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22 Diário da Câmara dos Deputados

fanática submissão. Isso não me interessa.

Eu, porém, e os homens que se sentam neste lado da Câmara é que não os podemos acompanhar nessa atitude, porque a consideramos contrária à nossa dignidade.

Sr. Presidente: mais uma vez se reeditou nesta Câmara a afirmação de que a primeira tentativa feita pelo Sr. Afonso Costa para a constituição de um Govêrno (que pelos modos seria um Govêrno de concentração) tinha falhado por culpa do Partido Nacionalista.

Pretende-se assim criar a opinião de que, pelo seu egoísmo, o Partido Nacionalista inutilizou uma tentativa de salvação, nacional.

É preciso não conhecer os factos ou deturpá-los por paixão ou inconscientemente, para se afirmar semelhante cousa.

Quando cercado de prestígio e da auréola de esperança que em sua volta tinha criado uma parte da imprensa republicana e a chamada grande imprensa o Sr. Dr. Afonso Costa, por indicação dos seus amigos, abandonou as margens verdejantes no Sena e se encaminhou para Portugal, com a intenção aparente de formar Govêrno; eu fui daqueles que sinceramente desejavam contribuir com o meu voto para que S. Exa. organizasse o seu Ministério.

E se nas reuniões do meu partido não ergui a voz para o aconselhar que dêsse colaboradores ao Sr. Dr. Afonso Costa, foi por êstes dois motivos: o primeiro por que o meu nome foi indicado pelos adivinhadores de profissão como um dêsses colaboradores, e eu nunca gostei de parecer sequer que faço reclamo à minha pessoa para cargos de confiança. Não preciso de popularidade, nem me ofereço para tais lugares.

O segundo motivo da minha atitude de silêncio, perante a tentativa do Sr. Dr. Afonso Costa, foram as declarações que S. Exa. fez ao entrar em Portugal.

Entrou S. Exa. não como pecador contrito, mas como um triunfador magnânimo.

Vinha realizar urna obra de purificação e entrou em som de guerra.

Com efeito, não disse S. Exa. que das passadas dissensões todos eram culpados; não nos disse: «eu tenho culpas e agravos, mas vós tendes também culpas e agravos; esqueçamo-los.

S. Exa., atribuindo aos outros as culpas e, julgando-se só êle agravado, como senhor magnânimo declarou que soube perdoar.

Eu não preciso do perdão do Sr. Afonso Costa para cousa alguma.

Perdão?

Perdão de quê, se S. Exa. é muito mais culpado do que nós todos, porque tem sido quási todo o tempo, directa ou indirectamente, o detentor do Poder, e do Poder têm partido as violências que ferem.

Sr. Presidente: eu não levantei a voz na reunião do meu Partido para defender uma activa colaboração com o Sr. Afonso Costa mas de acordo com o meu Partido, estava disposto a prestar a S. Exa. aquele concurso que republicanos amando o seu país podem prestar a outros republicanos, sem desdouro, estava disposto a prestar-lhe aquela colaboração que as oposições bem intencionadas podem prestar a um Govêrno.

Pode alguém compreender que o Sr. Afonso Costa, se sinceramente estivesse disposto a formar Govêrno viesse aqui pôr como condição essencial, que um partido que para isso não fora consultado não só com elo colaborasse numa obra que desconhecia, como até lhe dêsse os colaboradores que S. Exa. escolhesse?

Eu estive em S. Tomé, onde o trabalho nas fazendas é feito por serviçais contratados, pobres criaturas, cuja missão única é obedecer ás ordens do patrão grande ou do feitor que o representa.

O Partido Nacionalista não está contratado para servir na roça do Sr. Afonso Costa.

Apoiados.

E tanta razão S. Exa. teve para não constituir Govêrno, por virtude da recusa do Partido Nacionalista, como teria, por exemplo, qualquer outro indigitado Presidente do Ministério que exigisse a colaboração de qualquer dos Deputados monárquicos, e esta lhe fôsse recusada.

Tais pretextos não são próprios da inteligência do Sr. Afonso Costa.

Foi o Sr. Jaime de Sousa quem afirmou nesta Câmara que por culpa do Partido Nacionalista falhara a tentativa de um Govêrno organizado pelo Sr. Afonso Costa. Isto é uma injustiça.