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Sessão de 11 de Julho de 1924 21

O Sr. Vicente Ferreira: — Sr. Presidente: por um grato dever de cortezia começo por dirigir os meus cumprimentos ao Govêrno, fazendo votos para que a sua carreira seja o mais brilhante possível e desminta inteiramente os maus prognósticos que vários videntes lhe têm feito.

Envolvo nesta saudação o próprio Sr. Presidente do Ministério, com quem já tercei armas em renhida pugna, a propósito de qualquer assunto que não vem para o caso, pois entendo que os deveres de cortezia devem sobrepor-se aos pequenos ressentimentos de lutas passadas, quando essas lutas são travadas leal e sinceramente.

Tenho muito prazer em fazer justiça às qualidades do Sr. Rodrigues Gaspar, que é um homem de inteligência e activo quando quer, podendo, portanto, ser um bom orientador da política nacional... se para isso lhe derem tempo...

O Sr. Jorge Nunes (aparte) — E verga!...

O Orador: — ... e apoio, do que duvido muito.

Fazem parte do Ministério algumas pessoas às quais mo ligam laços de grande amizade, e a êsses meus ilustres amigos, muito especialmente, envio os meus cumprimentos.

Sr. Presidente: tinha feito propósito de não mais tomar parte nos debates desta Câmara; de não mais colaborarem actos de administração pública, e do não prestar ao país outros serviços além daqueles que estão propriamente incluídos no campo obscuro da minha actividade profissional. Todavia, vejo-me forçado não só a abandonar êsse propósito, mas, o que, partindo de mim, pode parecer mais extraordinário, vou entrar no debate político.

Tinha-me colocado voluntariamente nesta situação de abstencionismo ou indiferença, por ter reconhecido que a República é considerada como propriedade de um grupo de homens, ao qual não tenho a honra de pertencer, o por ter verificado que os meus serviços, modestos mas desinteressados, eram repelidos, ora com chufas e vaias, ora como se eu fôsse um vulgar e insignificante ambicioso.

Convenci-me que perante êsse grupo de homens que se assenhorearam da República eu não merecia sequer a honra de ser considerado republicano; e todavia tenho o direito de afirmar que, antes de muitos dêles levantarem a voz pela primeira vez para apregoarem urbi et orbi o seu intransigente republicanismo, eu era já republicano há muito tempo.

Mas a antiguidade pouco importa, porque na verdade pouco significa, e quanto à sinceridade de convicções, parece que também de nada serve na opinião dêsses tais republicanos, que não na minha. O que importa é estar ao lado deles; por que só assim sé é «bom republicano».

Sr. Presidente: obrigam-me a sair desta abstenção, em que propositadamente me havia colocado, certos factos recentes que provocam o meu protesto e a que sucintamente me vou referir.

Pela terceira vez, se não estou em êrro, e a propósito da última crise ministerial, a vida política da Nação esteve suspensa por mais de oito dias à espera que o Sr. Dr. Afonso Costa, que voluntariamente se conserva em Paris, se dignasse responder à consulta do Chefe do Estado sôbre se vinha ou não formar Govêrno.

S. Exa., com pretextos e evocando razões que não chego a compreender, mais uma vez se negou a aceitar o encargo, que por indicação dos seus amigos o Chefe do Estado pretendia confiar-lhe.

É a repetição da scena já conhecida de outras crises, e que teimosamente se reproduz em cada nova crise. E aqui temos estado nós, sois milhões de servos, à espera que S. Exa. se digne responder, depois do longa demora, se vem ou não.

Na minha qualidade do cidadão português e do republicano, protesto contra êste facto.

Apoiados.

S. Exa. se quer orientar os destinos da Nação, venha ocupar o seu lugar nesta casa.

É aqui e não em Paris que S. Exa. tem de estar se, como cidadão português o como político, deseja intervir na vida do Estado.

Acho bem que os seus incondicionais adoradores ou simples admiradores, o considerem o «Único» e se curvem reverentes diante de S. Exa. ou lhe façam os, salamaleques que melhor traduzam a sua