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Sessão de 9 de Julho de 1924 11

por exemplo, o meu ilustre amigo Sr. Abranches Ferrão? Que pensamento reservado tinha o Sr. Álvaro de Castro a êste respeito? Seria porventura a convicção de que desde que não fôsse um democrático ninguém agüentaria o Govêrno? Seria isto?

Não sei, mas merece a pena continuar a esmiuçar a carta tam significativa do Sr. Presidente do Ministério cessante para o Sr. Presidente da República.

A parte referente ao Sr. Afonso Costa merecia desde já um pequeno comentário, mas S. Exa. é uma personagem de tanto relevo que merece também um capítulo especial. Continuemos, portanto, a nossa análise, e, não nos ocupando muito por agora do Sr. Afonso Costa, vejamos o que isto queria dizer. Naquele partido ninguém se entende. Cada cabeça, cada sentença, e cada moção cada chefe. Nestas condições, quem haverá dentro do Partido Democrático, senão o Sr. Afonso Costa, para ser Presidente do Ministério? Eis o que afirmava o Sr. Álvaro de Castro.

Ora bem.

O Sr. Álvaro de Castro afirmava portanto ao Partido Democrático o seguinte:

Com qualquer chefe que não seja o Sr. Afonso Costa, êsse partido não terá coesão, não terá disciplina, e assim nenhum Govêrno terá a certeza de poder governar.

Mas então, Sr. Presidente, estamos todos a colaborar num bluff.

Êste Govêrno existe pela formação de um bloco, cujos elementos não acreditam uns aos outros, e a nação que espera dos homens uma acção enérgica e decidida, uma acção de salvação, esta pobre nação que quere sair da situação de miséria em que se encontra e que a gente sente querer respirar e viver, é vítima de um bluff!

É esta a política de que saiu o Ministério presidido pelo Sr. Rodrigues Gaspar.

É esta a política que preconizam os homens que neste momento apoiam o Govêrno.

Continuemos, porém, analizando o desenrolar dos factos.

Vejamos como nesta miséria da nossa vida política os homens se mexem, movidos não por um pensamento, não por ideas, mas por idolatrias, não por sentimentos de salvação nacional, mas por sentimentos de salvação partidária e até, segundo se diz, pelo próprio medo do papão como se fossem crianças.

O Sr. Afonso Costa, o inevitável, foi chamado e S. Exa., como de costume, marchou para Paris.

Eu não sei se o Sr. Afonso Costa é aquele que os jornais dizem que anda num vai-vem, ou vem a ser o homem misterioso criado por Arsene Lupin!

E extraordinário que o Sr. Afonso Costa, que tem representado um papel que pode ser discutido, em que tem responsabilidades na vida da República, ande a enganar os seus correligionários e a República.

Apoiados e não apoiados dos diversos lados da Câmara.

O Orador: — O Sr. Álvaro de Castro falou com sinceridade, e pôs o dedo na ferida.

A chegada do Sr. Afonso Costa era necessária para resolver a crise do um partido e não a crise de uma nação!

Mas a continuarem as cousas assim, acabam os devotos do Sr. Afonso Costa por terem razão de que a crise de um partido porá em crise a República!

O Sr. Joaquim Ribeiro: — Não apoiado!

O Orador: — Ouvi o não apoiado do Sr. Joaquim Ribeiro, e compreendo a razão do seu não apoiado, desde que li a sua entrevista no Diário de Lisboa.

O Sr. Joaquim Ribeiro (interrompendo): — V. Exa. ainda fica muito alto para que ninguém lhe faça sombra.

O Orador: — Tenho muito prazer em acolher-me à sombra de qualquer pessoa.

Já tive as minhas vaidades, mas o que eu quero é que o Sr. Afonso Costa venha para aqui sofrer o mesmo que nós sofremos, e não ande da Serra para Lisboa, de Lisboa para a Serra, da Serra para Paris, de Paris para a Serra e da Serra para Lisboa...

Risos.

O que eu quero é que êle venha sofrer o mesmo que todos nós sofremos, e sujeitar-se às mesmas contingências.

Apoiados.