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16 DE DEZEMBRO DE 1946 171

Informo a Assembleia de que o Sr. Deputado Carvalho Viegas é presidente da Comissão de Defesa Nacional e essa Comissão tem de acompanhar a discussão, que principiará na próxima semana, da proposta de lei sobre reorganização dos estabelecimentos, fabris dependentes do Ministério da Guerra.
Parece, pois, que a autorização não deve ser concedida pelo motivo que acabo de mencionar. Entretanto vou consultar a Câmara, que resolverá soberanamente.

Consultada a Câmara, foi negada a autorização.

O Sr. Presidente: - Comunico à Câmara que o Sr. Deputado Bagorro de Sequeira veio à Mesa agradecer o voto de sentimento proposto pela morte de sua mãe e pediu-me também para transmitir à Câmara os seus agradecimentos.
Pausa.

O Sr. Presidente: - Comunico também à Camará que a Comissão de Educação Nacional escolheu para seu presidente o Sr. Dr. Mário de Figueiredo, para secretário o Sr. Deputado João Ameal e para relator o Sr. Deputado Marques de Carvalho.

O Sr. Ribeiro Cazaes: - Sr. Presidente: faz hoje um ano que ergui a minha voz nesta Casa para render a minha homenagem de saudade e devoção à memória de um soldado que me ensinou a ser soldado, de um chefe que me ensinou a ser comandante...

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Ribeiro Cazaes: dada a grandeza do assunto que V. Ex.ª está a tratar, convido-o a vir à tribuna.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Ribeiro Cazaes: - Sr. Presidente: se V. Ex.ª me permite, repetirei as palavras já proferidas.
Faz hoje um ano que ergui a minha voz nesta Casa para render a minha homenagem de saudade e devoção à memória de um soldado que me ensinou a ser soldado, de um chefe que me ensinou a ser comandante, de um português que me deu o mais alto exemplo de amor pátrio pela sua fé inquebrantável nos destinos de Portugal, pelo seu sacrifício heróico na luta contra a anti-Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ensinou-me a ser soldado lançando no coração de todos os que o cercavam a ambição, o orgulho, o fervor de servir.
Ensinou-me a comandar falando de olhos nos olhos dos seus soldados e ordenando como se fosse intérprete de ordens que recebesse de mais alto.
Foi o mais alto exemplo de amor pátrio da minha mocidade, porque tudo sacrificou - até a vida - para criar a geração do resgate.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: hoje, como há um ano, como já há muito tempo, não encontro melhor forma de honrar a memória de Sidónio Pais do que reafirmar que farei tudo, que tudo sacrificarei, para que não voltem a repetir-se os dias sombrios que enlutaram a nossa Terra, desde que Deus o levou.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sei que os cadetes de então - e hoje já muita neve vai na serra - pensam como eu.
Faço votos por que a mocidade de hoje seja orientada nesse mesmo sentido, isto é, no desejo de ir sempre mais alto e mais além, de olhos postos no lema da sua vida e que é hoje o da Revolução Nacional: Deus, Pátria, Família.
Sr. Presidente: como preito de homenagem à memória do grande português, do grande chefe da minha geração, e que ainda hoje nos comanda, peço a V. Ex.ª que sejam interrompidos os nossos trabalhos por alguns instantes.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Botelho Moniz: - Sr. Presidente: falou o meu camarada e querido amigo Deputado Ribeiro Cazaes sobre o aniversário da morte do Homem que na nossa mocidade nos guiou ao combate e com facilidade de verdadeiro chefe nos conduziu à vitória. Ele fez de nós, dos simples cadetes da Escola do Exército ou dos modestos alferes das guarnições do País, os colaboradores do Herói. E ao fazer-nos servir essa obra de redenção, obra extraordinária para o tempo, transformou-nos em verdadeiros precursores.
Os cadetes, ou simples alferes de modesto galão dourado, colaboradores do Herói, são os homens que tomaram para com a sua memória o compromisso de seguir sempre os ditames e a palavra de ordem que receberam então. Deus seja louvado! Podemos apresentar nos perante o País de cabeça bem erguida, porque o juramento que fizemos na hora solene do 5 de Dezembro de 1917, ou aquele que formulámos mais tarde, na noite trágica de 14 de Dezembro de 1918, foi cumprido!...
Sr. Presidente: cumprimo-lo através de tudo, na guerra e na paz, nas crises fáceis e nas emergências difíceis.
Certamente não foi mais difícil honrá-lo no campo da luta, quando, por infelicidade nossa, tivemos contra nós outros portugueses desvairados. Nem mais difícil é usar da espada, da metralhadora ou do canhão para combater revoltas que vêm, não da santa ideologia portuguesa, não da Pátria que nós todos sentimos e vivemos, mas sim de doutrinas estrangeiras. E essa traição, Sr. Presidente, é fácil de esmagar, porque poucos podem perdoá-la.
Não, não é essa a vitória mais difícil dos cadetes de Sidónio!
Aquilo que nós aprendemos na sua vida e na sua morte, os ensinamentos que recebemos, especialmente nos dias sangrentos, cruéis e horríveis que passaram além da sua morte - eis o que nos guia e que nos obriga a ter às vezes uma coragem moral muito superior à da luta armada.
É fácil a bravura no combate físico, na luta militar, que para tantos de nós é a vida de cada hora. Mas a vitória moral, na luta consigo próprio, na guerra com as rebeldias que sentimos referver dentro dos nossos peitos, no combate contra todas as tentativas de desunião - essa vitória constitui a vitória do espirito de Sidónio...
Sr. Presidente: pergunto a V. Ex.ª se não é mais difícil vencermos em nós próprios a tendência combativa que aprendemos na guerra, se não é mais honroso deixarmos de parecer às vezes pessoas independentes, que buscarmos a popularidade fácil de opositores e críticos.
A memória de Sidónio Pais comanda-nos e ensina-nos que é mais heróico e é mais digno dessa grande qualidade de portugueses, que só nós temos, esmagar dentro de nós esse ímpeto de rebeldia.
Quantas vezes é preciso abdicar do que sentimos e do que pensamos! Já esquecemos o desejo de sermos a expressão das revoltas da nossa terra. Nós, os cadetes de Sidónio, preferimos ser estes homens apagados, que por aí vivem ignorados e humildes, para termos o direito