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26 Diário da Câmara dos Deputados

habilidade do Sr. Afonso Costa; por outro o espantoso milagre, porque só um taumaturgo ou o maior estadista do mundo em todos os tempos seria capaz de transformar em poucos dias, fechado no seu gabinete, um déficit verdadeiro num superavit não menos verdadeiro.

O que S. Exa. fez, na realidade, foi aproveitar-se, com infinita habilidade —reconheço-o — do trabalho dos outros, dos que antes de S. Exa. tinham passado pelo Ministério das Finanças, e apresentá-lo como produto do seu génio. Conseguia assim S. Exa. os seus fins políticos, engrandecer-se amesquinhando os adversários e até os amigos.

E não lhe faltaram aduladores, mais ou menos interessados, para lhe endereçarem hiperbólicos encómios.

Certo é também que S. Exa., com as suas hipérboles, conseguiu um resultado com que pouco contava: que pouca gente acreditasse, como muita ainda hoje não acredita, no seu superavit.

Da cota parte que porventura tive no trabalho de reconstituirão financeira dos primeiros tempos da República nenhuma glória tirei, e por ela nenhum reconhecimento mereço.

Não ando nos partidos da República em busca de honras, e tam republicano me julgo que nem condecorações uso, embora à fôrça tenha recebido algumas.

Sr. Presidente: desejaria fazer algumas considerações sobre o plano financeiro do Govêrno, tanto mais que o actual Sr. Ministro das Finanças merece muito particular estima e grande consideração pelo seu carácter e por ser um dos mais zelosos funcionários da República; mas verifico que não há plano financeiro; vagamente apenas, êste Govêrno declara que vai seguir, em matéria financeira, a orientação, que todo o país condena, do Govêrno que o antecedeu, e mais nada.

Sr. Presidente: não vou descer ao nível mental daqueles adversários do Partido Nacionalista que atribuíram ao Govêrno do Sr. Ginestal Machado a baixa do câmbio, que por outras causas foi determinada. Embora fôsse justo pagar-lhes na mesma moeda, não quero, porque não devo, porque seria uma heresia em matéria financeira, não quero, digo, atribuir ao defunto Govêrno a culpa exclusiva da baixa cambial, nem tomarei como indicador da sua capacidade administrativa o facto de o câmbio estar a 142$ por libra quando o Sr. Álvaro de Castro entrou no Ministério das Finanças, e estar a 157$ por libra quando S. Exa. de lá saiu. E, todavia, S. Exa. largas culpas teve nessa derrocada pela sua política de destruição, do crédito do Estado.

Para dirigir as finanças dum país não basta ter a capacidade necessária para mandar arrecadar receitas e assinar ordens de pagamento.

É necessário ser competente e ter aquela soma de conhecimentos e a intuição necessárias para prever a repercussão que as medidas promulgadas podem ter na vida económica da nação,. O comércio, a indústria, as actividades económicas do país não podem, numa grave ocasião como a presente, estar à mercê dos erros de aprendizagem ou dos vagares do Ministro das Finanças.

Não se manda para a pasta das Finanças um homem que apresenta medidas que depois declara não ter tido tempo de estudar.

Segue o actual Govêrno a política financeira do seu antecessor? Pois não o felicito, nem o aplaudo, porque essa política é a do descrédito, e todos sabem como o crédito dum Estado, mais do que o dum particular, é frágil como barro.

Ninguém ignora o efeito que o desrespeito pelos compromissos tomados pelo Estado tem tido na situação financeira do nosso país. Ninguém ignora que ainda hoje estamos jungidos ao descrédito em que caímos em 1891, quando se fez a última bancarrota da monarquia.

Sr. Presidente: a política financeira seguida pelo Sr. Álvaro de Castro, e que o actual Govêrno vai seguir, em poucas palavras se resume. Verificou o Sr. Álvaro de Castro quê os juros dos empréstimos expressos em escudos eram excessivos, pois S. Exa. apenas disto se lembrou: — Não se paga! Se S. Exa. cuidasse do crédito do Estado, ao constatar á impossibilidade momentânea de pagar, não diria «não pago», mas diria: «o Estado pagará em ocasião oportuna, porque neste momento não pode».

São sagrados os compromissos da nação. O Sr. Álvaro de Castro não só se recusou a pagar o que pelo Estado era devido, mas, para cúmulo de ignomínia,