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480 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.º 31

culos, Pedro de Betsaida percorreu quase a mesma via, desconhecido, pobre, descalço. Desde então a linha ascensional do pontificado romano elevou-se até esta culminância atingida por Pio XII.
Mas significativa foi igualmente a impressão causada em ambientes estranhos ao Catolicismo. Onde quer que a rádio ou a imprensa levaram a dolorosa notícia, muitos, sem distinção de raça, religião, língua ou condição social, se inclinaram respeitosamente perante a admirável figura de Pio XII.
Chefes de Estado, como Eisenhower, Isabel II, Nasser e Maomé V; bispos de confissões protestantes, como Dibellius, de Berlim, Fisher e Vine, de Londres, e Dahlbey, da América, ou ortodoxos, como Makários, de Chipre; rabinos judeus, como Brodie, de Londres, e Rodin de Nova Iorque; políticos, como Nixon, americano, Gol da Heyer, israelita, Málix, presidente da assembleia geral da O.N.U., Krishna Menon, indiano, e Mendès-France, judeu francês, manifestaram nos melhores e mais significativos termos o seu desgosto e a sua admiração. A estes sentimentos se associaram ainda assembleias científicas, governos e parlamentos de várias nações. Na Câmara italiana, quando o presidente proferia algumas palavras de homenagem ao grande morto, todos os parlamentares, até mesmo os comunistas, sem nenhuma excepção, se ergueram e mantiveram de pé.
E bem mereceu tudo isto Pio XII. Primeiro, porque, fiel u sua missão, ao magistério consagrou o melhor da sua inteligência (privilegiada e da sua vastíssima cultura. Em nada menos de quarenta encíclicas tratou sapientemente, além de múltiplos assuntos de carácter propriamente teológico, litúrgico ou bíblico, questões como a da paz, a dos males da sociedade moderna, a da infância abandonada, a das missões, a dos acontecimentos da Hungria, a do cinema. Nas suas mensagens de Natal, sempre esperadas e ouvidas com o maior interesse por toda a parte, incansavelmente pregou as bases da verdadeira paz e da ordem interna dos estados, a iniquidade da perseguição religiosa movida pelo comunismo ateu, o regresso a Deus no campo social e internacional, a alma cristã a dar ao progresso material e à técnica, a convivência internacional e tantos outros temas de transcendente importância.
Ficaram célebres e mil vezes foram citadas estas palavras, em que exprimiu e sintetizou o seu ideal de paz: «com a paz nada está perdido, com a guerra tudo pode esta», «como não pode haver paz sem ordem, também não pode haver ordem sem justiça». No seu pensar, «a justiça exige que a autoridade legitimamente constituída seja pelos seus súbditos respeitada e obedecida, as leis sapientemente ordenadas para o bem comum e conscienciosamente observadas, os sacrossantos direitos da liberdade e dignidade humana reconhecidos e tutelados, os bens e as riquezas por Deus deixados no Mundo para utilidade dos seus filhos convenientemente distribuídos».
Nos seus discursos -2500 desde 1939 a 1957-, feitos a variadas classes de pessoas, abordou com surpreendente competência os mais importantes problemas de carácter religioso, social, científico, artístico, político, quando relacionado com a religião, e moral. Sobe constantemente o número de volumes que estão a ser publicados com o muito que ficou a ser fruto deste seu ministério da palavra.
Outra notável faceta da personalidade de Pio XII fixou-a um jornalista americano, aliás protestante, nestas palavras: «Foi um Papa acessível e conhecido entre todos os povos da Terra. Em um só ano, e apenas dos Estados Unidos, viu ré mil pessoas foram por ele recebidas. Apertou a mão a chefes muçulmanos e protestantes, a camponeses e parlamentares, a cantores líricos e actores cinematográficos, a Primeiros-Ministros e a desportistas. A sua voz chegava a milhões de pessoas estranhas à Igreja. Calcula-se que a mensagem do Natal de 1956 teve 100 milhões de ouvintes. Dispunha de um verdadeiro poder de atracção das multidões. De 1939 a 1907, apenas, em algumas das suas audiências, recebeu cerca de 30 milhões de pessoas. Entre estas contaram-se vinte e três mil domésticas, trinta mil soldados desmobilizados, cinco mil doentes, oitocentos médicos, trinta e cinco mil operários, mil ferroviários e cento e cinquenta mil jovens de ambos os sexos.
Movidos certamente pela grandeza do seu alto cargo, mas ainda mais pelos extraordinários dons da sua personalidade e sobretudo pelos seus sentimentos profundamente humanos, grandes deste mundo, embora não comungando. na sua fé, dele se aproximaram e colheram a mais profunda impressão. Basta citar homens de Estado, como Dulles, Hammarskjold, Nehru, Soekarno, Teodoro Heuss e René Coty; soldados, como Montgomery; príncipes, como Akiito, do Japão, e Moulay Hassan, de Marrocos. Desde Carlos Magno que um chefe de Estado francês não visitava o Papa e a última visita de um alemão da mesma categoria datava de há cinquenta e quatro anos.
Não é possível focar aqui todas as obras em que se tornou benemérita a sua pessoa, por exemplo, em ser caritativo com os prisioneiros, sinistrados e refugiados de guerra, emigrantes e doentes, perseguidos e exilados; compreensivo e generoso com os artistas; amigo dos operários, aos quais dirigiu dezoito importantes documentos e recebeu aos milhares; paternal com as crianças e os jovens. O Mundo inteiro conhece, aliás, esta epopeia de luz e amor, e por isso mesmo talvez nenhum outro Papa, à hora da morte, tenho sido, simultaneamente, mais chorado e glorificado, em nenhum outro às três coroas da tiara poderá ter sido aplicado o tríplice significado da piedade, da ciência e da caridade.
Pio XII faleceu, mas o Papado continua. Tem promessas divinas de permanência eterna. Após dois dias de Conclave, o cardeal Canalli pôde anunciar da varanda da Basílica de S. Pedro à cristandade inteira a «grande alegria» de ter sido eleito novo Papa, na pessoa do Cardeal Roncalli, com o nome de Joào XXIII.
Logo de todos os países livres não tardaram as mais expressivas manifestações, mesmo oficiais, de confiança e felicitação. E novamente vozes se ergueram, desta vez a aclamar, em campos e meios nada permeáveis à simpatia pelo Vaticano. Até o patriarca Alexis, dominado pelo Kremlin, achou que não podia ficar em silêncio, embora fosse pouco feliz no que disse. «Não creio - escreveu-se da América - que a eleição do Presidente dos Estados Unidos tenha tido alguma vez aqui maior relevo do que a do Pontífice reinante».
Ao luto sucedeu a aurora de um novo pontificado, que a longa experiência diplomática e pastoral, a cultura e a piedade, a bondade e a prudência do eleito fazem adivinhar oportuno e fecundo. «Toda a minha vida procurei deixar aos outros os primeiros lugares, mas a Providência empurrou-me sempre para a frente». Esta frase de João XXIII revela uma alma, marca um destino, garante uma certeza, abre o coração a grandes esperanças. De facto, ele tira a sua origem de modestos camponeses, habitantes em humilde aldeia do Norte da Itália. E daí passou a Bergamo primeiro e depois a Roma, para estudar, servir e fazer apostolado; de Roma a Sofia, Atenas, Constantinopla e Paris, onde, durante anos, exerceu difíceis e delicados cargos diplomáticos do