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Sessão de 11 de Julho de 1924 17

capadas ao Ministro das Finanças de então, achei a diferença de 124:710 contos, números redondos, de prejuízos, quando o agravamento sucessivo do câmbio deveria ter ocasionado lucros importantes.

Pois não só êstes não apareciam, como, em seu lugar, surgiam prejuízos avultadíssimos.

Logo que consegui ter a palavra, nos primeiros dias de Maio, chamei a atenção da Câmara e do Govêrno para o misterioso caso, reclamando que as contas detalhadas e claras fossem publicadas.

Disse-me, então, em resposta, o Sr. Álvaro de Castro, que as contas iam ser publicadas e que, quanto aos prejuízos apontados, havia que rectificar o balanço, entrando em linha de conta com as cambiais que àquela data de 31 de Dezembro de 1923 se encontravam em poder do Banco de Portugal.

Achei a observação justa, mas não tinha à mão os elementos precisos para, no mesmo momento, fazer a precisa rectificação.

Indo buscar êsses elementos ao relatório do Banco de Portugal, a minoria monárquica verificou existirem lá cêrca de 50:000 contos de cambiais no fim do ano, o que baixava a diferença estranhada d© 124 para cêrca de 74:000 contos.

Quere dizer, continuava a haver prejuízos ainda formidáveis, quando só lucros se justificariam, o que o meu ilustre amigo, Sr. Carvalho da Silva, verberou com veemência extraordinária.

Continuámos, portanto, nós dêste lado da Câmara, a reclamar luz, muita luz, luz plena, para que pudesse começar a ver-se claro nas contas do Estado, até então imersas em trevas densas.

O Sr. Álvaro de Castro prometendo sempre atender às instâncias cada vez mais apertadas da minoria monárquica, apoiada largamente pela sua imprensa tam insigne, o certo é que pretextava ora uma cousa ora outra para desculpar a demora na apresentação das contas.

Até que um dia, o Sr. Vitorino Guimarães, que até aí se mostrara surdo a tanta reclamação, acorda do seu torpor, e, em manifesto entendimento com o Presidente do Ministério de então, pede a êste que ponha tudo em pratos limpos, para acabar com a especulação que a minoria monárquica vinha fazendo.

E vai daí o Sr. Álvaro de Castro e saca da algibeira um papel com uns números, que S. Exa. leu entre a gritaria da maioria, afrontada com os manejos da alta finança, dizendo que aquilo era um resumo, que a conta definitiva e completa breve seria publicada no Diário do Govêrno, mas que mesmo assim resumido bastava a sufocar os protestos da oposição monárquica.

Não conseguimos que nos fossem facultados os números para os examinarmos, nem sequer a mim me foi lícito, por violência da Presidência, usar da palavra para explicações.

Mas, no dia seguinte, vinha publicada, uniformemente, em todos os jornais, a tal perlenga em algarismos do Sr. Álvaro de Castro.

Imediatamente vim a esta casa do Parlamento e afirmei que êsses números estavam errados.

Era assim que no mapa, que se dizia representativo do movimento das cambiais desde 26 de Julho de 1922, aparecia, sob letra B, uma operação em que só achavam 715:000 contos, pela adição de quatro parcelas, duas das quais de 517:000 contos, cada uma!

Uma destas parcelas era dada como o valor das cambiais gastas pelo Estado na compra de trigos e arroz, isto é, era uma parcela que absorvia quási o valor total das cambiais adquiridas pelo Estado, quando o Sr. Presidente do Ministério dissera na sua exposição que «só uma parte muito reduzida» tivera êsse emprego.

Perante esta evidência, o Sr. Álvaro de Castro, só encontrou uma saída na afirmação de que os seus números estavam certos, e que o engano devia ter sido na cópia feita pelos jornais, mas que ia providenciar e que os números exactos nos seriam fornecidos.

Meteu-se depois muita cousa de permeio: o conflito dos correios, o da aviação, a crise ministerial, etc.

E, entretanto, tanto tempo decorrido e não só a conta detalhada, minuciosa, não apareceu, como nem sequer me foi facultado ver, a mim que sou representante da Nação o que em nome dela reclamava, a cópia autêntica, senão o original, do papel lido à Câmara pelo -Sr. Álvaro de Castro, em desagravo das atoardas