dos Santos, neste momento de tantas dificuldades, viria atear a guerra religiosa, querendo matar os padres.

Esteve para vir de Paris o inevitável Afonso Costa, que tem o pensamento de matar o déficit e de matar os padres.

O Sr. Álvaro de Castro já declarou que matou o deficit, e o Sr. Domingues dos Santos, apresentando um papel, declara que tem o seu plano para matar os padres.

Deixem os padres, que são homens dignos, quando à solta estão os profissionais da desordem, que deitam bombas, e que cultivam as revoltas.

Entre êstes dois males, prefiro o mal Rodrigues Gaspar.

Em todo o caso, devo dizer que o Sr. Rodrigues Gaspar, organizando Ministério, tem a vantagem de não poder dizer que para governar não estava preparado; porque não admito que um homem público, ao assumir um tal lugar, diga que não estava preparado para essa missão.

O primeiro dever do homem público é estar preparado para desempenhar êsses cargos, e ao ocupar as cadeiras do Poder não deve começar por dizer que não sabe os assuntos, que não estava preparado, que vai estudar, ou que fará o que estava a fazer o seu antecessor.

Êste Ministério tem em linguagem popular, a característica, a linguagem de cauteleiro no seu conhecido pregão:

«Quem me acaba o resto!».

Mas o extraordinário, é que apesar dos votos que teve o Sr. Rodrigues Gaspar para organizar Ministério, ainda apresenta o seu Govêrno incompleto, não conseguindo na coelheira do Partido Democrático um Ministro da Agricultura.

Sr. Presidente: o Sr. Rodrigues Gaspar começou por se meter numa colisão.

Referi-me há pouco ao caso da embaixada de Londres; e todos se lembram que assistimos aqui a uma violenta tempestade, levantada por efeito da respectiva nomeação do Sr. Norton de Matos.

A respeito dêsse caso, ouvimos o Sr. Rodrigues Gaspar dizer que não admitia ver premiar aventureiros políticos, e afirmar que Londres não era um sanatório.

S. Exa. condenou o procedimento do Alto Comissário de Angola por ter abandonado o seu pôsto de honra, depois deter declarado que não abandonaria êsse lugar»

Nós tirámos das palavras do Sr. Rodrigues Gaspar conclusões tremendas para o Sr. Norton de Matos.