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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 109 52

e a que se poderão agora juntar as possibilidades de navegação até à fronteira e as exigências da defesa nacional?
O Tejo, a montante de Alvega, corre entre margens pedregosas, formadas de granitos, xistos e quartzites, nas alturas de Ródão, A conjugação das cheias torrenciais que vêm de Espanha com as dos seus principais afluentes, o Zêzere e o Ocreza, que provêm da Estrela e Guardunha, causa as grandes cheias do Ribatejo. Para aã corrigir torna-se necessário corrigir o próprio Tejo e estes dois grandes afluentes.
As máximas cheias de inverno não são, no dizer de (intendidos, aquelas que produzem maiores estragos: há quem as suponha mesmo benéficas.. No dizer de um especialista: «as grandes cheias nem é possível nem conveniente que deixem de entrar nestes campos, uma vez que o não façam por forma tumultuosa e desordenada, sob pena de a região feracíssima que borda o rio perder 90 por cento do seu valor». A corrente deve ser moderada, as águas clarificadas de modo a provocarem e favorecerem o depósito de nateiros que vêm em suspensão. E isto consegue-se, não pela retenção total das cheias, que de resto é impossível, mas peta criação de obstáculos quo moderem a velocidade das grandes torrentes - e ao mesmo tempo evitem as chamadas àzielas ou pequenas cheias de outono e principalmente da primavera- que estragam, sem compensação, as culturas feitas. E, assim, o que é necessário é proceder a obras que evitem que grandes massas de águas acorram ao mesmo tempo e de repente.
De tudo se couclue que se as grandes torrentes de Espanha, do Ocreza e do Zêzere fossem dominadas pela construção de uma série de barragens se alteraria profundamente o regime das cheias.
Este, Sr. Presidente, é um aspecto do problema. O outro diz respeito u própria navigabilidade do Tejo. Não sobra o tempo para traçar agora a sua importância histórica, a sua influência e as suas possibilidades. Basta dizer que não há obstáculos sérios que impeçam essa navegação por barcos relativamente grandes até montante de Abrantes depois de regularização conveniente do rio. O problema mais difícil está para cima, quando o leito se torna pedregoso e apertado.
Finalmente, o terceiro aspecto reside na defesa, nacional. A armazenagem de grandes volumes do água constituo perigo sério e grave, sobretudo em zonas sujeitas a cheias. Qualquer empreendimento tem de considerar a possibilidade de um dia poder haver uma rutura -voluntária ou acidental-, e o desprendimento de enorme massa de água viria a arruinar sem remédio uma extensa e rica zona muito povoada.
Estes aspectos -o das cheias,, o da navegação, o da defesa nacional-, além dos que se referem ao custo de energia e mercados consumidoras,- constituem no fundo o problema do aproveitamento da bacia hidrográfica do Tejo português.
Estudos demorados, feitos até hoje na bacia do Zêzere, culminaram, depois de terem sido encorados várias soluções, na construção de uma barragem em Castelo do Bode, não longo de Constância. As suas características principais são:

Altura da barragem - 113 metros.
Agua armazenada (total) - 1:100 milhões de metros cúbicos.
Capacidade útil - 875 milhões de metros cúbicos.
Potência disponível 83:900 KW.
Despesa total (antes da guerra) - 250:000 contos.
Produção anual - variável entre 168 e 336 milhões de kWh.
Volume total de betão - 718:600 metros cúbicos.
Volume das escavações - 174:500 metros cúbicos.
Extensão da albufeira à cota de 121 metros - 59
quilómetros.
Área inundada - 3:450 hectares.

Continua a haver opiniões divergentes sobre a construção desta barragem, mas suponho que na opinião da maioria, e tendo em conta apenas o aspecto económico do custo por unidade de energia, esta é a melhor solução, se te considerar apenas o baixo Zêzere. Os seus inconvenientes, nos outros aspectos, são patentes e graves.
Não ajuda a navegação do rio Tejo acima de Constância. Não é elástica, visto ter de ser feita de uma assentada e ter de produzir logo de começo o máximo ou quási o máximo das sitas possibilidades, sob pena de perder as características económicas que porventura possua. A queda é inteiramente formada por uma: barragem que fica sendo talvez a mais alta da Europa e que armazena para cima de um bilião de metros cúbicos do água. Qualquer rotura nessa barragem teria como resultado o desprendimento de enorme volume de água, com consequências que ninguém, no presente momento, pode avaliar, tam terríveis elas seriam para a vasta, rica e densamente povoada zona do Ribatejo.
O seu custo envolve o gasto de 250:000 contos, conforme orçamento antigo feito sobre um anteprojecto. Baseado em estimativas semelhantes, calculadas sobre projecto definitivo de empreendimento parcialmente executado e com máquinas encomendadas também antes da guerra, posso informar que, se aquela cifra for multiplicada por dois, o custo se avizinhará mais da realidade. Ponhamos 500:000 contos mas isto representa apenas uma estimativa, porque no momento actual não é possível fazei orçamentos, mesmo aproximados.
Estes são os principais aspectos da obra do Castelo do Bode: inclásticos, não ajuda a navegação do Tejo para cima de Constância; armazena volume de água perigoso num local que domina uma das mais ricos e povoadas zonas do País. Parece ser económico, mas muito menos do que o que os estudos preliminares mostram; ajuda a resolver o problema da energia na zona central do País e concorre para melhorai o regime das cheias do Tejo, a jusante da sua confluência, em Constância.
No ponto de vista técnico, a sua execução, tanto quanto se pode avaliar do exame do anteprojecto, não parece sei impossível, se bem que não haja prática de obras deste género no País. Obras hidráulicas que têm de suportar grandes pressões e necessitai de descarga de grandes, volumes de água em cheias, assentes sobro xistos e gneisses do tipo dos de Castelo do Bode, suo muito delicadas. Pode acrescentar-se a existência de uma falha no fundo do vale, localizada por intermédio das perdas de água.
Há quem tenha a opinião de ser possível aproveitar o baixo e médio Zêzere por uma série de barragens menos perigosas, que levariam ao mesmo objectivo. A solução não foi convenientemente estudada e sobre ela nada de positivo se pode dizer.
Resta, na bacia hidrográfica do Tejo, o próprio Tejo e o Ocreza. O Tejo corre entre margens fragosas desde Alvega até à fronteira. O Ocreza desagua perto de Barca da Amieira e vem desde a Guardunha entre margens mais pedregosas ainda do que as do Tejo. As cheias num e noutro destes rios contam-se entre as mais prejudiciais de Portugal e no Ocreza são, pode dizer-se, instantâneos. De um momento para outro enchem de quási uma dezena de metros o leito do rio.
A regularização do Tejo e do Ocreza, com uma série de quatro ou cinco barragens, produziria cerca de 300 milhões de unidades de energia, certamente mais, se convenientemente estudado o sistema, do que é possível