92 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 113
oficiais o nome glorioso do João de Azevedo Coutinho, que, mercê de altos feitos praticados em terras de África, foi então proclamado benemérito da Pátria.
Restituir a farda a quem tam bem soube honrá-la, além de acto de justiça, é homenagem que não atinge sómente o homenageado, mas ainda a própria armada em que serviu e que agora é meio através do qual a Nação procura distingui-lo.
Por mim, se em vez de ser Ministro ocupasse neste momento a minha cadeira de Deputado, daria à proposta de V. Ex.ª não apenas o meu voto, mas caloroso aplauso.
De V. Ex.ª Mto. Ato. e Obgdo. - M. Ortins de Bettencourt.
20 de Janeiro de 1942.
Tenho dito.
O Sr. Hintze Ribeiro: - Sr. Presidente: longe, bem de longe, na cabina de uma emissora, ouvi a retransmissão do que se passou nesta sala, na memorável sessão de 19 de Dezembro último. Ouvi o rumor das conversações animadas, o borborinho das galenas, a chamada dos Srs. Deputados, V. Ex.ª declarar aberta a sessão, e depois o silêncio impressionante que se produziu quando S. Ex.ª o Sr. Presidente do Conselho subiu à tribuna; ouvi a sua voz, firme, pausada e serena, mas que não deixava de por incisiva quando preciso era que o fosse, fazer o relato dos acontecimentos passados em Timor, das negociações e diligências feitas anteriormente a esse inesperado ataque à nossa soberania.
Ouvi tudo, como se presente estivesse, e de facto presente em espírito estava, profundamente emocionado e subjugado pela exposição de S. Exa., pela verdade que ressaltava das suas palavras, verdade que sempre usa quando tem de comunicar com a Nação e que tam fundo cala no espírito de quem o ouve.
O processo está em aberto, e por isso limito-me a dizer a V. Ex.ª, Sr. Presidente, que, se presente estivesse, os meus aplausos, quentes, vibrantes, sentidos e entusiásticos se juntariam à manifestação de completa solidariedade e admiração que nesta sala foi feita ao Chefe do Governo, afirmando agora o meu pesar por não ter podido, pela distância a que me encontrava, comparecer à sessão.
Sr. Presidente: a outro assunto de transcendente importância me vou referir, não o tendo feito na devida altura por não estar também presente à sessão. Se presente estivesse, eu teria secundado as palavras de V. Ex.ª e de alguns Srs. Deputados meus ilustres colegas quando se referiram à viagem do Chefe do Estado aos Açores, dando-lhe, também, o devido relevo.
Vivi êsses momentos inesquecíveis, assisti ao desembarque de S. Ex.ª em Ponta Delgada, à apoteótica recepção que teve índice de quanto os açoreanos veneram a Pátria Portuguesa, nesse momento consubstanciada no seu mais alto representante-acompanhei as manifestações de que S. Ex.ª ininterruptamente foi alvo, o carinho, a veneração que lhe tributaram, e a forma acolhedora, gentil e pressurosa por que S. Ex.ª agradecia o entusiasmo com que era recebido.
A viagem de S. Ex.ª o Chefe do Estado teve pleno e justificado êxito, como outra cousa não era de esperar, e o futuro dirá do alcance político que teve e terá.
Pena ser tam rápida a passagem do Chefe do Estado por terras açoreanas!
S. Exa. passou como um meteoro que deixa um rasto luminoso, cujo brilho ainda perdura e perdurará na memória de quantos à sua visita assistiram, e breve, na reeleição de S. Exa., terão ocasião de lhe patentear o seu reconhecimento, admiração e veneração.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem! Muito bem!
O Sr. António Pinheiro Torres: - Sr. Presidente: o regresso do António Ferro da sua visita oficial ao Brasil põe em evidência, mais uma vez, a política atlântica do Governo, a que o génio de Salazar deu definitivo sentido na famosa nota sobre as comemorações centenárias, de viva permanente e saudosa memória.
Os termos do convite feito à grande nação irmã para que connosco viesse fazer as «honras da casa» nas maravilhosas Festas da Raça comuns, a maneira como o Brasil soube participar nelas, vivendo-as com igual orgulho e entusiasmo de quem lhes gira nas veias o mesmo sangue heróico, missionário e colonizador, de quem fala o mesmo idioma que Camões imortalizou, criando «a grande pátria da língua, a Pátria Maior dos portugueses e seus desceu dentes, no dizer do académico brasileiro Gustavo Barroso, as manifestações que, desde então, se seguiram em todos os campos marcam uma nova era na política das nossas relações com a grande nação portuguesa da América.
Ainda há pouco nesta Câmara se encareceu e elogiou, por forma eloquente (dessa cadeira e destas bancadas), a acção da embaixada extraordinária que à grande nação irmã foi levar o nosso agradecimento pela parte que tomou nas Festas Comemorativas da Fundação e Restauração da Nacionalidade. Por essa mesma ocasião foi lembrada a missão económica que ali foi também para estudar a celebração dum tratado de comércio, para cujo fim está entre nós, neste momento, uma igual missão brasileira.
Os actos de estreitamento de relações sucedem-se, e constatam-se, de parte a parte, manifestações inequívocas de ligar, de uma vez para sempre, portugueses e brasileiros - de os reconduzir, bem unidos, às «sagradas fontes da lusitanidade», de que em momentos de oratória feliz nos fala Oswaldo Aranha.
António Ferro é um dos grandes agentes dessa política.
A sua acção, verdadeiramente notável, completa as restantes é o fecho de uma magnífica construção diplomática.
Ela foi exercida especialmente no campo cultural.
O acôrdo que nesse sentido se elaborou entre Portugal e o Brasil não tem par no mundo, tam alheio em regra às cousas do espírito ...
Por este acordo encontrou-se a fórmula de as duas nações se conhecerem intimamente - pela propaganda recíproca, no campo espiritual e cultural, pondo ao seu serviço as artes, as letras, o jornalismo, o cinema, a rádio e, emfim, todas as múltiplas expressões do pensamento, da inteligência e da sensibilidade.
Êle visa a criar o clima português no Brasil e o clima brasileiro em Portugal por tal forma que, como o definiu António Ferro, «nunca um português se sentirá estrangeiro no Brasil, como nunca um brasileiro se sentirá estrangeiro em Portugal».
Nesta síntese feliz está todo um programa, toda uma política de superiores objectivos, que o ilustre director do Secretariado da Propaganda Nacional soube realizar com êxito indiscutível.
O País fica-lhe devendo um assinalado serviço de larga projecção no futuro e que no presente já conta com efectivas e impressionantes1 realidades.
Com efeito, a acção de António Ferro tem a coroá-la as declarações que lhe fez o Chefe do Estado Brasileiro, e que andam decoradas na memória de todos nós, e provocou os expressivos agradecimentos do Sr. general Carmona.
O director da Emissora Nacional não podia esperar melhor recompensa ao seu esforço do que vê-lo coroado de tam retumbante, êxito, revelado pelas palavras tam