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Sessão de B de Abril de 1920

Preguntei, muito naturalmente, como se distinguiam as boas das más, mas o cóu-dutor sem me responder deu-me de troco por uma nuta que lhe entreguei uma cédula de {$20, que não sei se-era boa ou má e recebi para evitar questões. Portanto cheguei à conclusão de que nos eléctricos não recebiam cédulas de $wO mas impingiam nas aos passageiros.

Feita esta declaração vou referir-me ao assunto para que tinha pedido a palavra e que reputo uui assunto muito delicado.

Trata-se, Sr. Presidente, dó relato que veio hoje no D'ário de Noticias acerca duma cerimónia religiosa que se realizou na Igreja dos Mártires-.

Respeito as crenças de todos, mas o que não posso consentir ó que haja explorações.

Isto é uma verdadeira exploração e vou dizer porquê.

Não há ninguém que me faça acreditar nisso, porque no tempo da monarquia o fervor religioso era mais forte e não havia bêoção das pastas d'1 quintanistas, e por isso e.ite.ndo que o acto a que me retiro significa uma exploração quo se torna -tanto mais revoltante quanto ó certo que isto é feito com a colaboração do reitor, dos professores e assistência deles, o que importa uma coacção exercida «obro os estudantes, porque ninguém me convence que todos eles foram levar voluntariamente as pastas a benzer. Com certeza que, se não soubessem que o reitor e professores concorreriam a esse acto, muitos deixariam de ir colaborar nessa comédia que não dignifica ninguém, nem. a própria religião católica.

No tempo da monarquia o discurso da coroa terminava por invocar a divina providência para iluminar o espírito dos parlamentares na solução dos assuntos que se tratassem na sessão legislativa, mas isso que morreu com o regime deposto, pretende agora ressuscitar-se por uma forma que é bem pior, e que revela o rebaixamento de carácter, que eu nunca esperei quo se pudesse dar neste século e na República.

A forma colectiva como isto foi feito, com a assistência do reitor e de alguns professores, torna esta cerimónia muito grave porque demonstra que se trata

duma ignóbil regressão ao passado. Estou convencido de que se por acaso não fossem a essa cerimónia nem o reitor, nem os cinco professores aue a ela assistiram muitos estudantes não compareceriam.

É para lamentar, dizia eu quando V. Ex.a, Sr. Ministro da Instrução, entrou, que nesta altura, neste século se faça uma cerimónia que nunca se tez no tempo da monarquia em que era natural quo o espirito religioso estivesse mais afervorado.

Desta deplorável atitude da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa concluo que os estudantes do 5.° ano*ape-larauí para a Divina Providência para passarem nos seus actos.

Eu, Sr. Presidente, limito-me a estas breves considerações que entendi dever fazer acerca dôste assunto, porque acho tatu revoltante este acto que não tenho confiança em mim o receio que, perdendo •aquela serenidade,de que costumo sempre usar, me exceda na apreciação mais minuciosa do caso.

Está na pasta da Instrução uma individualidade que é moinbro desta Câmara, quo nós nos habituámos a respeitar, (Apoiados gerais) e S. Ex.a sabe bem que não é só aqui que o respeitam, porque tom merecido a consideração de todo o País.

Apoiados gerais.

Tenho manifestado sempre, nesta Câmara, apesar de me chamarem já «especialista» nestes assuntos, que sou respeitador e -tolerante para com todas as confissões, rnas que, coerente com os princípios republicanos que sempre tenho defendido, jamais deixarei passar sem o meu mais veemente protosto tudo quanto significfue menos respeito pela República suas, leis e e princípios.

Apoiado* das esquerdas. „

Por isso espero que o Sr. Ministro da Instrução não deixará passar sem protesto este facto, porque foi a Universidade, colectivamente, que foi a uma igreja apresentar umas pastas com que os estudantes amanhã andarão à lambada uns aos outros.

O Sr. Ministro da Instrução Pública