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Sessão de 19 de Fevereiro de 1925 21

Não vemos nós que nessa luta o primeiro gesto do povo foi ir queimar a Bastilha, fortaleza até onde então eram encerrados os oprimidos?

Não vemos, depois, na Rússia, essa luta cruenta e sangrenta entre aqueles que tudo possuíam e os que nada tinham, entre os que tudo podiam e os que apenas tinham a liberdade de ir para a Sibéria, apenas porque tinham ideas que proclamavam?

Que é êsse conflito permanente senão a luta entre explorados e exploradores?

Mas, se em Portugal não há; explorados nem exploradores, ah!, somos um País feliz, então!

Vamos apregoar isso em todos os Jornais, para que os estrangeiros venham todos para aqui.

Não procuremos, porém, iludir-nos: em Portugal, como em toda a parte, há uma luta secular entre explorados e exploradores, que não acabará tam cedo.

Apoiados.

Há homens que, fazem fortunas em seis meses, emquanto outros passam a vida inteira a trabalhar, para irem morrer no catre dum hospital.

Há homens que andam pelas ruas, quási sem saberem ler o escrever, enxovalhando-nos com a lama dos seus automóveis e ofuscando-nos com o luxo das suas amantes, emquanto há outros que vivem sem ter que dar de comer aos seus filhas.

Não é isto uma verdade!?

E então o Governo de uma democracia não pode afirmar que estará ao lado dos explorados contra os exploradores!?

Apoiados.

Então porque, me acusaram!?

Cada um assume a responsabilidade das suas palavras e dos seus actos; eu assumo-a também, porque amanhã como sempre, eu, afirmarei que estou ao lado dos explorados contra os exploradores:

Apoiados.

Sr. Presidente: há muita gente ofendida porque eu disse no Terreiro do Paço, em seguida a uma desordem que lá houve, provocada não sei por quem, que a força pública não servia para espingardear o povo.

E diz-se agora: a frase é justa, o momento é que não foi oportuno para a dizer.

Eu digo desde já: diz-se agora, mas não se disse isso desde a primeira hora.

Apoiados.

Quem levantou esta questão nesta Câmara foi o Sr. coronel David Rodrigues, e eu ainda tenho nos meus ouvidos as palavras que lhe ouvi:

"Se fosse o comandante da fôrça atacada à bomba teria mandado à minha força que fizesse fogo ao centro do alvo, para poupar munições".

Como Chefe do Govêrno e como republicano, teria de repelir essa afirmação, que é uma afronta aos sentimentos republicanos.

Apoiados.

Sr. Presidente: assim, como Presidente do Ministério, afirmei que o Govêrno tinha opinião diversa da que foi afirmada pelo Deputado interpelante e secundado por muitos Deputados.

Derrubaram-me?

Que importa?

Voltarei ao Govêrno, não por favor de V. Exa., mas pelo favor do povo.

Apoiados.

O Govêrno estava no intuito sincero de realizar uma obra republicana.

Nunca procurei fazer valer os meus pergaminhos republicanos.

Quando ouço afirmar em todos os tons que se é republicano a propósito dos mínimos incidentes, lembro-me logo da situação dos homens da minha terra, que, por vezes, ao atravessarem os pinhais, sentindo medo dos ladrões ou de qualquer fantasma, vão por entre os pinhais gritando:

"Eu não tenho medo. Eu não tenho medo!"

Os homens que, a propósito de tudo, gritam o seu republicanismo, fazem-no para desviar atenções; o acto que estão praticando não é próprio de republicanos.

Sr. Presidente; as palavras que proferi deram motivo a uma votação contrária ao Ministério a que presidia.

Foram, porém, tomadas depois como bandeira pela população de Lisboa, não em número de 10.000, como falsamente