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19 DE JUNHO DE 1945
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caminho de reorganização que as leve a refrescar e aperfeiçoar os seus métodos.
Vozes: — Muito bem!
O Orador: — A indicação positiva e firme nesse sentido — eu não irei ocupar as atenções de V. Ex.as com pormenores — foi dada por diversas vezes, particularmente no debate de 1938, sôbre tarifas.
Quási todos os Srs. Deputados intervenientes em 1938 e os que porventura interpelaram antes da ordem do dia, mesmo até alguns membros do Govêrno muito ilustres, bateram esta tecla: é necessário melhorar os serviços para se acabarem as reclamações por parte do público.
É portanto, Sr. Presidente, preciso que acabe êste pessimismo de se supor que em matéria ferroviária se não pode fazer mais nem melhor. Para isso suponho que uma reorganização, no sentido comercial, daquilo que é mais simples e viável poderia dar uma solução a êste ponto e de forma a acabar com tal pessimismo, que releva e vinca como que uma crise permanente, um fatalismo histórico, por parte das administrações. É necessário que alguma vez, ou, melhor, desta vez, seja dada solução de modo a acabar-se com o pessimismo e com as queixas constantes do público que viaja.
Não quero lembrar o que disse o Sr. Dr. Mário de Figueiredo ou o que disseram o Sr. Deputado Melo Machado e o Sr. Dr. Diniz da Fonseca. Lembro apenas que o Sr. Dr. Amorim Ferreira consignou que os nossos caminhos de ferro não estão preparados para o desenvolvimento comercial depois da guerra, nem apetrechados para acompanhar no futuro as exigências do pôrto de Lisboa e do seu interland, dado um possível aumento da nossa navegação.
Temos locomotivas antigas, caldeiras avariadas, parque de material deficiente, combóios congestionados, atravancados, mercadorias engasgadas, mas quero crer que não é isto inteiramente da responsabilidade das administrações. Não tenho elementos para acompanhar e apreciar completamente as considerações dos Srs. Deputados que aqui falaram, que vincaram a deficiente direcção com excesso de responsabilidades.
A nossa elite ferroviária mostra-se tarda ou relutante em atender as reclamações ou satisfazer os desejos razoáveis do público.
Que pretende êste, sobretudo?
Horários racionais, cómodos, velocidade crescente, fiscalização, que parece brilhar pela ausência, rapidez de cargas e descargas.
Mas devo também, em louvor do empreendimento ferroviário, constatar que entre aquilo que se passou na Grande Guerra de 1914 a 1918 e o que se passou agora, de 1939 para cá, é de elogiar tanto a Direcção Geral de Caminhos de Ferro como as emprêsas ferroviárias, que se esforçaram para melhorar os serviços. Felizmente nesta guerra não se viajava do Pôrto para Lisboa ou de Coimbra para o Pôrto gastando dois ou três dias, nem assistimos aos casos extraordinários: os soldados amontoados, ao abandono, quando começavam a sua marcha para a Flandres e a guarda e os empregados abrindo a marcha, em vagão descoberto.
Como eu ponho êste ponto de vista do lado do serviço público ou comodidade pública, sem acompanhar o Sr. Dr. Mário de Figueiredo no plano intelectual de distinção em que pôs aqui os princípios jurídicos fundamentais em matéria de coordenação, no fecho do debate na generalidade, também tenho um princípio, aliás muito repetido em todos os economistas: sempre mais depressa, sempre mais barato e sempre mais còmodamente. E, se quiser repetir o ensino dos economistas que mais se têm dedicado aos transportes, direi mesmo: sempre mais transportes (Apoiados). Portanto suponho que há vantagem em não resistir às reclamações e queixas do público.
Assim, examinarei de momento, como traço característico de que realmente o serviço é deficiente, um aspecto essencial: a questão dos horários.
Neste particular eu não quero referir-me aos felizardos que viajam do Pôrto para Lisboa nos rápidos cómodos e magníficos que são timbre e honra da velha C.P. de 1908; quero referir-me aos combóios usuais de longo curso, onde a maior parte das pessoas viajam e que atravessam o País desde a sua capital até à periferia da Nação. Êsses combóios, que são decisivos para o efeito da circulação neste País, seguem morosamente, arrastadamente, param em todas as estações, nunca mais chegam, perdem-se constantemente em atrasos incríveis. A concepção prístina que a êles preside há várias décadas é esta: combóio todo um dia, para ver a mesma païsagem; combóio toda uma noite, para dormitar sofrìvelmente.
Êsses combóios essenciais à vida do País têm de ser melhorados, acelerados — os seus métodos inteiramente refrescados...
O Sr. Querubim Guimarãis: — V. Ex.ª dá-me licença? V. Ex.ª não pertence ao número dos felizardos?
O Sr. Carlos Borges: — V. Ex.ª dá-me licença? Os felizardos existiam antigamente, porque, agora, mesmo nos rápidos Pôrto-Lisboa já não há felizardos.
O Orador: — Eu não vou dar a V. Ex.as, evidentemente, apontamentos incidentais; não me vou referir ao rápido Pôrto-Lisboa ou ao facto de êle andar mais hipertrofiado ou menos. Refiro-me aos combóios de longo curso usuais, com horários estabelecidos, que produzem viagens de longas horas.
Vamos a números.
Velocidades atingidas no decurso dos séculos:
Quilómetros à hora
Século XVII — Sege................. 2,2
Fim do século XVIII — Sege......... 3,4
1813 — Carruagem de molas.......... 4,3
1828 — Primeira locomotiva......... 6,5
1830 — Primeiro americano.......... 6,5
1840 — Outras locomotivas.......... 40
1848 — Diligência rápida........... 9,5
1863 — Combóio..................... 50
1889 — Combóio..................... 60
1900 — Combóio..................... 75
1910 — Combóio..................... 90
1935 — Combóio.....................130
Claro que se trata de velocidades máximas e o seu confronto é imperfeito, porque se lhes seguem velocidades médias, velocidades comerciais.
Encontro, por exemplo, o seguinte: combóios usuais de longo curso entre Lisboa e Pôrto — são 349 quilómetros em nove horas e trinta e sete minutos; em dez horas e dezanove minutos, e em doze horas menos cinco minutos. Isto corresponde a uma média comercial de 29 quilómetros à hora, a 36,7 quilómetros à hora.
Na linha de leste, 272 quilómetros em sete horas e vinte e cinco minutos, o que corresponde à média de pouco mais de 36 quilómetros.
No oeste, 272 quilómetros em sete horas e vinte e cinco minutos, ou seja o correspondente à média de 32 quilómetros à hora.
Na Beira Baixa, 355 quilómetros em catorze horas e treze minutos, correspondendo a uma média de 24 quilómetros à hora.