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782 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 83

Porque não hão-de, por exemplo, as auxiliares sociais que desejarem exercer a sua profissão neste campo completar a sua formação com meio ano de especialização doméstica e agrícola?

15. Qual deverá ser o espirito e o plano dos cursos elementares de educação familiar?
Convém que a escola funcione em regime de internato, não muito populoso: vinte a trinta alunas, para que se possa manter o espirito familiar. Se importa aprender as matérias do programa, importa ainda mais viver num ambiente que marque na educação das alunas.
De cada aldeia, onde se projecte criar um centro familiar rural, virá uma rapariga, escolhida cuidadosamente, e com a intenção de para a sua aldeia voltar.
Tudo na escola deve, pois, concorrer para afeiçoar as raparigas ao meio rural e não para as desviar deste. Instalações, utensílios, usos e costumes devem possuir característico cunho regional.
Situada no campo (mas relativamente perto da cidade, para facilitar a ida de alguns professores, etc.), com terrenos para exemplificação das práticas agrícolas e das indústrias caseiras.
O curso, para a admissão no qual serão consideradas essenciais as boas qualidades morais e predisposições para o exercício das funções, dando-se, em igualdade destes predicados, preferência às maiores habilitações literárias, terá a duração de dois anos. O 1.º, de aulas teóricas e práticas; o 2º, de estágio, dividido em permanências nos seguintes serviços: centros de ensino familiar doméstico, sociais, sanitários e instalações agrícolas. Idade não inferior a 18 anos.
O programa, aprovado pelo Ministério da Educação Nacional, ouvidos os Ministérios do Interior, da Economia e das Corporações, será orientado no sentido de valorizar a rapariga em todos os aspectos: moral, familiar, doméstico, estético, agrícola, social e de saúde.

16. Formação moral. - A formação moral das futuras auxiliares assentará em sólidos princípios cristãos, que cultivem qualidades de bom senso, domínio próprio, alegria, dedicação generosa, sentido humano e sobrenatural do grande dever da caridade.
Num tempo em que a visão materialista da vida ameaça atingir a própria mulher e perigosas ideias políticas entram sorrateiramente em toda a parte impõe-se a necessidade de formar uma forte personalidade nas auxiliares rurais, para que estas não sejam amanhã mais um elemento de desordem social, mas fiéis defensoras das tradições nacionais.
Essa personalidade terá de afirmar-se, antes de mais nada, na dignidade pessoal. A educadora familiar rural - seja esta assistente, monitora ou simples auxiliar - estará sempre em foco na aldeia. Tudo nela deve, pois, ser educativo: palavras, atitudes, modo de vestir. Para educar não é suficiente preleccionar: é preciso possuir qualidades e dar bom exemplo.
A formação moral e religiosa é parte importante do programa. Mas não basta.
Nenhuma ocasião de educar deve ser desperdiçada; de todos os acontecimentos se devem tirar lições de vida. Chamar a atenção... frisar o aspecto moral, familiar, social... E de tudo, do que é bem o do que é mal, do que é belo e do que é feio, colher ensinamentos, dados com elevação, mas dentro das realidades, de modo a despertar o sentido da observação e a criar um critério esclarecido e justo.

Já dentro da escola devem ser aproveitadas e valorizadas as qualidades naturais das raparigas, confiando-lhes serviços e responsabilidade».

17. Formação familiar e doméstica. - Se todo o ensino deve ser preparação para a vida, uma escola que tem por objectivo preparar agentes da educação familiar, mais do que nenhuma outra, deve procurar formar verdadeira espiritualidade familiar, ao mesmo tempo que ministra conhecimentos e desenvolve aptidões domésticas.

A formação doméstica compreenderá todos os trabalhos caseiros: limpeza e arranjo do lar; culinária e composição das refeições; costura e corte; lavagem, engomagem e tratamento de roupas; contabilidade doméstica; pequenas indústrias caseiras.

O ensino deve ser essencialmente prático, sem excesso de intelectualidade e de técnicas descabidas, dado de modo simples, fazendo compreender o porque das coisas, para corrigir defeitos e melhorar a execução. É também necessário atender às fracas possibilidades do meio rural, em que as raparigas terão de agir. Encontrando-se este ainda bastante atrasado, seria um erro, por exemplo, utilizar na formação das auxiliares rurais a última palavra dos utensílios modernos, com a intenção de facilitar ou aperfeiçoar o serviço doméstico da mulher do povo.

O que não quer dizer que não se inculquem às auxiliares rurais todas as iniciativas de ordem técnica e metódica que possam aliviar a tarefa da dona de casa, mas dentro das suas possibilidades reais.

Conviria que na escola existissem algumas dependências que fossem um modelo autêntico e perfeito das casas rurais da região.

Nas nossas escolas elementares os problemas familiares e domésticos - têm de ser encarados, não segundo formas intelectuais e livrescas ou no panorama estrangeiro, decalcando programas e arremedando costumes, mas no ambiente da nossa pequena casa lusitana.

A formação estética deve inspirar-se nesta fórmula (aliás conveniente a todos os níveis de vida: simplicidade e bom gosto, aplicável ao arranjo da casa, ao modo de vestir, e até ao apreço pelos trabalhos regionais, quase sempre mais belos, mais úteis e mais duradouros do que as «fantasias» modernas.

18. Formação agrícola. - No nosso povo muitas vezes a mulher participa nos trabalhos agrícolas; por conseguinte, na formação das auxiliares rurais deve incluir--se a aprendizagem agrícola, orientada especialmente no sentido da utilidade familiar; e esta não deve consistir apenas em noções teóricas de agricultura, mas na participação de certos trabalhos do campo. O serviço da horta e do jardim deverá ser assegurado pelas alunas, em grupos que se revezam. (É preciso ter cuidado em não fazer formação agrária a moda das «pastoras» do Trianon de Versalhes l). Não é bastante que à beira da escola exista um quintal ou uma granja... que outros cultivam. Evidentemente que não se pode pedir às alunas trabalho aturado ou excessivo para as suas forças. Mas é preciso que aprendam sem ser somente em teoria. Lacticínios, avicultura, cunicultura, apicultura, fruticultura, conservação dos produtos, criação e tratamento de animais das espécies pecuárias, serão também objecto de ensino prático.

19. Formação social. - A formação social deverá fazer-se na proporção modesta da situação e da função da auxiliar rural.

E, porque o centro familiar e a Casa do Povo irão ser especialmente o seu campo de trabalho, deve encaminhar-se a formação social tendo em vista a colaboração que nesses meios lhe será pedida.

Não se trata de ensinar grande metodologia de serviço social, mas de despertar o sentido social e estimular o desejo de servir na vizinhança, na freguesia, nesta ou naquela instituição ao seu humilde alcance.

A ocupação dos tempos livres deve merecer especial cuidado na formação social da auxiliar rural: canto, danças regionais, jogos, organização de serões, representa-