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Sessão de 20 de Junho de 1924

fera de suspeição, consequência de se terem deixado arrastar por companhias, empresas ou bancos, cujos interesses estão em absoluto litígio com os interesses do povo e com os interesses da Nação.

Eu disse nessa ocasião que muitas dessas empresas e companhias tinham também a sua política, .e essa política era atrair a si homens públicos de valor para na ocasião propícia se servirem da influência política desses homens para obterem favores do Estado.

Eu disse também que; em geral, esses homens públicos não entraram nessas c'ompanhias com o capital moeda, mas sim com o capital político.

Eu garanto à Câmara que estas minhas palavras não têm outro intuito senão o de dignificar a República e fazer com que na verdade a República seja um regime de moralidade e de honestidade que se imponha a todos.

Dito isto eu vou limitar-me a ler o que diz o jornal A Batalha, esperando que o Sr. Ministro do Interior diga em seguida de sua justiça:

«Um dos que prevaricou, um dos que tem contribuído para aumentar a desordem, que depois quere reprimir, perseguindo precisamente as vítimas, dizemo-lo aqui corajosamente, é o Sr. Sá Cardoso.

,; Lembra-se o Sr. Sá Cardoso de ter sido convidado para exercer as funções de administrador da Companhia de Cal e Cimentos da Rasca, em Setúbal? Lembra-se. Tanto se lembra que aceitou o •convite.

Aceitou, sendo nessa altura Presidente da Câmara e militar, com o ordenado de 1.100$ mensais. Aceitou ainda, para que a sua nomeação tivesse foros de legalidade, o empréstimo de dez acções da mesma Companhia, empréstimo que foi feito até —lembra-se?— pelo grande capitalista Manuel Vicente Ribeiro.

Emfim, a vida são dois dias e é preciso aproveitá-los bem. Por isso o Sr. Sá Cardoso entendeu que o seu prestígio ç a sua honestidade não perigavam, ombreando com um dos maiores ladrões" que dentro dessa Companhia é o «quero, posso e mando».. Deu o braço ao Sr. Baltasar Cabral, um dos maiores accionistas da referida Companhia, do Banco Ultrama-

rino, da escandalosa Companhia dos Diamantes, da Companhia do Niassa, etc., etc., etc.

Não quis saber o Sr. Sá Cardoso se

essa Companhia de Cimentos pre/ava os

. seus operários, nem inquiriu dum caso de

falsificação de assinaturas que a mesma

havia feito para intrujar o Estado.

É claro que o Sr. Sá Cardoso também nSo sabia que essa Companhia tivera, em 1922, um lucro de 801.284^10(9) e que denunciou ao Estado apenas 150.896^47(2), burlando o país e furtando-se ao pagamento dos impostos que recairiam sobre tam fabuloso ganho.

£ Também o Sr. Sá Cardoso ignorava o motivo por que lhe fizeram tam estranho convite, que aceitou?

Nós elucidamo-lo. É que o Sr. Baltasar Cabral, a despeito de ter embolsado, só à sua parte, em lucros, a quantia de 213.480)$!, queria, fazendo passar por pobre essa Companhia rica, obter um empréstimo na Caixa Geral de Depósitos. E o nome, o prestígio, a influência do Sr. Sá Cardoso servia para essa repugnante transacção. Baltasar Cabral queria um empréstimo de 300.000$, entretanto, o Sr. Sá Cardoso conseguiu obter 200.000$ que foram entregues em Agosto do ano passado.

E quando o Sr. Sá Cardoso foi negociar esse empréstimo, não sabia que já no ano anterior a mesma Companhia arrancara à Caixa Geral de Depósitos cerca de 200.000?$!, dos quais só pagara metade ...

l São assim os homens que nos governam! ,J. Admira, pois, que'eles, solidários com a moagem, com todos os potentados exploradores, temam que A Batalha circule? «J Terá o Sr. Sá Cardoso ainda um pouco de coragem e uns restos de lealdade para não impedir a expansão dum jornal que diz a seu respeito verdades duras ?

i O Sr. Sá Cardoso não hesitou em fazer parte duma companhia que mandou à guarda republicana sovar os seus operários, quando estes se lançaram numa greve por aumento dos seus salários miseráveis !