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Diário das Sessões do Senado

em câmara ardente desse Governo, que acaba de nascer, em que os discursos aparentemente laudatórios traduzem sem dúvida alguma um sentimento de grande piedade por um Governo que nasce, e em vez de encontrar o berço, encontra imediatamente o túmulo.

Sr. Presidente: oiitra significação não tem o longo debate que nas duas Câmaras tem feito estar numa expectativa bem dolorosa um Governo, a iodos os títulos interessante $ desde a sua constituição, pela figura que o representas pela situação muito especial, muito esquisita em que se encontra o Sr. Rodrigues Gaspar, pelas dificuldades que S. Ex.£ teve para completar o elenco do seu Ministério, acabando por fim com aquela sombra que atormentava já os nossos espíritos, aquela sombra do Sr. Ministro da Agricultura, um Sr. Salema que existe e parece que não existiu nunca, para aparecer nessa mesma pasta o Sr. Torres Garcia, neste curto espaço de tempo que correu entre a apresentação do Governo na outra Câmara e a sua apresentação aqtii na Câmara do Senado.

Sr. Presidente: verifico mais uma vez e verifica o País,' que um novo Ministério se constitui neste regime que há catorze anos rios governa, sem traduzir aquelas exigências que a consciência nacional impõe, sobretudo num momento desta ordem, tam grave e tam difícil.

A circunstância de eu atacar a constituição deste Governo, um Governo sem unidade, um Governo sem homogeneidade, sem garantias de êxito, sem poder ter no futuro a vida constitucional assegurada, porque justamente o maior partido do bloco qae o Sr. Eodrigues Gaspar diz ser a-base da vida ministerial é o partido que por aí fora numa publicidade que é para atormentar os seus partidários, mostra a mais completa das desuniões e desuni-dades.

^Como é que o Sr. Eodrigues Gaspar pode ter assim garantido um fcturo, aquele futuro que S; Ex.a ambicionaria para poder fazer qualquer cousa de bom par~ o País?

O problema português é deveras complicado.

Nós estamos numa verdadeira crise mo-ralj política, económica e financeira.

O país debate-se numa situação de des-

crédito que nunca assumiu proporções tam graves e que passa além fronteiras, envergonhando-nos dia a dia.

Depois de seis meses de Governo do Sr. Álvaro de Castro soluciona-se uma crise ministerial chamando-se ao Governo o Sr. Rodrigues Gaspar, que, na sua declaração ministerial, nos diz, nem mais nem menos que continuará a obra do seu antecessor.

A declaração ministerial do Sr. Rodrigues Gaspar ,é tal qual a que nos apresentou o Sr. Álvaro de Castro. É igual o papel, é igual a disposição e tem o mesmo carácter de epistolai Na declaração ministerial do Sr. Álvaro de Castro apresentava-se a possibilidade de obter um futuro desanuviado porque se afirmava que, dentro de pouco tempo, estaria restabelecido o equilíbrio orçamental. Varia-díssimas vezes ouvi S. Ex.a afirmá-lo, convencido de que era o homem com o estofo intelectual preciso para neste momento, tam angustioso, conseguir restabelecer o equilíbrio orçamental. Perante as. asserções de S. Ex.% aqueles que vêem as cousas superficialmente acreditaram na eficácia dos seus propósitos e da sua obra; mas os que não vêem as cousas superficialmente reconheceram, nas palavras do Sr. Álvaro de Castro, uma íantasiaj um sonho e mais nada.

S. Ex.a deixou o país numa situação inals difícil do que quando assumiu o Poder, porquanto a circulação fiduciária aumentou e o câmbio está mais agravado, apesar da série de medidas que adoptou para melhorar a situação.

Perante os factos não há argumentos.

É esta a obra do Sr. Álvaro de Castro que o Sr. Rodrigues Gaspar pretende continuar.

Não lhe dou os parabéns e não posso' compartilhar dá alegria que S. Ex.a parece ter ao apresentar o seu' Ministério. • Sr. Presidente: se olharmos para a situação em que se encontra o País depois de càtDrze anos de administração republicana, não há ninguém, Sr. Presidente, coru consciência, com sinceridade, que possa dizer que essa administração se tem imposto pela sua honestidade, pela sua grandeza de vistas, pela sua moralidade.

Não apoiados das esquerdas.