O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

22 Diário da Câmara dos Deputados

se afirmou, mas em número muito superior:

"Não queremos nenhum Govêrno que esteja ao lado dos exploradores. Não queremos nenhum Govêrno que se sirva da fôrça pública para espingardear o povo".

Isto quizeram êles afirmar nessa manifestação.

Mas eu estou no meu direito de preguntar: porque me derrubaram então?

Apoiados.

Não tinham outro meio de derrubar o Govêrno, não tinham competência para demonstrar que as medidas que êsse Govêrno havia trazido ao Parlamento não eram as melhores, as mais necessárias para a salvação da Pátria e da República?

Então tenho de dizer perante o País, porque tenho que defender-me, que me derrubaram perante uma habilidade de momento, porque não tinham fôrça para me derrubar perante a obra que tinha a realizar.

Apoiados.

Sr. Presidente: quero fazer justiça a todos.

Não está aqui ninguém que seja capaz de defender a doutrina de que os Governos hão de estar ao lado dos exploradores contra os explorados.

Não está aqui ninguém que seja capaz de defender a tese de que a fôrça sirva para espingardear o povo.

Mas tenho então de afirmar que o Govêrno caiu perante um cilada adrede preparada, servindo reservados intuitos, e não os interêsses da República.

É preciso contar com os homens, com a sua inteligência, e não supor que é fácil derrubá-los ao primeiro pretexto que apareça, supondo que êles são estátuas inertes, incapazes de demonstrar e afirmar depois perante o País a injustiça de que foram vítimas.

Apoiados.

Não supunham êsses homens que é fácil sufocar as palavras de um homem que tudo vem sacrificando para prestigiar a República.

Tenho vindo pela vida fora espalhando ideas, e hoje, mais do que nunca, sinto-me com uma fôrça, com uma vontade enorme de as realizar.

Essa é a fôrça que me há de levar às cadeiras do Poder.

Estou ao lado do Sr. Vitorino Guimarães porque S. Exa. pretende realizar o meu programa.

Faço-lhe essa justiça, porque sei que S. Exa. não é capaz de estar agarrado às cadeiras do Poder, que não solicitou, senão pela verdade das suas palavras.

Mas, pregunto eu, a que vem tudo isto?!

É que as moções que aparecem na Mesa, depois de o meu Govêrno ter caído, são ainda moções de desconfiança ao Govêrno que passou!

Isto é inédito na vida política portuguesa.

Mas estas moções não me aquecem nem me arrefecem, porque sou uma pessoa que está na disposição de continuar ainda através da guerra mais desenfreada a vida política dentro da República, e tendo feito uma experiência inútil com êste Parlamento, julgo absolutamente improfícuo tentar segunda vez.

Assim, não voltarei a ser Govêrno com êste Parlamento.

De forma que V. Exas. podem estar tranquilos.

Podem votar nova moção de desconfiança, que não me perturbam; podem votar nova moção de confiança, que não me entusiasmam.

Perante êste Parlamento, continuarei a pôr, se me fôr possível, os meus pontos de vista com a mesma e absoluta intransigência que tendo tido até aqui.

Não tenho nenhuma espécie de intransigência com os homens, mas tenho-a, absoluta, perante os meus princípios.

Sr. Presidente: porque tive essa intransigência, porque não quis explicar nada além daquilo que estava no meu pensamento, porque não quis ceder um passo no caminho que tinha traçado, porque não quis transigir um ápice na senda que havia marcado, caí.

Agora que caí, não me importa absolutamente nada com as opiniões de quem quer que seja.

Continuarei o meu caminho, dizendo a verdade, afirmando aquelas verdades republicanas que já a tantos parece terem esquecido, ainda mesmo àqueles que do tempo da propaganda vêm.