29 DE JANEIRO DE 2947 407
O Sr. Marques de Carvalho: - A proposta o que prevê é que eles contribuam na preparação geral do ensino agrícola.
O Orador: - Eu sei; mas simplesmente direi a V. Ex.ª o seguinte, que me dá a prática de muitos anos de vida com a gente do campo: quando às vezes, por boa vontade do algum clube ou entidade, se estabelece um curso nocturno de instrução primária para um meio rural, esse curso começa a funcionar com meia dúzia de pessoas e passado pouco tempo tem de encerrar, por falta de frequência.
Se se pretende ensinar alguma coisa sobre agricultura, isso está previsto na proposta como competência das escolas móveis, e não compliquemos esse ensino, que pode ser verdadeiramente eficiente, com a intervenção de professores de instrução primária, porque os trabalhadores têm a sua vida, que os sobrecarrega bastante, o não acorrerão a esse ensino.
Há uma lei do nosso antigo colega e meu amigo Sr. engenheiro Cândido Duarte que não ora bem igual, mas era similar, o que nunca teve execução.
A mim pesa-me sempre pôr numa lei uma coisa que já sei de antemão que é inútil, senão na sua essência, pelo menos na sua finalidade.
Seguindo nestas considerações sobre a razão por que não estou de acordo com esta parte da reforma que diz respeito ao ensino agrícola, direi a V. Ex.ªs que, por exemplo, das escolas práticas de agricultura, que vão continuar com a mesma feição - escolas de capatazes e feitores-, ainda até hoje não saiu um feitor ou um capataz.
O Sr. André Navarro: - V. Ex.ª não pode fazer essa afirmação.
O Orador: - Dê-me V. Ex.ª licença. Delas tora o saído talvez feitores e capatazes, mas o certo é que não são utilizados. Vão para todos os empregos que podem, mas ninguém vai utilizar como feitor ou capataz um rapaz de 18 anos. As qualidades que lhes faltam são muitas: confiança em si próprios, prestígio, bom senso, etc. Um rapazito que saiu da escola nestas circunstâncias podo servir para muitas coisas, agora para capataz e feitor é que não. Eu desejaria que essas escolas fossem escolas de práticos agrícolas, em que os alunos aprendessem muitas das modalidades que há na vida agrícola. Na minha lavoura, graças a Deus, os caseiros têm todos cerca de vinte e trinta anos ao meu serviço, e lá continuam, Deus os avivente. Mas, se eu tivesse de procurar um caseiro, iria procurar um homem que se impusesse ao respeito, e isso é cada vez mais necessário, porque, com este espírito moderno, com a irreverência sempre crescente que há na rapaziada nova, quando o feitor se não saiba impor, quando pelas suas atitudes ë saber se não saiba dar ao respeito, mal vai ao serviço.
O Sr. Marques de Carvalho: - V. Ex.ª dá-me licença?
Veio publicada no Diário das Sessões uma das emendas que a Comissão propõe e que me parece que dá satisfação ao ponto de vista de V. Ex.ª
O Orador: - Quanto às escolas de regentes agrícolas, devo dizer que, sem desejar menosprezar qualquer das outras, porque as não conheço, eu tinha uma excelente impressão da Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra, porque ali foi educado um parente meu, que já faleceu e que chegou a ser um professor distinto do Instituto de Agronomia. Através dele eu soube como funcionava aquela Escola, e além disso deu-se o caso de que um alemão, que foi para a África e que visitou há bastantes anos a Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra, ficou
verdadeiramente encantado com a maneira como nela se fazia o ensino e que era verdadeiramente eficiente.
Suponho que hoje as coisas não se passam da mesma maneira, talvez pela mesma razão que ainda há pouco invoquei quanto à questão dos professores de ensino técnico.
Este assunto do professorado, de uma maneira geral, e sobretudo nesta parte, parece-me que devia ser como que um escalão máximo, uma recompensa aos diplomados que se tivessem destacado no nosso Pais e que tivessem já realizações práticas.
Nós vemos que muitas vezes os rapazes saem das escolas e vão imediatamente ensinar, o que não deve ser absolutamente conveniente para o ensino, que precisa de conhecimentos práticos.
Há ainda um aspecto que me penaliza e que por mim procuraria alterar.
A pedagogia diz que é inconveniente estar a decidir logo aos 11 anos o destino de um rapaz, o eu não tenho argumentos para dizer que isso não é assim. Mas, em geral, as crianças não se determinam por si; vão para. a agricultura porque o pai é agricultor, e muitas vezes não se lhes pergunta qual seja a sua inclinação. Há diferença entre o indivíduo que vai para agricultor por acaso, porque ganhou dinheiro e quer ter uma propriedade, o aquele que nasce na propriedade: a maneira de sentir, a integração absoluta com a torra daquele que nasce na propriedade é diversa, e por isso eu preferiria - logicamente, não sei se tenho razão- que os alunos fossem para a escola de regentes agrícolas desde o princípio, como se fazia dantes, manejando os instrumentos agrícolas o intervindo com as suas próprias mãos em toda a cultura, até chegarem ao fim. Assim adquiririam melhor o sentimento que os agarrasse à terra.
Todos os regentes agrícolas da Escola de Coimbra que eu conheço -não quero cora isto depreciar as outras escolas- saíram realmente rapazes distintos, práticos conhecedores e úteis à lavoura.
Aqui têm V. Ex.ªs porque, na verdade, não simpatizo com todas estas bases que dizem respeito ao ensino agrícola.
Mas também compreendo que esta Assembleia não é o meio próprio para fazer uma lei inteiramente nova. Acho que paru isso é preciso que se apliquem a esse trabalho as pessoas que conhecem perfeitamente esto assunto na quietude dos seus gabinetes.
Nós podemos alterar uma ou outra base, melhorar um ou outro artigo da lei; mas fazer uma lei completa, com meio, princípio e fim, suponho que não ó, repito, para Assembleias deste género.
Tenho pena, Sr. Presidente-ainda a respeito da remuneração dos professores -, que se estabeleça uma diferença grande entre os dos vários graus de ensino agrícola, como, por exemplo, entre as escolas práticas e as escolas do regentes, porque isso fará com que o nível das primeiras vá caindo constantemente, pois o elenco dos seus professores não pode permanecer na altura que é indispensável, visto que a vida tem as suas exigências e essas professores, piores remunerados, não se mantêm no ensino se tiverem merecimentos para vencer na vida.
Vou mandar para a Mesa uma emenda referente à base XVI, que é aquela que diz respeito ao ensino elementar agrícola.
Já agora, para terminar as minhas considerações, não quero deixar de recordar, Sr. Presidente, visto que de ensino técnico se trata, que o ano passado levantei aqui, antes da ordem do dia, este problema da dificuldade de transferência da Escola de Engenharia do Porto para o Instituto Superior Técnico de Lisboa.
V. Ex.ªs estão bem recordados de ter eu dito aqui que, com espanto, tinha sabido que um aluno da Faculdade de Engenharia do Porto não podia transitar para o Instituto