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Sessão de 11 de Julho de 1924 25

por êsse motivo muitos dos meus colegas do Ministério se desinteressaram da preparação dos seus orçamentos do despesa.

O Govêrno era de concentração, como V. Exa. sabe e em governos de concentração cada Ministro, em regra, só trata do fazer a política que pode pela sua pasta.

Pediu o Ministério a demissão no dia 4, mas até 12 ou 13 não se resolveu a crise, tam empenhados andavam os Srs. Deputados e outros políticos em disputar a Presidência do Ministério. Tal o qual como na recente crise.

Nestas condições e estando demissionário e mal ajudado pelos colegas era natural que me desinteressasse pelo futuro orçamento.

No emtanto, Sr. Presidente, o que é um facto é que eu honestamente e dedicadamente com o auxílio dos meus amigos e colaboradores, procurei examinar e reduzir os poucos orçamentos que mo tinham sido enviados pelos outros membros do Govêrno.

Desculpe-me a Câmara esta minha divagação, mas a hora é de justiça e porque se tem dito que eu apresentei um orçamento com 8:000 contos de déficit, que o Sr. Afonso Costa o transformou milagrosamente num superavit, eu desejo repor os factos no seu verdadeiro pó.

Sr. Presidente: com aquela ingenuidade que ainda conservava aos trinta o tantos anos, com a ingenuidade dum homem que acabava de assistir à passagem do regime monárquico para a República, o julgava realizado o seu ideal político, acreditando na perfeita sinceridade o desinteresse dos outros homens, com toda a ingenuidade, repito, para que a Câmara fique corta que estou falando com toda a sinceridade, tive a idea do realizar uma reunião daqueles homens que na direcção da política republicana tinham merecida preponderância, para ouvir o sou conselho e com êles concertar um plano de administração financeira.

Realizou-se de facto essa reunião, tendo escolhido aquela forma fácil o usada em todos os tempos, do congregar homens para conversas íntimas. Reuni num modesto almoço, os Srs. Afonso Costa, Duarte Leite, João Chagas, Augusto de Vasconcelos e outros e expus-lhes com clareza e sinceridade, com o coração nas mãos, o que era a situação do Tesouro Público e os meios que em meu fraco saber julgava necessários para fazer face ao déficit que reconhecia haver nas contas do Estado, que na verdade existia, embora fôsse pequeno e fácil do anular. E alguma cousa dessa reunião resultou.

Concertou-se um plano u considerou-se a melhor forma de, sem desgostar o País com a administração do novo regime, se obter o ambicionado equilibro, e mais os recursos necessários para assegurar a defesa do País. O problema então era urgente, como V. Exas. sabem.

Devo dizer que a esta reunião de republicanos com responsabilidades na administração do Estado se seguiu uma segunda reunião, provocada pelo Sr. Augusto de Vasconcelos, para-tratar de política internacional da nova República.

Procurava-se, como hoje se diz, neutralizar as duas pastas: a das Finanças e a dos Negócios Estrangeiros.

Tempo depois, Sr. Presidente, deu-se a queda do Ministério, e tendo sido chamado o Sr. Afonso Costa, eu honradamente, como me cumpria, entreguei lho, ou melhor, deixei-lhe sôbre a mesa de trabalho as tabelas de desposa que recebera dos diferentes Ministérios, e nas quais tinha feito importantes reduções, não ao acaso, com o intuito de alcançar um resultado fixado à priori, mas reduções efectiváveis e que se mantiveram na quási totalidade. Não fiz orçamento das receitas, ou melhor, não revi o cálculo que recebera da Contabilidade; mas os meus colaboradores sabiam, e o Sr. Afonso Costa sabia, que não era difícil obter o equilíbrio; a questão era apenas saber se convinha obtê-lo imediatamente ou aguardar mais um ano.

Terminada a minha modesta missão ministerial fui tranqüilo para minha casa, sempre confiado na lealdade dos homens, e por isso, Sr. Presidente, V. Exa. avaliará o meu espanto quando alguns dias depois vejo nos jornais que o Sr. Afonso Costa, com uma habilidade que admiro, apregoava urbi et orbe que conseguira o estupendo milagre de transformar um orçamento com um déficit de 8:000 contos num orçamento com um superavit de 2.000 e tantos contos.

V. Exa. compreenderá o cómico disto. Por um lado o meu ingénuo espanto em me deixar, como direi? surpreender pela