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26 Diário da Câmara dos Deputados

contida no meu contra-projecto, isto é, que seria o próprio Estado que financiaria, por intermédio da Caixa Geral de Depósitos, todas as operações da vida industrial.

Diz-se que não é possível trabalhar assim em Portugal.

Com os mesmos argumentos ou posso asseverar que é possível.

Eu, que tenho um conhecimento relativamente considerável do operariado português, eu, que estive sempre em contacto com o nosso operariado o até com os trabalhadores portugueses, desde o tempo da Monarquia, exactamente para poder possuir uma melhor objectiva de fiscalizar as suas qualidades, eu, que tenho visto trabalhar o nosso operariado, eu, que tenho um conjunto de observações que não tenho valor scientífico têm, no emtanto, valor de determinação para mim, posso afirmar que os operários portugueses estilo em condições de realizar desde já a democracia industrial, sobretudo nos termos em que ela está preconizada nas bases do contra-projecto que tive a honra do mandar para a Mesa.

Êsse contra-projecto foi organizado de acordo com os conhecimentos anteriores do seu autor, os quais, se não são muitos, são, no emtanto, especializados na matéria.

Na base 1.ª do meu contra-projecto verifica-se que a divisão do trabalho estabelecida entre os três factores da exploração não é arbitrária nem fantástica. O Estado tom como atribuição nesse tipo de organização industrial o contabilizar a exploração;

E o Estado, que se tem mostrado em toda a parte um mau patrão, mostra-se em toda a parte um bom contabilista.

É da história da boa contabilidade que ela nasceu pública e que, ao contrário da indústria, foi do Estado para o particular.

O Estado tem mostrado em todos os países que é susceptível de ser um bom contabilista.

E assim, Sr. Presidente, evitar-se-ia a confusão dos funcionários do Estado sem funções definidas, os comissariados por delegados por parte do Govêrno junto das companhias, que custam muito mais caros do que, amanha, os contabilistas, que podem até ser pagos pela própria administração.

E, portanto, muito mais barato o eficaz o sistema que eu preconizo, porque se que pode um homem fiscalizar se não tiver a contabilidade, que é o registo diário dos actos da vida de uma empresa?

Pela contabilidade tem-se a maneira de saber como tudo se fez; e não a tendo, por muito honesto que seja, por muito que abra os olhos, não o pode sabor.

E, portanto, é muito mais moral êste sistema que eu defendo.

E, assim, Sr. Presidente, libertar-se-ia a República desta onda de suspeições que sôbre ela passa, por a verem misturada com uma indústria que vive à custa dos favores do Estado e à custa da exploração do povo.

E qual é a função que está depois destinada aos operários? O que vão fazer os conselhos de operários?

Vão intervir na vida administrativa dessas emprêsas.

Todos os operários tom de ser ouvidos obrigatoriamente no estabelecimento de todas as condições da vida industrial, condições de higiene, etc.

E reparem V. Exas. que eu fui tam cauteloso que lhes não dei, como a Inglaterra, a Alemanha e a América, o direito de fixarem os próprios salários.

Dou-lhes apenas o direito, enquanto não se exercitarem, para assim se elevarem, de serem consultados no estabelecimento de todas as condições que possam influir na vida industrial.

Dou-lhes ainda o direito de procurarem realizar as chamadas obras do bem-estar social, como caixas do socorro, cozinhas, emfim, todo o conjunto de condições necessárias do bem-estar do operariado.

Em que é que o ensinamento dêsse sistema, dêstes processos, pode pôr em risco o êxito económico, a segurança da exploração, quando já hoje os operários se sentam junto de nós na administração de organismos, como lactários, associações, juntas de paróquia, etc.?

Então êles não são capazes também de administrar as escolas e as cantinas que lhes cabem nas fábricas?

Se nós formos a aprovar a proposta do Sr. Ministro das Finanças actual ou do Sr. Ministro das Finanças anterior, vamos fazer uma obra contraditória com as tendências da evolução da indústria no