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20 Diário da Câmara dos Deputados

Era uma vez um homem que tinha a mania das coincidências. Para êle tudo era coincidência: o sol que nascia todos os dias, as estrelas que brilhavam todas as noites, o vento norte que soprava sempre do mesmo lado, o meio dia que calhava sempre às 12 horas, etc.!

Pois eu estando há dias sentado no meu fauteuil entregue às minhas locubrações lembrei-me do homem das coincidências e, para entreter um pouco o meti espírito, procurei também descobri-las.

Passava-se isto, precisamente, na ocasião em que e Sr. secretário fazia uma daquelas suas chamadas pausadas, sonoras, arrastadas, lançando vagamente o olhar pelo hemiciclo para ver se descobria o nomeado, mesmo quando êste era o Sr. Afonso Costa.

A certa altura ouvi chamar compasadamente o Sr. Alberto Xavier, pouco depois proferiu o nome do Sr. Rodrigues Gaspar e logo a seguir o do Sr. Álvaro de Castro!

— Eureka! Achei! Exclamei entusiasmado: cá está uma coincidência: o Sr. Rodrigues Gaspar todo «afiambrado» entalado em sandwich entre os Srs. Alberto Xavier e Álvaro de Castro!

Risos.

Mas outras coincidências encontrei mais. Como a maioria passou ao Govêrno um cheque... à vista ou a curto prazo, encontramos na pasta das Finanças o director de uma casa de crédito do Estado.

E, como era preciso manter para o Ministério do Trabalho a tradição do descanso, eterno foram buscar à Morgue o Ministro respectivo!

Mas há também paradoxos.

O Sr. Bulhão Pato, Ministro das Colónias, como a maioria lhe cortara os vôos, arvoro use em moço de forcado e foi para o Rebate aconselhar que se pegue a reacção à unha!

Risos

Não finalizarei êste preâmbulo sem referir a mais estranha de todas as coincidências:

Como aquele Ministro usa o nome ilustre que escreveu a Paquita e Sob os ciprestes, o Sr. Álvaro de Castro, administrador da falência do Estado, julgando-se no cemitério, veio fazer o elogio à beira da sua própria campa!

Acertadamente se lembrou o Sr. Álvaro de Castro de que, depois de mortos, todos passam a ser muito boas pessoas, e não deixando os seus créditos por mãos, alheias, ocupou uma sessão fazendo a sua auto-biografia política, falando só de si e da sua desgraçadíssima obra, nem se referindo sequer aos seus colegas de gabinete, como lhe impunham até os elementares deveres de solidariedade, deixando os assim em desastrada situação.

Já os meus ilustres amigos se referiram brilhantemente às assombrosas afirmações e à espantosa obra financeira do Sr. Álvaro de Castro.

Seria, da minha parte, uma heresia pretender dizer mais e melhor de que o que disseram os meus colegas da minoria monárquica.

Acresce que o valor do que o Sr. Álvaro de Castro fez e o que disse se desfise-ram com um sopro!

Basta atender ao estado da circulação fiduciária e ao câmbio quando o Sr. Castro entrou e quando saiu.

Aquela, em 31 de Dezembro, isto é, quinze dias depois da sua subida ao Poder, estava em 1.419:912,184$00, e em 24 de Junho ficou em 1.580:680.027$50, tendo aumentado, portanto, nos seis meses da sua gerência, 160:767.839$00.

Desafio quem quer quer que seja a provar-me que todo êste aumento respeitou à circulação privativa do Banco.

Nem mais uma nota! Nem mais uma nota exclamou repetidas vezes o Sr. Álvaro de Castro.

E, afinal, aí estão os números a desmascará-lo!

Quanto ao câmbio, que é bem o reflexo da confiança pública e da situação económica e financeira do país, a realidade ainda é mais flagrante.

Em 31 de Dezembro estava êle a 125$90. Em 25 de Junho, ante-véspera do «falecimento» do Sr. Álvaro de Castro, ficou a 153$50, tendo dias antes sido mais elevado.

Quer-se demonstração mais completa da desastrada falência do Govêrno transacto, cuja política o actual pretende seguir?

O país não vê isto?

O país não acorda?

Aumentaram a circulação fiduciária, agravaram o câmbio, acabaram de arruinar o crédito interno e externo do Estado,