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Sessão de 16 de Junho de Í92Ô

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rãs, com todos os manjares dos melhores restaurantes, como está, sucedendo ao ge-v neral Sr. Sinel de Cordes, que devia ser o Presidente do Governo se a última revolução triunfasse, o qual está a bordo do cruzador 'Vasco dá Gama banqueteando-se à custa do Estado com os melhores manjares 'dos melhores restaurantes de Lisboa.

Já vê, portanto, a Câmara que é bem diferente a vida de um revolucionário de antes do õ de Outubro e a de um revolucionário após essa data.

Pois é a este José Antunes, que teve a glória de ver triunfar a sua causa e implantada a Eepública para que ele tanto contribuíra, que os Srs. Silva Barreto, republicano histórico, .e Costa Júnior, mais do que republicano histórico, ex-socialista e possivelmente anarquista de amanhã, vêm recusar o seu voto para não ser aprovada a proposta que eu apresentei. Pois é o Sr. Silva Barreto, que está hoje fazendo parte do Directório do Partido Eepublicano Português, que vem dizer: para o José Antunes, não.

Mas há-de haver 1.500$ por mês para a viúva, filho menor e filha maior de^João Chagas, assim como também há-de haver 1.500$ para a mãe de João Fiel Stockler, velhinha santa a quem eu muito respeito.

Assim, o José Antunes continuará a percorrer o Chiado e, as outras ruas da capital, levado pela mão da'sua companheira de muitos anos, a sua esposa, pedindo uma esmola, ele que teve a ventara de fazer de tantos monárquicos republicanos, e de alguns republicanos homens de Estado.

V. Ex.a, Sr. Presidente, já teve que, mandar parar o seu automóvel para dar uma esmola a esse José Antunes, que ajudou a fazer a revolução de 5 de Outubro, que escalou Monsanto e que, por ser honrado, pediu licença para deixar o seu lugar, alegando que o não podia exercer por falta de vista.

Mas a caridade não tem política e por isso eu tenho a certeza de que, para a rejeição da minha proposta, não contribuirá a minoria monárquica, no que só praticará um acto digno.

Os outros, os livres pensadores, os irreligiosos, os que não têm o culto da caridade, farão como o Sr. Silva Barreto,

obrigando a maioria do Senado a rejeitar a minha proposta. ,

Tenho em meu poder um documento pelo qual José Antunes prova que data de 1924 o seu pedido de afastamento do lagar que ocupava na Caixa Geral de Depósitos, "por se achar impossibilitado de o exercer, e em que implora ao conselho-administrativo da mesma Caixa uma esmola ou subsídio para poder continuar a viverv

A Caixa Geral de Depósitos promete sempre, diz-lhe: para o mês qae vem será atendido; venha mais tarde; o senhor está cego; o senhor é digno de uma pensão ; a Caixa vai reunir e por intermédio do seu conselho administrativo far-lhe-hà justiça.

E o desventurado José Antunes tem esperado pacientemente meses e anos, sem que, durante um tam largo prazo, o concelho administrativo da Caixa se tenha lembrado de ocupar uns momentos de uma das suas sessões para acudir a esse republicano e seu servidor.

José Antunes queixa-se, não ao Sr. Silva Barreto, porque o não pode encontrar, em vista de S. Ex.a. fazer parte do Directório do Partido Kepublicano, de ser chefe de repartição dum Ministério, de ser uma alta pessoa da Eepública, junto da qual o pobre cego José Antunes não pode subir. Restringe-se por isso a queixar-se e a mostrar a sua cegueira e miséria na Caixa Geral de Depósitos, suplicando unia pensão. Há cinco anos até ali se arrasta. ,

O Sr. Silva Barreto sabe muito bein que quando qualquer humilde .professor, subordinado ao seu - Ministério, não tem padrinho político e reclama justiça, ainda que essa'justiça tenha de passar pelas mãos de S. Ex.a, há meses e até anos de demora antes da concessão dessa justiça.

Os magnates políticos que estão dirigindo a Caixa Geral de Depósitos ainda não tiveram um quarto de hora para pensar e resolver sobre o pedido e a súplica -de José Antunes.