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18 DE FEVEREIRO DE 1972 1201

Outro inimigo ameaçava entretanto a vinicultura nacional: o consumo de cerveja.
A Câmara de Lisboa insurgia-se, em 1689, contra esta perspectiva. A cerveja ficava por baixo preço, pois fabricava-se de cevada torrada e água. «É lástima que os estrangeiros até com agua choca (que para eles e melhor) nos tirem o dinheiro do reino; se isto se permite, muitos deixarão as vinhas.»

18. Numa resenha sobre aspectos da história da vinha e do vinho em Portugal, cabe lugar de relevo a região do Douro e ao vinho do Porto.
Na bibliografia português a sobre o vinho, a região do Douro «o vinho do Porto deram talvez origem ao maior numero de trabalhos e a algumas das mais valiosas publicações.
Desde a alta Idade Média, nomeadamente a partir do século XI, que os homens plantam vinhas nas escarpas do Douro.
O actual vinho do Porto era chamado de «Riba Doyro» ou «Cima Doyro» (o que já indicava, uma distinção) quando a sua área ainda não se encontrava perfeitamente definida.
Dimão de Góis falaria do Douro como região da amêndoa e do vinho generoso.
«Além das condições geológicas e climatológicas, a uva bastarda parece ter contribuído para o conhecimento e certa preferencia dada a este vinho. Rui Fernandes, Croft e Rebelo da Fonseca são unanimes em afirmar que a uva bastarda e aquela que melhores características possui para se fazer um bom vinho generoso. Vinhos velhos, cheirosos e odoríferos lhe chamaram Camões e Gil Vicente.»
Documentos do século XIV revelam que os barcos desciam a Riba Doiro carregados de pão, frutas e vinhos.
O comercio de vinhos, com suas imposições e regulamentações, a fabricação e venda de arcos de pipas e toneis, faziam parte das actividades dos habitantes do Porto e de Gaia. Mas era Lamego que constituía, no século XV, o centro do comércio do vinho do Douro. Dai ainda a designação comum de «Vinho de Lamego».
Quando, na primeira metade do século XVII, os ingleses passaram a localizar no Porto a sua actividade, relativamente ao vinho, davam continuidade a um labor que já antes se manifestara com o vinho de Monção e o vinho de Lamego.
Na verdade, a primeira presença inglesa no comércio de exportação dos nossos vinhos parece dizer respeito ao vinho de Monção 29.
Em Março de 1261, D. Afonso III concedeu foral aos habitantes de Monção para a posse de vinhas.
Há noticia de que em 1295 foi paga pela Inglaterra uma pipa de vinho português por três libras para a entronização de um novo bispo.
Remontam a 1300 outras noticias de exportação. Em 1340 os piratas assaltaram barcos com vinho.
O trafego dos vinhos de Monção era feito por Viana e em odres. O movimento de exportação progrediu em barcos próprios. Os Ingleses mandaram vir tanoeiros do seu pais para enumeram os de Monção a fazer barris para a exportação do vinho.
O vinho chegou a ser exportado através da Terra Nova, trocado por bacalhau. Gerou-se mesmo a tradição de que passando pela Terra Nova, o vinho ganhava certas qualidades.
Nos meados do século XVI dava-se conta, nos portos de Viana e de Vila do Conde, de vinhos de Monção e de Lamego, mais caros cerca de um terço do que os da terra.
A presença da colónia inglesa, em Viana, no negócio de vinho durou até ao século XVIII. Ai existiu uma feitoria (com armazéns nas duas margens do Lima). Além de um cônsul, dava-se conta de um clérigo e até de agentes cuja intervenção se estendia as culturas e a limitação de zonas da melhor qualidade.
Da correspondência e diário do britânico Thomas Woodmass ficaram notas sobre este interesse. Seu pai mandou-o, em 1703, a Viana para se inteirar dos preços, colheitas, qualidades e escolha do vinho a importar.
A guerra em que se envolveram, em 1679, a Inglaterra e a Franca, trouxe consequências benéficas para o comercio de vinho português na Grã-Bretanha. Os Franceses tinham sido, durante séculos, os grandes fornecedores de vinho aos Ingleses. O Governo Britânico proibiu essa importação. Dai a necessidade dos comerciantes desce país de encontrarem outras fontes de abastecimento.
Os registos autênticos das alfândegas inglesas revelam, nestes termos, a entrada no seu país de vinhos portugueses:

Tonéis
1675-1677 ......................... 279
1678-1680 ......................... 2 215
1681-1683 ......................... 32 350
1684-1686 ......................... 13 085
1687-1689 ......................... 1 446

20 Cf., por exemplo, José Cerqueira Machado, «A fama dos vinhos de Monção e a tradição do comercio inglês», in Jornadas Vitivinícolas - 1962, - edição dos Anais da Junta Nacional dos Vinhos, vol. IV, pp. 273 e segs.
Escreve-se em certo passo deste trabalho:

Os créditos de Monção mantiveram-se durante séculos, até à derrocada geral dos vinhos Portugueses com a crise filoxérica, sem nunca se confundirem com os de outras regiões. Não eram vinhos de plebe, mas fidalgos de velha estirpe e nobreaa reconheeida, a ponto de que, sendo proibida mais casas. nobres a venda de qualquer vinho a retalho, só os fidalgos de Monção tinham o privilégio de os atabernar.

Para uma resenha da evolução do comércio de importação de vinhos na Grã-Bretanha, cf. o trabalho de Jaime Lopes Amorim, «Influência da política aduaneira da Grã-Bretanha sobre o comércio de vinhos neste país», publicado nos Anais do Instituto do Vinho do Porto 1942, vol. I, pp. 5 e segs.
30 Cf. «Tratado de Methuen», in Dicionário da História de Portugal, vol. III, p. 51.
História de Portugal, edição de Barcelos, vol. VI, p. 403.
O Instituto do Vinha do Porto vem realizando meritória tarefa editorial. Saliente-se a publica ao doa Anais do Instituto do Vinho do Porto (1940 a 1969), que têm recolhido utilíssima colaboração sobre os mais diversos aspectos particularmente relacionados com a vitivinicultura da região do Douro.
Nos Anais de 1)946, vol. I, publicou-se o «Esboço de uma bibliografia», trabalho realizado pelos serviços do Instituto do Vinho do Porto, que de um exaustivo documento onde se assinalam 3305 obras.
Nesse mesmo volume inseriu-se ainda um aditamento que referencia mais 104 trabalhos. Posteriormente, no Anuário de 1947, foi publicado um segundo aditamento com mais 540 títulos.
A presença do vinho do Porto na história, na arte, na literatura e no turismo constitui relevante expressão do nosso património cultural.
Cf., a tal propósito, o Guia de Portugal, edição da Fundação Calouste Gulbenkian, t. II, vol. v, pp. 515 e segs., e, sobretudo, a bibliografia aí assinalada.
27 Magalhães Godinho, «Portugal, as frotas do açúcar e as frotas do ouro», in Revista de Historia, ano IV, n.° 15.
28 José de Lencastre, A Vinicultura através de Alguns Documentos Medievais de Arquivos Portugueses, cit.? P. 81.