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Sessão de 13 de Dezembro de 1918 21

relativo a um preso político, que alega não ter responsabilidades, e está preso há dois meses, desejava saber se a fiança é admitida nestes casos.

O Sr. Canto e Castro (Secretário de Estado de Marinha): — Não tenho elementos para, categoricamente, responder a V. Exa.

O Sr. Pinto Veloso: — Rejeito o artigo, porque ficaria mal com á minha consciência aprovando-o.

Lavro o meu protesto contra os artigos da proposta que o Govêrno apresentou à Câmara.

Muitos presos não foram ainda interrogados, um dos quais conheço pessoalmente, e sei que estão presos, em grande numero, pessoas das quais uma boa parte não foi interrogada, e que afirmam que estão injustamente presas.

Não posso, pois, em minha consciência, aprovar um artigo tal.

É aprovado o número 17.

Lidos, são sucessivamente aprovados os restantes números a que se refere a proposta e rejeitada a emenda do Sr. Senador Amaral.

O Sr. Castro Lopes: — Requeiro dispensa da última redacção. Aprovado.

0 Sr. Machado Santos: — O Sr. Pinto Coelho, Senador católico, quis de certo modo, há pouco, vingar-se da frase que eu proferi acêrca daquela construção ignóbil que existe no Govêrno Civil.

Eu classifiquei-a de «in-pace» inquisitorial, e S. Exa., como bom católico, houve por bem responder-me como entendeu, atropelando a verdade e o justiça.

Referiu-se o Sr. Senador católico à greve do Sul e Sueste e a outros movimentos grevistas que se deram em seguida ao 5 de Dezembro, dizendo que eu, cedendo a tudo que os grevistas exigiram, levara a indisciplina às classes operárias.

Não é exacto. O Senado, em querendo, encontra-me pronto para lhe historiar êsses movimentos grevistas. E, quanto às concessões que fiz, elas ficaram sempre muito alêm das que eram pedidas.

Antes da guerra europeia existiam nos caminhos de ferro indivíduos que ganhavam $12 por dia! O 5 de Dezembro encontrou o preço do pão a $41 o quilograma. Isto basta para se avaliar se cedi à pressão das greves ou aos ditames da minha consciência de homem e de estadista.

Mas não me admiro que o Sr. Pinto Coelho, Senador católico, pense de maneira diametralmente oposta à minha. Assim como S. Pedro, chefe da Igreja Católica, renegou Cristo três vezes, o Sr. Pinto Coelho, na anterior sessão e nesta renegou a sua doutrina. Só lhe faltou pedir a forca para os presos políticos, na anterior sessão, e na de hoje o fuzilamento para os operários.

Mas, voltando aos Caminhos de Ferro do Estado e à minha administração, eu tenho de elucidar a Câmara que, ao tomar conta dêsse serviço público, encontrei as linhas com, um deficit de 1:800 contos e uma greve latente, que acarretaria mais uma despesa anual de 1:300 a 1:400 contos. Pois o que concedi ao pessoal não foi alêm de 900 a 1:000 contos, e, confrontando as receitas dos últimos meses do corrente ano com as dos meses do ano passado, não andarei longe da verdade computando em cêrca de 4:000 contos o aumento das receitas dos Caminhos de Ferro do Estado. E não foi preciso ir a Lourdes para realizar êste milagre. Uma simples portaria sôbre a utilização dos vagões e uma remodelação de tarifas que não agravou o transporte dos géneros de primeira necessidade resolveram o problema que tanto havia preocupado o meu antecessor na gerência dos serviços ferroviários, Sr. Xavier Esteves.

Mais:

Para terminar com roubos, com fraudes, com favoritismos e até com as greves nos caminhos de ferro, publiquei dois regulamentos que ia fazer executar. Pois os que hoje são elogiados pelo Sr. Pinto Coelho, pela sua acção enérgica, a primeira cousa que fizeram foi suspender a execução dêsses regulamentos, e há poucos dias revogaram-nos. Foi infeliz o Sr. Senador católico. A vingança que quis tirar da classificação de «in-pace inquisitorial» à ignóbil masmorra civil, deixou-o emparedado entre a verdade irrefutável dos factos e a justiça que me assiste.

Que descanse em paz com os seus fígados de Torquemada.