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Diário das Sessões do Senado

o sentimento do dever, o sentimento da amizade e o sentimento da gratidão.

Voto q projecto pelo cumprimento dum dever, porque o coronel Baptista foi um homem que ao país e à Kepública dedicou todo o seu esforço, toda a sua acção e até a sua própria vida, e tudo isto com uma isenção, com uma simplicidade, com uma grandeza que, devo dizer a V. Ex.a, não envergonharia os verdadeiros .heróis de Plutarco.

São raros estes homens. No mar agitado da vida onde tantas ambições pululam, onde tantos interesses se entrechocam, onde tantos interesses se degladiam, raros são, Sr,. Presidente, os homens que conseguem manter-se firmes, mais raros os que não sucumbem e raríssimos os que conseguem atravessar esse mar sem que a mais Ligeira mancha possa marear-lhe a reputação ou cercear-lhe o prestígio.

Earíssimos são, Sr. Presidente, e esses elevam-se a altura dos super-homens.

Pode o seu corpo desaparecer, mas a 'sua memória fica como exemplo perdurável. O coronel Baptista foi um desses homens.

Nunca este homem se recusou ao cumprimento do dever, nunca à voz da Pátria e da Bepública ele deixou de acudir. Como soldado, cumpriu o seu dever; como político deu um nobre exemplo de virtude cívica.

O coronel Baptista deu à sua pátria o mais que se pode dar: deu-lhe a própria vida. O coronel Baptista, Sr. Presidente, foi chamado ao Poder — e nisto não vai ofensa para ninguém—quando todos se recusavam a tomar esse encargo, em face duma situação embaraçosa e das mais melindrosas da vida nacional.

Pois bem: o coronel Baptista assumiu o Poder procurando manter uma linha de correcção, estranho a ambições pessoais, tendo apenas por desejo fazer obra go-vernativa útil e proveitosa.

Não era o coronel Baptista um estadista à altura do momento, dizia-se com uns sorrisos irónicos disfarçados por afirmações de apoio e espectativa benévola. Ao fino espírito do coronel Baptista não passava despercebida essa subtileza. Elevando-se acima das rivalidades políticas, sobranceiro às vaidades inconfessáveis, demonstrou que com firmeza e honestidade e sobretudo bom senso se po-

diam firmar as bases em que assenta a felicidade dum' povo, mormente um povo já desiludido que fez há muito tempo a justiça imparcial a tantas e tam apregoadas competências que se têm proposto a ... salvá-lo..

Não estou aqui a fazer o panegírico do coronel Baptista".

Muita cousa poderia dizer dos seus elevados brios, mas há um facto que talvez alguns membros desta Câmara não conheçam e que revela bem a elevação desses brios. Não quero deixar de o apontar, embora me convença que estou importunando a Câmara.

O coronel Baptista afirinou-se sempre um militar brioso, principalmente, como muito bem disse o Sr. Soveral Rodrigues, nas campanhas de África, na defesa da Eepública e no front, onde comandou com brio e bravura uma brigada. Esse homem, que tinha dado tantas e tais provas da sua competência para o comando, poderia bem conquistar as estrelas do generalato sem se sujeitar às provas dum concurso ; todavia repeliu essa idea e quis sujeitar-se às provas. A doença da vista de que vinha padecendo agravou-se-lhe mergulhando-o na cegueira quási completa. Por isso, senão por isso exclusivamente, essas provas que produziu não o satisfizeram, e aos seus brios e à consciência honesta repugnou urna aprovação que alguém poderia atribuir exclusivamente a um favor dos seus camaradas.

Transe doloroso e amargo da sua vida foi esse!

Uma tarde, ao sair de urna sessão do Senado convidou-me a acompanhá-lo. Desafogou comigo, disse-me do seu estado de alma e da firme resolução em que estava de não concorrer às últimas provas do concurso. Procurei dissuadi-lo, dizendo-lhe que nos campos de batalha havia já dado suficientes provas e que o júri bem reconheceria que só a circunstância da falta de vista havia dado ocasião a não produzir provas melhores, e lembrei--Ihe ainda, apelando para os seus sentimentos afectivos e extremosos da família cujo futuro ele não podia esquecer.

Mas ele apertou-me o" braço e fitando-me de perto, com aquela fixidez própria dos amanróticos preguntou-me':