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Sessão de 6 de Fevereiro de 1919 5

Aquele Sr. Senador fez várias e especialíssimas acusações, uma verdadeira mistura ou salada de perfídia o delação, onde sem olhar á qualidade se utilizou de arguições de toda a espécie e de toda á gente.

Sr. Presidente: eu tenho a minha consciência tranquila e a confiança na justiça que me fará a Câmara que me está ouvindo.

O Sr. Carvalho de Almeida apresentou três acusações e que são: a primeira de caracter político: favorecer os monárquicos em revolta comunicando com êles por um pôsto de telegrafia sem fios montado nas fábricas do Barreiro. Começou hoje por dizer que desta acusação não tinha provas e se limitava a reproduzir o que ouvira dizer. A segunda acusação é de ser germanófilo; terceira de ter ocultado, como gerente da Companhia União Fabril, a existência de capitais alemães na mesma.

Começarei por referir-me à prime;ra acusação, que envolve insinuações do caráter político. Irei depois ás restantes; todas são de igual valor.

Estive, com efeito, matriculado, ou, como se diz, inscrito no partido monárquico regenerador liberal, no tempo em que o mesmo foi chefiado pelo Sr. João Franco, e nessa situação política fui Deputado da Nação.

Quando o Sr. João Franco abandonou a chefia do partido regenerador liberal ou no mesmo dia, ou no dia seguinte, despedi-me do partido regenerador liberal, declarando, em carta publicada no Diário de Noticias, que me retirava da política, e nunca mais fiz parte de nenhuma agremiação política, quer monárquica, quer republicana. Quem afirmar o contrário, mente.

E se estou neste lugar é porque fui eleito como representante da indústria de Lisboa, tendo eu declarado que abstinha por completo a política das funções que vinha exercer, e V. Exas. devem ter visto que tenho sido um dos mais silenciosos membros desta Câmara, exactamente porque no período parlamentar que temos atravessado tem-se tratado mais da questão política que das questões que interessam às fôrças produtivas do país, e daí a figura apagada que eu tenho tido nesta casa do Parlamento.

Eu repito: não tenho tido, desde que o Sr. João Franco deixou o partido regenerador liberal, filiação partidária de qualquer espécie, apesar de ter sido solicitado por vários partidos da República para me inscrever neles, e não oculto a V. Exa. que aquela que mais me tentou foi a orientação política a que presidiu o falecido, e ainda creio que chorado, Dr. Sidónio Pais.

Apesar, porêm, de ser por vezes instado escusei-me sempre para fins políticos, não negando nunca a minha fraca-colaboração económica, que pode ter sido inepta, mas que foi sempre sincera e desinteressada.

Fiz parte dama corporação, talvez a mais alta que tem havido na República, o Conselho Económico Nacional, e se essa corporação se dissolveu, ou por outra, se foi a Belém o seu presidente apresentar a sua demissão ao Chefe de Estado, não foi, Sr. Presidente, e estão aqui muitas pessoas que o sabem, por eu ter deixado de empregar todo o meu esforço em benefício do país e em serviço dele, tanto quanto pude, tanto quanto soube e em quanto me foi possível e pelo mesmo Conselho julgado útil, ao sentirmos a ineficácia da nossa acção, todo o Conselho se demitiu.

Desculpe-me a Câmara que lhe roube algum tempo na minha defesa, mas eu necessito de o fazer.

Levantaram-se dúvidas, fizeram-se insinuações o acusações graves; tudo precisa esclarecer-se.

Disse tambêm o Sr. Carvalho de Almeida que se faz por aí acusação de que eu estava interessado no movimento monárquico ou que tinha ligações com monárquicos. Ora eu devo dizer a V. Exas. que se eu tive uma efémera acção política, ainda não há muito, foi no sentido, de procurar exactamente a êste país um caminho em que se unissem todos os esforços, e do qual resultaria não a queda da República, mas, porventura, o esfacelamento das fôrças políticas monárquicas e a consequente consolidação do regime republicano pela integração de elementos valiosos na sua acção governativa.

Já vê V. Exa. e a Câmara que quem assim procede e quem assim procedeu não está metido em conspiratas; preparou.