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28 Diário da Câmara dos Deputados

Eu é que tenho autoridade para me referir à administração dos Transportes Marítimos do Estado, porque protestei a tempo.

V. Exa., tinha voz no Parlamento, é que devia ter increpado o sidonismo por ter tirado do lá o Sr. Portugal Durão.

Portanto, V. Exa. é tam responsável como os outros.

E já não quero invocar responsabilidades, porque alguns dos responsáveis nos Transportes Marítimos são monárquicos.

Essa cantiga dos Transportes Marítimos, quando os responsáveis são quási todos monárquicos, é como a questão das fôrças vivas.

Foram estas que fizeram a pletora do funcionalismo pela nomeação do funcionários para o Ministério da Agricultura.

Em Portugal existem serviços públicos em condições superiores às de outros congéneres.

Refiro-me à Caixa Geral do Depósitos que, tendo uma despesa superior ao Banco do Portugal, tem também um rendimento superior. Mas não só a Caixa Geral do Depósitos é um estabelecimento do Estado, que traz para êste uma receita de 18:000 contos; outros serviços públicos existem também, administrados por portugueses, e que em todo o estrangeiro são tidos como modelares, como, por exemplo, os serviços florestais.

E então, se eu tenho em Portugal desta gente e dêstes serviços públicos, ou posso argumentar com êsses factos em favor do estabelecimento da régie, com a mesma autoridade com que outras pessoas argumentam contra os Transportes Marítimos do Estado.

De tudo isto eu concluo, e concluo com justiça., que devemos pôr em prática o sistema da democracia industrial, o que, sobretudo num país onde os capitalistas não têm tido cultura adaptável à valorização das riquezas, num país em que as suas matérias, se fossem transformadas aqui mesmo, nos permitiriam conquistar os mercados, num país em que a sua cortiça, as suas conservas, os seus mármores e as suas magníficas quedas do água não podem ser aproveitados pelos capitalistas habituados ao vício da usura, que não sabem senão emprestar para obter uma remuneração excessiva, num país em que existe um déficit financeiro que é apenas a repercussão do um déficit de produção, num país dêstes é ao Estado que compete quebrar o círculo vicioso em que vive para se organizar scientificamente de maneira a criar fôrças novas susceptíveis do fazer a transformação da vida económica portuguesa.

É por isso que, para os políticos da República, a libertação que se lhos proporcionou dos serviços dos fósforos o dos tabacos é alguma cousa de grave.

Pela minha parte procurarei chamá-los à realidade e ao convencimento de que não pode ser perdida esta oportunidade em que se podem transformar os organismos de acção económica em organismos educativos.

Alonguei demais as minhas considerações, em contrário do meu propósito, e por isso vou terminar; mas antes disso quero dizer à Câmara que ainda é tempo de evitar o que se vai fazer.

Os homens que admitem a associação do Estado com o capital, intensificando essa confusão de valores o actividades é que criou o estado moral em que nos encontramos; os homens que pretendem reincidir na prática do vício monárquico do comissário régio, ainda estão a tempo de evitar que esta oportunidade seja perdida e que nós continuemos a ser dentro da República escravos subservientes da monarquia morta.

Não; êsses são os fantásticos soldados que, nas horas do luta e de combate, deixaram abandonada essa criança que era o seu rei, e que hoje por aí fingem sentir dêle amarguradas saudados.

Não, Sr. Presidente, êsses cavalheiros são os que, a propósito das cartas do Sr. João Franco, só tem exibido por diversas formas e maneiras.

E necessário hoje que se aceito a colaboração das classes, sob a forma de democracia social, dando aos homens que são operários o direito de terem uma consciência como tem os homens que o não são, dando-lhes, emfim, o direito do ser gente, de verem reguladas as suas condições do trabalho, influindo assim na duração da sua própria vida.

E contra a não realização disto que eu protesto, em nome dos princípios republicanos, em nome do sangue derramado para fazer vingar êsses princípios, e,