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1200 ACTAS DA CÂMARA CORPORATIVA N.° 94

o cântaro é, evidentemente, uma reminiscência de cantharus, com o sentido um pouco desviado, e adega, enfim, formara-se de apotheca, que tem, contudo, antes um caracter literário, pois a linguagem popular usa, de preferencia, loja, de origem germânica, e com mais propriedade, porque nela não existem os refinamentos da apoteca.» 18
Aos sete séculos de domínio romano seguiu-se a presença dos povos bárbaros na Península. Do tempo dos Suevos e dos Visigodos conhecem-se referencias a cultura da vinha.
Três séculos depois ocorre a conquista sarracena. É natural que nos cinco séculos seguintes (VIII-XIII) a expansão da vinha tenha deparado com o impedimento levantado pela religião islâmica ao consumo de bebidas alcoólicas. No entanto, sabe-se, por documentação posterior, que nessa época a vinha alastrava pelo Alentejo, Estremadura e Beira central, sobretudo na região de Coimbra.

16. No Portugal agrícola medieval a ordem decrescente das culturas parece ter sido a seguinte: matos maninhos, azinhos e carvalhos, terras de criação de gados, terras de centeio e cultura de outros cereais, vinha ...
Todos os reis medievais Portugueses procuraram dar impulso a agricultura, fomentando o aproveitamento de terras, o comércio dos produtos agrícolas, enfim, o desenvolvimento da vinha.
Os mosteiros, como grandes centros de cultura rural, intensificaram igualmente a sua propagação. As iluminuras do Apocalipse de Lorvão, belo códice do século XII, são testemunhas sugestivas de uma actividade que, na expressão de Gama Barros, constituiria ramo muito importante do comercio interno e externo.
0 direito de relego dava prioridade de venda ao vinho do rei e constituiu, por toda a parte, um dos grandes rendimentos da Coroa.
Como cultura de colonização, deve-se a vinha o próprio adensamento das populações e o fortalecimento do erario regio. No reinado de D. Afonso IV recebiam-se 1200 dobras anuais de imposto sobre o vinho.
E ainda de D. Afonso IV, numa hora em que a peste negra dizimava a Europa, a imposição de trabalharem nos seus antigos misteres de cavadores, podadores e vindimadores todos os que tinham abandonado estes trabalhos na mira de maiores lucros ou por se julgarem independentes gramas as heranças recebidas dos que morreram vitimados pela peste.
No reinado de D. Fernando a vinicultura conheceu particular desenvolvimento no Sul do País. 0 fruto das acertadas medidas económicas do monarca traduziu-se em la na circunstancia de a maior parte dos rendimentos que arrecadou, nos primeiros anos do seu reinado, provirem dos impostos sobre a exportação do vinho.
Fernão Lopes da conta das grandes quantidades de vinho então exportadas:

Soomente de vinhos foi huum anno achado que se carregarem doze mil tonnees, afora os que levaram depois os navios na segunda carregaçem de Março.

A exportação de vinhos para a Inglaterra aumentou no reinado de D. João I, fruto da intensificação de relações entre os dois países e da quebra na produção vinícola italiana, que alimentava o mercado inglês.
No tempo do fundador da dinastia de Avis eram afamados - sem falar dos vinhos do Douro, que sempre ocuparam posição de vanguarda - os vinhos da Ameixoeira, no termo de Lisboa. O Seixal e a Caparica veriam igualmente o seu nome distinguido, pela qualidade dos vinhos. Anos mais tarde, o nosso grande Camões
recordaria, a propósito de um banquete em Goa, o vinho da Caparica.

17. A sangria demográfica resultante dos descobrimentos e conquistas, as pestes, a emigração (particularmente para Espanha), tudo afectou o ordenamento agrário do Portugal europeu. Os séculos XVI e XVII são fortemente deficitários na produção de géneros fundamentais, nomeadamente trigo. Tal situação deu origem a que se chegasse a pedir a proibição de exportação de géneros agrícolas e de gado. O vinho, porem, não e mencionado nestas pretensas limitações, o que significa não ter a sua produção acompanhado, ao menos no mesmo ritmo, a quebra geral verificada nesse período.
Os negociantes de Lisboa carregavam-no nas frotas para a India 19, ao mesmo tempo que era de qualidade inferior o que se consumia em Lisboa em fins do século XVI 20.
Em 1641, o senado da Câmara Municipal de Lisboa lançou um imposto adicional de consumo de 1 real, para despesas de defesa ai. De resto, o real de agua sobre o seu consumo continuou sendo fonte de receitas do erário nos séculos XVII e XVIII 22.
Em 1649, o monopólio da sua introdução e venda nas terras do Rio Grande até S. Vicente é concedido a Companhia do Brasil 23.
Ainda neste período a produção do vinho era excedentária. Em 1641 o braço popular pedia nas Cortes que se dignificasse a profissão de agricultor e que se cumprisse a legislação que desde o século XV estabelecera as sesmarias, mandando entregar a outrem, para que as cultivasse, as terras cujo proprietário o não fazia. Insistia «que se guarde a ordenação e leis que se passaram sobre se darem as sesmarias, por ser grandíssima utilidade, e que se cultivem e lavrem. Os pães, que e a manteiga deste reino como se tem visto». Esta preferencia, reafirmada nos anos seguintes, pelo fomento do cultivo do trigo, revelava quanto a sua produção era escassa, o que não acontecia com o azeite e o vinho 24.
A situação vinícola deteriorava-se mesmo na abundância e na concorrência.
Em 1678 os viticultores do termo de Lisboa queixavam-se da impossibilidade em que se achavam de lutarem, no mercado da capital, contra os vinhos de outras regiões, importados pelo barra do Tejo. Estas. provinham de terras onde as colheitas eram abundantíssimas e podiam ser vendidos a pregos muito baixos.
Piou ainda era apresenta dos vinhos franceses e espanhóis. Portugal não só deparava com a dificuldade de colocação dos seus excessos de produção, como suportava, no mercado inferno, a conferencia da produção estrangeira.
Em 1683, a regente proibiu a importação dos vinhos de Castela e da Catalunha. Não pôde, contudo, fazer o mesmo em relação aos franceses.

Alberto Sampaio, Estudos Históricos e Económicos, vol. I, p. 111.
19 Historia de Portugal, edição de Barcelos, vol. III, p. 653, e vol. IV, p. 76.
20 Historia de Portugal, edição de Barcelos, vol. III, p. 653, e vol. IV, p. 76.
21 Historia de Portugal, edição de Barcelos, vol. VI, p. 23.
22 Historia de Portugal, edição de Barcelos, vol. VI, p. 375.
23 História Portugal, edição de Barcelos, vol. VI, p. 395.
24 Historia de Portugal, edição de Barcelos, vol. VI, p. 401.