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Sessão de 6 de Abril de 1925 25

ções diferentes, como por exemplo um antigo oficial miliciano, e admirei-me de os ver trabalhar a todos com desembaraço, com o ritmo da velocidade, e perguntando ao engenheiro director dessa oficina a sua opinião sôbre a mão de obra portuguesa, êle declarou-me que era a mais disciplinada, a mais sóbria do todas as nacionalidades que forneciam população para êsse contingente.

Uma voz: - Falta-lhes o capital, falta-lhes a cabeça.

O Orador: - Não sejamos taro. pessimistas em relação à apreciação dos portuguezes, como eu vejo serem certos Srs. Deputados.

O que Portugal não pode continuar a ser é uma organização industrial com a forma duma concentração capitalista, fazendo com que a administração não seja exercida pelos mais aptos, pelos mais capazes, mas pelos que se subordinam mais fàcilmente, tornando extensivo o caciquismo eleitoral à vida económica do País, como se verificou na assemblea do Banco de Portugal, em que, como declarou o Sr. Dr. Caeiro da Mata numa carta dirigida ao Século, para a direcção são nomeados não os mais hábeis mas os mais obedientes.

A nossa vida económica está entregue a uma espécie de campanário de interêsses parasitários, e é necessário implantar as regras da democracia industrial que dão cabimento a cada um na medida do seu valor, e põe o capital, o Estado e o operário em condições igualitárias, em que não se verifica a autocracia do capital sôbre o Estado e o operário, do Estado sôbre o capital e o operário, ou do operário sôbre o Estado e o capital.

E eu sou tam imparcial na defesa dêstes princípios puros, quanto é certo que para mim o mal não é a existência do capital, pois o capital apareceu sempre em todas as civilizações, é uma consequência, uma fatalidade da própria permanência da civilização. Eu não sou anti-capitalista, sou pela regulamentação das formas da aplicação do capital.

Àparte.

O Orador: - Eu não estou a citar teorias, cito factos.

Eu já citei as regras da democracia industrial que existem lá fora, que é contrária aos princípios fundamentais do próprio regime político em que vivem. Na libérrima América, na imperialista Alemanha, na Bélgica, na Suíça e outros países encontra-se êste desenvolvimento industrial.

Sr. Presidente: há muitos patrões que consideram o operário não como um homem, mas como uma criança grande que precisa quem o guie.

Contra essa doutrina protesto, porque é inteiramente falsa.

O operário português, que eu vi trabalhar em condições excepcionais em vários países do mundo, têm todas as virtudes do trabalhador italiano e não possui muitos dos seus defeitos; o operário português, se porventura tem por vezes uma atitude que muita gente imagina perturbadora, não é da sua responsabilidade, porque se encontra em condições tão odiosas que naturalmente tem de reagir, e quando reagir a responsabilidade não é dele é de quem não sabe organizar a indústria portuguesa, quem não tem capacidade para a dirigir, e o que nós vemos é que quem dirige a nossa indústria em geral, não está só à testa duma indústria mas sim ao mesmo tempo é membro do conselho de administração dum banco, duma companhia de navegação. Emfim, tem seis, sete ou oito lugares de administração, e não há hoje nenhum país civilizado que nos tome a sério, que saiba que um dos homens mais super-homens da nossa vida industrial, que é ao mesmo tempo membro de quatro emprêsas, quando só uma lhe dava trabalho bastante.

Deixem-se êsses que julgam que o operário é a eterna criança, que é incapaz de actuar; queixem-se êsses da situação não dos operários, mas de quem os dirige, porque eu vi na América do Norte quanto vale o operário português que trabalha sob a direcção de americanos.

E nós temos condições excepcionais para a realizar porque a Banca Portuguesa trabalhou de tal forma que afastou de si os depositantes, e hoje a nossa maior instituição é a Caixa Geral do Depósitos.

Por consequência, defendendo eu as minhas doutrinas, pura e simplesmente, defenderei também a fórmula que está