O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

20 Diário da Câmara aos Deputados

soas reconsideraram o voltaram novamente aqui para discutir, sem mais partirem carteiras.

Sou eu o energúmeno! Mas êles é que tomavam atitudes que no dia seguinte punham de parte.

Ninguém podia governar mais com o Parlamento. As minorias haviam tomado conta da Câmara, Negócios urgentes sôbre negócios urgentes, procurando assim esmagar o Poder Executivo.

Mas um certo dia aparece aqui um Ministro que se impôs para que entrasse imediatamente em discussão a proposta sôbre o fundo de maneio, e a Câmara, calculando os propósitos da minoria, acabou por votar consoante os desejos do Ministro.

Mas eu é que sou o energúmeno e êles as pessoas superiores e inteligentes!

Depois disso, a propósito de uma frase que eu proferi - e repetirei quantas vazes forem precisas, porque cada dia estou mais convencido de que proferi as palavras convenientes e precisas - procurou-se e conseguiu-se derrubar e meu Govêrno.

Constitui-se o Ministério do Sr. Vitorino Guimarães e quando tudo indicava que lhe fosse feito pelas oposições um combate sem tréguas, combate prometido desde que o novo Govêrno aceitasse o defendesse a política do Gabinete transacto, eis que as oposições abandonam os trabalhos parlamentares, batendo em retirada.

Mas eu é que sou o energúmeno e êles as pessoas inteligentes!

Êste ligeiro raciocínio que eu quis pôr perante a Câmara vem como resposta àqueles que têm facilidade em proferir palavras violentas e para lhes dizer que não é a injúria a melhor forma de convencer.

Eu li algures - não me lembro já onde - que a injúria é a eloquência de quem não tem eloquência, o talento do quem não tem talento.

Eu não costumo pronunciar palavras violentas, mas costumo afirmar sempre com decisão, energia e segurança os meus pontos de vista. Não quero ofender ninguém. Quando quiser ofender sei fazê-lo directamente, tomando as respectivas responsabilidades.

Não quero, porém, que me tirem o direito de fazer as afirmações políticas que eu entenda dever fazer, visto que é para isso que ou sou político e ocupo êste lugar.

Há pouco, notei uma estranha agitação em volta de umas palavras por mim proferidas. Não havia razão para tal.

As palavras que pronunciei reproduziram uma verdade, verdade histórica que há-de ter oportunamente a sua confirmação.

Eu caí porquê?

O meu Govêrno caiu porquê?

Logo no primeiro dia em que se iniciou õ debate que derrubou o Governo transacto, eu preguntei: mas, afinal, de que me acusam?

Era legítima a pregunta.

Responderam-me: o senhor tem de cair porque afirmou no Terreiro do Paço que na lata entre explorados o exploradores o Govêrno estava ao lado dos explorados, e que a fôrça pública não servia para espingardear o povo. O senhor provocou a luta da classes.

Mas eu progunto: não há na nossa terra uma luta do classes de exploradores contra explorados?

Se não há, temos que o anunciar ao mundo inteiro para que todos saibam quê somos um País privilegiado.

Creio, porém, que, desde que existem homens sôbre a terra sempre tem existido a luta dos que oprimem com os oprimidos.

Luta entre os que oprimem e os que são oprimidos! Mas isso é das mais remotas origens da história. Pois quê!? Não vemos nós, nas mais distantes lutas de classes, a luta entre escravos e senhores?

Não vemos nós depois, na própria Roma, a luta entre a plebe e os patrícios?

E não vemos que o fundo dessa luta se resumia afinal nesta cousa simples?: explorados a um lado, exploradores a outro.

Apoiados.

Depois, pela Idade Média fora, não vemos nós a mesma luta?

Que é toda essa luta da Idade Média entre senhores feudais e servos da gleba, senão uma luta entre explorados e exploradores?!

Que vemos nós na revolução francesa, senão ara eco triunfante das classes que tinham vivido oprimidas até então?