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780 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 83

problema em Portugal não é ainda tão angustioso como noutros países. Mas o conhecimento do que se passa por esse mundo além não deve permitir-nos uma tranquilidade descuidada e imprudente.

Se não temos ainda tão graves males para remediar, tomemos precauções para evitar cair nos mesmos males.

A consciência do perigo é o primeiro passo para a defesa. Tomemos, então, consciência do perigo. Há inimigos que ameaçam a família; e onde existe hoje lugar tão escondido a que eles não possam chegar?!

Antigamente a província era quase um mundo à parte; hoje, com a facilidade de comunicações, a imprensa, a rádio, campos e serras vivem em permanente contacto com as cidades, o que, se traz vantagens, pode acarretar também graves perigos.

Num inquérito que a Juventude Agrária Católica fez no seu meio lemos pormenores bem elucidativos da penetração da imoralidade nas aldeias e vêm relatadas consequências bem lamentáveis.

Seria loucura fechar os olhos à transformação das regiões rurais e um tremendo erro abandonar a juventude rural num período de evolução em que corre todos os riscos.

10. 0 problema rural não pode ser visto apenas à roda do campanário paroquial; tem de ser encarado no plano nacional.

A agricultura não tem apenas influência sobre a mesa farta ou faminta dos cultivadores; tem relações com tudo. Terra abandonada, terra mal cultivada, produção menor, rendimentos diminuídos, desequilíbrio na economia da Nação.

«Comei as pedras! Bebei as pedras!», exclamava com sarcasmo a velha Gagula nas Mina» de Salomão.

Não se comem diamantes, não se bebem diamantes. É a terra que dá o pão nosso de cada dia.

O ensino familiar doméstico e agrícola é uma necessidade premente. Cerca de 70 por cento das freguesias do continente são rurais; e 46 por cento da população activa total dedica-se à agricultura. Mas a percentagem da população rural decresce sensivelmente. Neste meio século tem diminuído cerca de 20 por cento. E ainda a nossa situação é consoladora se a compararmos, por exemplo, com a França, onde, no mesmo espaço de tempo, a população agrícola diminuiu 40 por cento. É impressionante a decadência das aldeias francesas, não só na reduzida população - 50 por cento não contam actualmente mais de 200 habitantes -, mas ainda tio aspecto que oferecem. E é curioso notar que em Portugal, embora a percentagem de população rural tenha diminuído, as aldeias crescem, renovadas, sinal evidente de progresso nacional.

Mas o número de casas novas nem sempre é acompanhado por um nível de vida mais elevado. Impõe-se a necessidade de estabelecer harmonia entre a evolução material e a educação familiar, doméstica, social e agrária do povo.

A obra educativa a realizar não consiste apenas em ensinar a mulher a cuidar melhor da casa e dos filhos e a ajudar com mais proveito o marido na faina agrícola. Trata-se de qualquer coisa mais importante: de afeiçoar a mulher à terra.

Cada rapariga que sai da aldeia é talvez um lar a menos que se funda. E o homem isolado é um trabalhador diminuído. O homem solteiro cultiva a terra para ganhar o salário de um dia; o homem casado para que a terra lhe dê a fartura e o bem-estar da mulher e dos filhos.

O ensino familiar, doméstico e agrícola contribuirá para prender a mulher à terra e à casa. E o que importa é evitar a partida: o regresso sempre difícil!

11. O problema rural tem também um aspecto económico, profundamente ligado à família.

É bem verdadeira esta afirmação dum economista francês: e A economia doméstica é o princípio da economia política».

Sem o equilíbrio financeiro do lar, sem o aproveitamento dos recursos familiares, não existe riqueza nacional.

Sem trabalho, sem ordem, sem economia e sem previdência - sem as virtudes caseiras que fazem milagres - a jorna do trabalhador ou o salário do operário, por mais elevados que estes sejam, tudo é pouco!

É certamente difícil administrar quando o que se tem mal chega para o necessário; mas nem só por dinheiro de lado é economizar. Não estragar é poupar; saber aproveitar é fazer render.

A mãe de família que produz e economiza é uma colaboradora humilde, mas útil, do Ministro das Finanças.

12. Finalmente, há que considerar o próprio problema social.

O homem é um produto do seu meio. Se vive numa casa asseada e arranjada, rodeado de paz e amor, num ambiente de alegria e bem-estar, terá também a alma mais limpa, as ideias mais ordenadas, o coração mais tranquilo e feliz.

E é a mulher que cria o ambiente familiar. Assim, indirectamente, a mulher é uma influência social, mesmo sem exercer qualquer profissão ou se meter em actividades políticas; isto, quer se trate da mulher culta e de elevada condição social ou da humilde mulher rural. O campo da influência será diferente, mas a realidade é a mesma.

Quantas vezes a questão social deriva da família!

Nem tudo está no problema de habitação. Se não é verdadeiro lar a barraca aberta a todos os ventos, nem o quarto alugado, paredes meias com outros quartos alugados, numa promiscuidade desmoralizadora, também não é verdadeiro lar a casa suja e desarranjada, que o marido troca pela taberna e donde os filhos fogem para a rua, essa escola colectiva do vício.

Não; nem sempre o mau viver dos humildes é ocasionado pela miséria; nem sempre falta o necessário. O que muitas vezes falta é a «ciência das mães», como alguém chamou à educação familiar doméstica.

No inquérito da Juventude Agrária Católica (a que já fizemos referência) aponta-se o baixo nível da vida rural e as deficiências das habitações; mas a falta de higiene e conforto não é só atribuída, pela juventude das nossas aldeias, à má qualidade das casas: é acusada, ainda mais, a falta de limpeza!

E essa mesma juventude, que lamenta as precárias condições em que vive, manifesta aspirações de «criar gosto pela educação, boas maneiras; higiene tanto pessoal como no lar, e de se interessar pelo problema da habitação, santificar a família, organizar divertimentos sãos e amar cada vez mais a terra, trabalhando-a por meios mais modernos e produtivos».

Estas declarações, feitas pelos representantes de dezenas de milhares de associados da J. A. C., são a prova de quanto a educação familiar, a que a proposta abre caminho, corresponde às necessidades e aspirações do meio rural.

13. Deve ainda atender-se a que meio rural não é exclusivamente aquele em que só se cultiva a terra; não basta a existência duma fábrica numa aldeia para que esta deva ser considerada meio industrial. Se a população conserva mentalidade e costumes rurais, embora exista uma percentagem de operariado, o meio continua a ser rural.

Mas seja a aldeia mais ou menos rural, pouco importa; mesmo, onde o meio seja caracteristicamente industrial,