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Sessão de 11 de Dezembro de 1918 9

receres das comissões. Como, porêm, ainda os não há, e o Regimento o permite, parece-me que podemos continuar nos trabalhos considerados «antes da ordem do dia», dando eu a palavra aos Srs. Senadores que se seguem na inscrição.

O Sr. Carneiro de Moura: — Sr. Presidente: continuam os Srs. Secretários de Estado a não nos dar o prazer de aparecerem nesta Câmara. Eu sinto que não estejam presentes, pelo menos, alguns dêles, para lhes dizer que as palavras proferidas pelo Sr. Senador Machado Santos nesta casa não podem deixar de ter o eco que a autoridade de S. Exa. lhe dá, alêm do seu valer intrínseco.

Esta Câmara ouviu o Sr. Machado Santos com o respeito com que sempre ouve os seus membros, e na persuasão de que todos vem para aqui trazer o seu concurso num intuito sério.

S. Exa. falou mais pelo coração do que por aquilo que os factos podem conter em si, e fez bem em apelar para o sentimento da Câmara.

Referiu-se às declarações que o Govêrno fez na outra Câmara, quanto aos assaltos à propriedade particular, como os que lamentavelmente se deram no Grémio Lusitano e na Travessa da Assunção; e esta Câmara não pode concordar com quem quer que seja, que pratique actos que amesquinhem a vida dos cidadãos. (Apoiados).

Diga-me, Sr. Presidente, que dirige distintamente os nossos trabalhos e que só utilmente o pode fazer obrigando-nos todos ao respeito pelo Regimento que é a lei, com que autoridade os Srs. Secretários de Estado podem manter no país a ordem, se não se acharem revestidos do necessário prestígio?! Mas para isso é indispensável que o exemplo venha de cima; é necessário que sejam castigados os que faltam ao respeito à lei que manda respeitar a liberdade de pensamento, a liberdade de imprensa, a liberdade de associação e o direito de propriedade.

O Senado é uma Câmara conservadora dizem. Mas por isso mesmo que o é, veja, Sr. Presidente, em que situação ficaria o Senado, se aqui não fizéssemos ouvir um vivo e sincero protesto contra as perturbações da ordem?! No Pôrto e em Lisboa têm-se dado arbitrariedades e atentados, não só contra a propriedade, mas até contra as pessoas, que têm indignado todos os espíritos bem formados.

Eu vi que noutros tempos, Sr. Presidente, se assaltaram igrejas, redacções de jornais e centros políticos. Todos ainda se recordam com indignação de tais atentados. Mas, se não levantei no Parlamento a minha voz contra tais factos, foi porque não pertencia então ao Parlamento. Mas, onde o pude fazer, e porventura desagradando muito aos que me ouviam, protestei noutro lugar contra aqueles atentados, lembrando-lhes até que tempo poderia vir em que os vencedores de então fossem vítimas de tais processos. Agora aí está a verificação do meu acerto. Mas lembrem-se tambêm os vencedores de agora que, a continuarem êstes processos de represálias, não poderão dormir tranquilos sôbre as suas façanhas. Tempo virá em que poderão sofrer o castigo dos seus abusos.

Ai de nós se não soubermos travar esta onda, procurando por todos os meios impor-nos a êsses desmandos. Eu estou certo de que o Govêrno mais do que ninguêm terá nisso o maior empenho—o evitar o exacerbamento das paixões, porque, se tal se não conseguisse, os nossos direitos, os nossos haveres e as nossas vidas estavam à mercê dêsses desvaira-mentos e dessas paixões.

Nós temos por honra e defesa próprias necessidade de protestar e bem alto contra esta onda que se agita nas ruas, assaltando e destruindo a propriedade alheia.

Vem a caminho da Europa o Presidente Wilson. Êsse estadista não partiu da sua pátria sem que os homens que antes da entrada na guerra se empregavam nas suas indústrias, tivessem voltado à sua actividade. O Presidente Wilson proclamara bem alto que os operários das fábricas e dos campos são tam beneméritos como os seus irmãos que se bateram nos campos de batalha, e afirmou a necessidade de realizar a desmobilização procurando trabalho útil para os oficiais e soldados.

Nesse sentido eu trago tambêm um projecto que vou mandar para a Mesa, para que o Govêrno proceda já à desmobilização, organizando as empreitadas para obras do Estado, para a abertura de