31 DE MARÇO DE 1956 783
(...) ções, folclore e arte rústica. Tudo quanto possa concorrer para entreter -possivelmente com utilidade - e para dar alegria.
A celebração do Natal, o «dia da mãe» e outras festas familiares e tradicionais devem merecer também a atenção das educadoras.
20. formação sanitária. - Higiene pessoal, da alimentação e da casa; tratamento de doentes, com exercícios práticos de enfermagem; puericultura, também com o programa desdobrado em aulas teóricas e práticas; sem esquecer a educação das crianças.
Na ministração de todo este ensino deve ainda atender-se à colaboração que a futura auxiliar rural, coadjuvada pelas alunas dos centros familiares rurais, deverá dar à assistência materno-infantil, cantinas, infantários, etc., que porventura existam na Casa do Povo ou em qualquer instituição, da aldeia.
21. Lembra-se, finalmente, que as auxiliares rurais, pela sua pouca idade e elementar formação, não podem ser abandonadas a si mesmas no exercício da sua profissão.
Além das visitas frequentes das supervisoras, julga-se necessário reuni-las cada ano num pequeno curso de aperfeiçoamento, com lições teóricas e práticas, para manter os seus conhecimentos actualizados e reanimar o espírito da sua missão.
Missão difícil. Convém aceitar só aquelas que por vocação a queiram seguir e cujas qualidades morais sejam garantidas por pessoas idóneas; e conservar ao serviço só aquelas que com agrado dele se desempenharem.
Seria útil que se elaborasse um manual, em conformidade com os ensinamentos teóricos e práticos da escola que as auxiliares rurais frequentaram; ajudá-las-ia nas suas dificuldades de mestras principiantes.
Centros familiares rurais
22. A educação familiar nos meios rurais - para a qual o projecto propõe a criação de cursos elementares preparatórios de agentes - parece à Camará dever tomar especialmente a forma de centros familiares rurais.
A experiência está feita e é deveras animadora.
Os vinte e sete centros familiares rurais organizados pela Obra das Mães pela Educação Nacional - que por esta magnifica iniciativa merece agradecimentos e louvores - tom dado os melhores resultados. É palpável a influencia benéfica que eles tem exercido no meio local.
As linhas gerais desses centros, que traçam um caminho seguro a outros que venham a fundar-se, são as seguintes:
Directamente dependente da comissão, local da Obra das Mães pela Educação Nacional, o centro familiar rural recebe orientação técnica de uma educadora familiar diplomada e tem para serviço efectivo uma auxiliar rural e, em alguns casos, uma mestra de artesanato.
Colaboram no centro o médico, que dá as lições da sua especialidade, e o pároco, na formação moral.
O programa, teórico e prático, consta de: formação moral e familiar; arranjo e adorno do lar; cozinha e higiene alimentar; higiene e socorros a doentes; puericultura; costura e corte; bordados regionais; artesanato feminino; aprendizagem agrícola.
Findo o curso doméstico, cuja duração vai de dois a três anos, segue-se a frequência do curso de artesanato, especialmente escolhido entre as indústrias caseiras locais de mais acentuado cunho regional.
A aprendizagem agrícola é feita nos dois últimos anos, ministrando-se noções de horticultura e jardinagem; e, sendo possível dispor de instalações, avicultura, cunicultura e apicultura.
As alunas colaboram nas obras de assistência local, tais como cantinas, lactários e infantários, o que lhes serve de treino nos trabalhos práticos e lhes cultiva sentimentos de solidariedade e caridade. A participação no trabalho efectivo das obras sociais é voluntária.
Em complemento educativo, o centro possui uma biblioteca familiar, promove passeios, visitas de estudo e festas de carácter formativo e recreativo.
O horário do centro é organizado tendo em conta as épocas de trabalho agrícola, para que a falta das raparigas não se faça sentir no campo. A duração das aulas diárias é apenas de duas ou três horas, para que também em casa a sua ausência não seja demasiado sensível.
Periodicamente, realizam-se reuniões para as mães das alunas inscritas no centro.
23. É esta, resumidamente, a orgânica dos centros familiares rurais da Obra das Mães que a Câmara considera aconselhável.
No entanto, não se deve cristalizar em programas nem em métodos. Estes devem ser revistos e aperfeiçoados na evolução normal dos tempos e dos costumes.
Há que tomar também em consideração, embora a finalidade dos centros seja em toda a parte idêntica, que as condições da vida rural não são absolutamente iguais em todo o país, e os centros devem acomodar-se às circunstancias locais. É importante não o esquecer.
Há regiões mais pobres e outras mais abastadas; zonas de cultura primitiva e outras com modernas explorações agrícolas; províncias onde o interior das casas é branqueado todas as semanas e outras onde a fuligem forra as paredes; aldeias onde os usos e costumes pouco evolucionam e outras onde já se arremeda a cidade; lugares onde o artesanato tem honras de exportação e outros onde nem nas feiras aparece, etc. Cada aldeia é um pequeno mando que tem de ser previamente estudado, para o centro ser adaptado de modo a realizar a sua obra de educação e bem-estar.
Esta expressão - bem-estar - precisa de ser interpretada com bom senso. O bem-estar depende muito das aspirações. Uma casa com uma porta e nina janela pode albergar, feliz, uma família.
Melhorar o nível da vida rural não é criar ambições que, impossíveis de satisfazer, a tornarão ainda mais infeliz. Tem de se lutar contra a ignorância e a rotina, mas sem sair das realidades; estimular nas raparigas o desejo de uma vida de família mais perfeita, mas não deslocada para alturas inacessíveis. O ideal, para ser estimulo e força, deve ser superior à realidade; mas nunca opor-se à realidade. Ideal e sonho são diferentes. Criemos ideal, sinónimo de perfeição; mas evitemos o sonho, sinónimo de utopia.
Tudo no centro familiar rural se deve subordinar às condições da vida local: mobiliário, utensílios, receitas de cozinha, confecção de vestidos e roupas. E inútil - e até prejudicial - ensinar para um meio artificial ou inexistente.
Isto não quer dizer que não se introduzam no ensino processos novos e mais racionais para facilitar o trabalho, que não se indiquem transformações para o arranjo e embelezamento do lar e que as preocupações de aperfeiçoamento e progresso não se estendam desde a civilidade até à participação na vida social da comunidade.
A civilidade, adaptada à modesta condição das raparigas, não deve ser considerada um luxo supérfluo. A boa educação é primor dos grandes e nobreza dos humildes. As boas maneiras não tornam apenas mais agradáveis as relações sociais; são uma defesa moral.
Deve-se ainda cultivar as virtudes que são o esplendor do trabalho.