O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

14 Diário da Câmara dos Deputados

parece que me não vai muito mal, o devo ao meu mestre em humorismo, Sr. Rodrigues Gaspar.

O Sr. Rodrigues Gaspar referiu-se à minha lógica em termos um pouco depreciativos.

Se bem entendi, declarou S. Exa. que a minha lógica, tendo passado por compartimentos de várias cores, até passou por compartimento azul e branco.

Deve haver um ligeiro engano nesta afirmação de S. Exa.

Não tenho, nem ao menos uma vaga idea de ter contacto com êsse péssimo raciocínio azul e branco.

Isso é com certeza alusão engraçada para outro.

O Sr. Presidente do Ministério, Ministro do Interior e, interino, da Agricultura (Rodrigues Gaspar): — V. Exa. dá-me licença?

Eu não quis dizer isso a V. Exa.

O que eu disse foi que conhecia a lógica com diferentes cores: amarela, encarnada e até azul e branca.

O Orador: - Lá me queria parecer que a alusão não podia ser para mim e antes podia ser para muitos dos correligionários de S. Exa.

O Sr. João Luís Ricardo: — Cá e lá más fadas há.

O Orador: — Sr. Presidente: entrando agora no número das cousas sérias e tratando-as como elas merecem, sem comparações esquisitas, sem evocação de maquinismos complicados, devo referir-me à resposta que S. Exa. deu às minhas considerações acerca do Sr. Norton de Matos e da sua situação.

O Sr. Rodrigues Gaspar teve nesta Câmara afirmações que hoje o contradizem absolutamente.

S. Exa. era ontem da minha opinião a propósito do Sr. Norton de Matos, teve palavras sibilinas sôbre aventureiros e não houve ninguém, correligionário ou não do S. Exa., que tivesse saído desta sala e não entendesse que a carapuça se enfiava evidentemente na cabeça que tinha sido chamada à discussão.

De resto, o Sr. Norton de Matos, de qualquer forma, pelo seu procedimento,
a essa hora estava confirmando as afirmações aqui feitas pelo Sr. Rodrigues Gaspar.

Ao mesmo tempo, não é hoje segredo para ninguém, que essa alta figura moral do Sr. Domingos Pereira procurou desmentir a afirmação frita em público de que o Sr. Norton de Matos não tinha solicitado o lugar de embaixador em Londres, quando a verdade é que o tinha solicitado.

Ao mesmo tempo que esta extranheza se produzia dentro da Câmara, o Sr. Norton de Matos mandava para Angola um telegrama em que procurava justificar a sua saída da província com um convite do Govêrno para embaixador em Londres.

A êsse telegrama respondeu a Associação Comercial de Benguela acusando o Sr. Norton de Matos de abandonar a província depois de a ter colocado, pelos seus erros, nos mais graves embaraços.

Respondeu a Associação Comercial nos termos pouco mais ou menos que poderiam ser inspirados pelo discurso que o Sr. Rodrigues Gaspar aqui proferiu.

Mas, ao mesmo tempo, e antes de o Sr. Norton de Matos apresentar as suas credenciais em Londres, iam chegando ao Ministério das Colónias comunicações suspeitas.

Já eu aqui afirmei que não tinham sido pagas as últimas letras relativas ao crédito de três milhões de libras na parte utilizada por Angola; que, ultimamente, duas letras, da importância de sete mil libras cada, foram apresentadas a protesto e protestadas por não serem pagas, tendo sido presentes ao Ministério das Colónias, creio que pela casa Fonseca, Santos & Viana; depois dessa data também a casa Burnay & C.ª fez sentir que lhe eram devidas duzentas e dez mil libras.

Sabem todos que mais libras são devidas; sabem todos que o Sr. Norton de Matos pediu um adiantamento à Companhia dos Diamantes para o efeito de liquidar responsabilidades imediatas, devendo êsse adiantamento ser encontrado em futuras operações.

Todos êstes casos devem ser conhecidos no Ministério das Colónias, tem obrigação de ser conhecidos pelo Sr. Rodrigues Gaspar, e se o não são mal vai aos serviços, do Ministério.