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18 DE DEZEMBRO DE 1946 191

O Sr. Manuel Múrias:- Também é lição da História.

O Sr. Botelho Moniz: Essa é da Historia contemporânea.

O Orador: - Da História de todas as épocas. Assim se abandonaram os domínios da arte literária para entrar nos da pura empresa demagógica e subversiva. Não se tratava já de literatura de ficção, mas de literatura fictícia ...

O Sr. Botelho Moniz: - Be verdadeira literatura fictícia.

O Orador: -Ou melhor: de verdadeira ficção fictícia.

Mas dizia eu: literatura fictícia, estimulante dos piores instintos, das piores aventuras, dos piores impulsos fratricidas. Perante essa onda de romances e novelas, como perante a criação misteriosa de sucessivas editoriais com títulos vários, mas obedientes ao mesmo plano e ao mesmo comando, a lançar a cada passo novas colecções de falsa cultura, em que todas as más ideologias são apregoadas e vulgarizadas, não restaram mais dúvidas a nenhum observador atento de que estava em marcha uma ofensiva metódica de intoxicação das inteligências e, em especial, de intoxicação da juventude. E tornou-se fácil calcular donde vinham as ordens, os lamirés-porventura as recompensas.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pois agora, Sr. Presidente, mercê da excelente iniciativa da Junta Central das Casas do Povo, outras recompensas se destinam aos romancistas e novelistas da autêntica vida portuguesa, do autêntico povo português, que não será, preciso idealizar ou transfigurar, mas pode e deve mostrar-se tal qual é, com suas virtudes e seus defeitos, sua capacidade de trabalho e suas crises de desalento ou de impaciência, suas festas e seus conflitos, suas misérias e suas aspirações - acima de tudo, porém, com o fundo irredutível de vivo amor da Pátria e de sincera crença em Deus, que caracterizam, desde o início, a sua psicologia de velho ocidental, cruzado e apóstolo, trabalhador heróico da tem a e do mar, sem nada de comum com a trágica figura desamparada do mujique eslavo, ontem habitante nómada da estepe, hoje escravo diligente de uma técnica sem alma ao serviço de um materialismo totalitário.

Os votos que formulo - que decerto formulamos todos - são de que os nossos escritores, nomeadamente os mais novos, se dediquem a revelar ao Mundo, em vez de esquemáticas a abstractas personagens de romance russo, para uso e abuso de uma propaganda antinacional, a clara imagem, em toda a sua verdade e perenidade, do homem português!

Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem! O orador foi multo cumprimentado.

O Sr. Bustorff da Silva: - Sr. Presidente: pedi a palavra para enviar para a Mesa o seguinte aviso prévio:

«Em confirmação dos propósitos que manifestei ao usar da palavra na discussão na generalidade da proposta da lei de meios, declaro que pretendo suscitar em aviso prévio o problema monetário português nos seus aspectos interno e externo».

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Bustorff da Silva, conforme tinha anunciado no sen discurso pronunciado na ordem do dia da discussão da proposta da lei de meios, acaba de mandar para a Mesa uma nota de aviso prévio sobre a questão monetária portuguesa nos seus aspectos interno e externo.

Esta nota vai ter o devido destino dentro dos trâmites legais, dando-se conhecimento dela ao Governo, e para a sua discussão será indicada oportunamente sessão, que não poderá ser antes de Janeiro.

O Sr. Pinheiro Torres: - Sr. Presidente: na mesma ordem de ideias do meu colega e grande escritor nacionalista Dr. João do Ameal, também considero a nota da Junta Central das Casas do Povo digna de especial menção nesta Assembleia, pelos altíssimos fins que visa e pelos importantíssimos problemas- que sugere.

A referida nota aborda uma questão de manifesta oportunidade.

Com efeito, de há tempos a esta parte as montras das livrarias quase só expõem livros em que se pinta o trabalhador rural como um verdadeiro escravo, lutando contra um solo ingrato e um patrão explorador e devasso, sempre à espera do dia em que possa arrancar as grilhetas que o prendem à gleba.

Retoque-se este quadro com cores fortes de miséria, de fome e de depauperamento físico; desenvolva-se, com pornografia, a sedução da mulher e das filhas pelo patrão, as quais cedem à infâmia para não serem despedidas - e teremos os temas, os motivos, os enredos dessas obras.

Ora nós sabemos que o nosso meio rural não é assim!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Há, evidentemente, dramas sombrios nas aldeias, como nas cidades, mas são a excepção, e não a regra, como pretendem fazer crer.

Esses romancistas têm, sem dúvida, outra intenção além de fazer arte. Há neles um manifesto intuito político - o de provocar a indignação e a revolta dos bem intencionados contra a organização actual.

No fundo essas obras são panfletos para servirem uma ideologia contrária à nossa, que se escudam sobre aquelas formas literárias.

Esses literatos são daqueles a quem Salazar chamou, como a nota lembra, «os romancistas políticos da miséria.

São autênticos agentes perturbadores, cuja acção, até agora impune, tem sido bem perniciosa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: há tanto que dizer sobre este aspecto da vida intelectual portuguesa!

Os nossos inimigos, que não podem lançar-se na acção directa para atingir os seus fins, procuram consegui-los pela acção intelectual, lançando no mercado obras que visam envenenar, intoxicar as inteligências.

Essa campanha é principalmente dirigida contra a mocidade.

Vozes: - Muito Bem!

O Orador: - Eles sabem, como já alguém afirmou, que a melhor forma de matar uma causa é fazer com que a juventude se desinteresse dela.

A cada canto surgem editoriais com uma frequência que torna suspeita a origem...