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Sessão de 16 de Julho de 1924 15

Pois bem, o Sr. Rodrigues Gaspar, pessoa que todos nós prezamos, diga do nosso maior respeito porque é um republicano que nunca foi sequer manchado, que dali das bancadas da oposição protestou contra o procedimento de certos aventureiros que desertavam do seu pôsto, que o abandonavam, procurando depois o Sanatório do Londres para curar doenças físicas ou morais, o Sr. Rodrigues Gaspar o homem da oposição que pela clareza da sua linguagem subiu muito alto na nossa consideração por só ter desprendido de considerações de ordem partidária, o Sr. Rodrigues Gaspar é o mesmo homem que' deixa tomar posse em Londres ao Sr. Norton de Matos.

Eu estranhei isto e digo-o com toda a franqueza, com muito mágoa, com muita pena.

S. Exa. é digno de todo o respeito, mas é preciso que não falte ao respeito que a si próprio deve.

Eu tenho o direito e julgo até o dever de estranhar que S. Exa. esteja em contradição com o seu procedimento de Deputado com respeito à questão Norton de Matos.

Eu acho que esta questão é de raciocínio e de sensibilidade, eu deixo ao raciocínio e à sensibilidade da Câmara resolverem a questão.

O Sr. Rodrigues Gaspar sentiu uns rebates de consciência, e, referindo-se ao Sr. Ministro do Trabalho, disse que não havia que estranhar que fôsse buscar êsse Ministro à Morgue, pois havia mortos vivos.

Êsse morto vivo deve referir-se ao Sr. general Norton de Matos.

O Sr. Rodrigues Gaspar fez umas referências ao radicalismo do Sr. Daniel Rodrigues e eu direi que ainda há pouco S. Exa. deu as provais do seu radicalismo numa produção poética.

O Sr. Ministro das Colónias patenteou bem o seu radicalismo, dizendo, quando se referia à reacção: «à unha, vamos a êles, à unha».

É também com essas palavras que eu quero terminar as minhas considerações.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente do Ministério, Ministro do Interior e interino da Agricultura (Rodrigues Gaspar): — Mais uma vez vou tentar esclarecer o espírito do Sr. Cunha Leal.

Direi, quanto à questão Norton de Matos, que não houve contradição alguma da minha parte, pois não fui eu quem deu a exoneração ao Sr. Norton de Matos, já a encontrei concedida.

Também não fui eu quem o nomeou Embaixador em Londres.

O Sr. Cunha Leal referiu-se ao radicalismo de pessoas que estão no Govêrno.

Eu direi que pertenço a um Partido que no seu Congresso tomou uma directiva com a qual concordei, porque dele não saí.

Mas a verdade é que se todos os partidos têm o seu programa, os seus ideais, a realização completa dêsse programa está subordinada a condições políticas, a condições económicas e a condições sociais.

Diz-se que a hora é das esquerdas.

Apoiados.

Eu permito-me acrescentar que se a hora é a das esquerdas para melhorar quanto possível, em harmonia com as reivindicações sociais, a justiça, dentro da sociedade, também a hora é das direitas, que, para defesa dos seus próprios interêsses, tem de ajudar, e não opôr-se, à realização das ideas de justiça social.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Carvalho da Silva: — Sr. Presidente: se alguma dúvida houvesse de que dentro do actual regime é absolutamente impossível resolver o problema nacional, bastaria ter-se assistido a êste debate político e à resposta do Sr. Presidente do Ministério para que isso ficasse provado.

Procura o Sr. Presidente do Ministério fugir quanto possível às imposições que lhe são feitas para seguir uma política acentuadamente esquerdista, uma política incompatível absolutamente com aquela confiança que é condição fundamental para que êste país possa melhorar a sua situação.

Mas se é certo que pelas palavras do Sr. Presidente do Ministério isto se deve concluir, não é menos certo que a maneira dúbia como S. Exa. se dirigiu a todos os assuntos demonstra que está verdadeiramente amarrado às imposições que lhe