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Sessão de 11 de Dezembro de 1918 5

sando de tirânico, opressivo e afrontoso para o país e para todos nós, uma carta que recebi de um preso político, que se encontra no Penitenciária de Coimbra. Diz-se nessa carta:

«Fiado na sua amizade mais uma vez lhe escrevo.

Ainda me encontro preso sem haver uma única prova contra mim; sem liberdade de defesa; sem me ser consentido o direito que a lei me dá da investigação contraditória e sem deferirem o pedido de eu ser acareado com os meus acusadores, se acaso, os tenho.

São cinqùenta e oito dias de torturas e martírios que tenho passado, cinqùenta e oito dias cheios dos maiores vexames B das mais extraordinárias violências.

E, porque?

Quando um dia se fizer a história de tudo isto, há-de ver-se que fui eu o único que honradamente soube cumprir o seu dever; o único que não fugiu, que não se entregou, que não aderiu!

E foi talvez por isso mesmo que fui preso; porque, aqueles que fugiram, que se entregaram, que aderiram, êsses armaram em heróis e são os que hoje mandam, os que me têm encarcerado e que me roubaram o lugar.

Eu creio que a covardia é hoje uma virtude; porque êsses foram louvados, emquanto que eu fui o único que cumpriu o seu dever, me encontro preso.

Ao que me informam, o próprio governador civil foi da maior deslialdade para comigo, mas o que êle não poderá é negar as afirmativas que eu faço quanto à minha atitude.

Que falta aqui faz o capitão Solano! Se êle cá estivesse, as cousas não se teriam passado assim, e eu, a esta hora, em vez de preso teria um louvor.

Depois, sem processo, sem ser ouvido, fui exonerado do meu cargo e ainda por cima recusam-se a pagar-me os vencimentos! Encontro-me doentíssimo, deitando sangue pela boca, sem recursos, na maior miséria.

Peco-lhe, meu amigo, que junto dos nossos amigos, lhes peça para mim uma esmola para que eu aqui não morra de fome nesta masmorra.

O que por aqui se passa é verdadeiramente horrível; os presos políticos são
tratados como feras e só falta uma cousa: o Knout russo!

E faz dó ver tudo isto. No peito da maior parte dos militares vem-se condecorações de campanha—a cruz de guerra e medalhas de valor militar francesas e inglesas!»

Sr. Presidente e Srs. Senadores:; Nas condições dêste preso, encontram-se milhares dêles! Nas cadeias há milhares de pessoas, dando-se a extraordinária circunstância de que aqueles contra os quais há já a prova provada ou havia, no acto de serem presos, de terem entrado no movimento, por serem encontrados de armas na mão, estarem em melhores condições do que aqueles que não têm sequer, uma participação dum agente policial.

Há milhares de criaturas que nem a polícia sabe que estão sob a sua guarda. Algumas foram presas por bandidos que se intitulavam polícias, outras por bandidos tambêm, mas pagos pela polícia preventiva.

Outros milhares têm a seguinte nota de culpa: Foi preso às tantas horas pelo agente fulano!

Muita cousa eu teria que dizer sôbre êsse assunto, mas, como já declarei, reservo-me para quando se discutir aqui a proposta de lei relativa à prorrogação da suspensão das garantias, que infelizmente já foi aprovada na Câmara dos Deputados e sôbre a qual eu espero que o Senado dê provas de mais independência e espírito libertador e justiceiro.

Prolongar êste estado de cousas, esta anarquia no Poder, considero eu um grande crime. E o que há dias se não realizou, bem possível é que venha a dar-se mais tarde, marcando mais uma data lutuosa na história da nacionalidade.

Êsse pretendido atentado serviu para irem assaltar o Grémio Montanha, que estava estabelecido na Calçada do Sacramento. Quem fez êsse assalto não se sabe; sabe-se apenas que os assaltantes foram levar os destroços ao Govêrno Civil. É preciso que a Câmara se lembre de que dêsse Grémio saiu o movimento que implantou a República em Portugal. A êsse Grémio pertenci eu até 1913.

No dia seguinte ao assalto do Grémio Montanha, oficiais e sargentos do exército, alguns, dizem, eram alunos da Escola