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29 DE JANEIRO DE 1947 405

acordo com S. Ex.ª quando afirma que não fizemos tudo quanto devíamos fazer pela mocidade das escolas, e, pior do que isso, é que não fizemos tudo o que podíamos ter feito.
Já não posso estar de acordo com S. Ex.ª quando pretende não tomar praticamente conhecimento desta proposta, porque estou convencido -e adiante direi a V. Ex.ª porquê - de que nesta proposta se contêm os elementos que reputo indispensáveis para que o ensino técnico possa realmente ser alguma coisa eficiente.
Para poder discutir esta proposta fui visitar duas escolas industriais. Visitei a Escola Afonso Domingues e visitei a Escola Marquês de Pombal.
Porquê estas duas? Pela seguinte razão: é que uma está pessimamente e a outra razoavelmente instalada ou é, pelo menos, uma das que temos mais bem instaladas, e isso é que me determinou, por falta de tempo para visitar mais, a fazer a minha visita apenas a essas duas, e são as conclusões a que me levaram estas visitas que venho trazer a. V. Ex.ªs
Delas resultou para mim a convicção de que o ensino técnico corresponde a uma necessidade e é avidamente procurado.
Como apontamento curioso direi a V. Ex.ª que a Escola Afonso Domingues começou a funcionar em 1884, com 64 alunos; em 1914 passou de 471 para 583, e aqui se reflecte já um pouco do interesse que resultava para este ensino da circunstância de haver um certo progresso na industrialização do País.
Em 1935 essa Escola tinha 1:031 alunos e actualmente tem 1:419.
A Escola Marquês de Pombal tinha 500 alunos em 1930 e esse número passou para 1:600 em 1947.
Quer, portanto, isto dizer que aquele ensino corresponde de facto a uma necessidade, visto que tem uma concorrência que aumenta desta maneira.

O Sr. Ribeiro Cazaes: - V. Ex.ª não reparou no número de alunos que saíam dessas escolas?

O Orador: - Lá chegaremos.
Não há dúvida nenhuma de que, dado o desenvolvimento industrial do País, aquelas escolas merecem a melhor das atenções, porque são ansiosamente procuradas pela população escolar.

O Sr. Querubim Guimarães: - V. Ex.ª dá-me licença?

Os números que V. Ex.ª referiu- são só das escolas industriais ou estão incluídos neles alunos do curso comercial?

O Orador: - São só do curso industrial.

Eu supunha, que, com esta tendência que temos para o ensino livresco, iria encontrar um ensino deste género, por consequência ao contrário do que julgava que fosse conveniente. Mas VI que a orientação do ensino é boa, é conveniente; orientação no sentido prático. Esta saber se esse ensino se dá em quantidade suficiente e necessária.
É evidente, contudo, que a extraordinária aglomeração de alunos prejudica grandemente o ensino. Em primeiro lugar, a instalação da Escola Afonso Domingues é uma coisa simplesmente horrorosa. Sai-se de lá com uma impressão de desalento. Não é possível ter-se uma escola convenientemente instalada numa casa que em moradia particular, com oficinas numa dependência que foi a capela, sem ar, sem luz, sem suficiente espaço para esta multidão de alunos que a todas as horas se sucedem.
A deficiência das escolas é um dos elementos que contrariam o seu rendimento.
E o contraste entre as escolas que eu visitei - a Afonso Domingues, pessimamente instalada, e a Marquês de Pombal, melhor instalada- dá-nos a certeza de que é absolutamente indispensável edificar de novo ou, pelo menos, pôr as instalações escolares em melhores condições.
Da Escola Marquês de Pombal sai-se com uma impressão bastante melhor.
Pude constatar que o ensino ali se pratica em muito melhores condições. A casa, por si só, é um elemento absolutamente indispensável.
Evidentemente, Sr. Presidente, que não é só a casa. A Escola Marques de Pombal teve uma espécie de herança, um legado, e, por consequência, tem também um recurso no rendimento desse legado e tem maiores disponibilidades, podendo adquirir mais máquinas e material.
Constatei também, Sr. Presidente, um caso muito interessante: porque lá existe um curso de electricista, as Companhias Reunidas Gás e Electricidade têm-no dotado com máquinas preciosas para o ensino e até mesmo, por vezes, com dinheiro.
Por consequência, outra conclusão é a de que é absolutamente indispensável melhorar os estabelecimentos de ensino no seu material. É evidente que não é possível ensinar aos alunos se eles não tiverem material e máquinas para trabalhar.
Mas V. Ex.ª compreendem também que é absolutamente impossível, quando a população escolar atinge estes números, que este ensino possa ser eficiente, porque as poucas oficinas que existem, repartidas por um tão grande número de alunos, dão como resultado que cabe uma pequena parcela de tempo a cada um, o que não é suficientemente satisfatório para que o ensino tenha aquele carácter que deve ser exercido.
Outra conclusão diz respeito aos professores.
Para V. Ex.ªs compreenderem o que é esta tragédia dos professores das escolas industriais, vou dizer que na Escola Marquês de Pombal, onde há 48 professores e mestres de oficina, só 12 professores e 6 mestres são efectivos. Todos os demais são provisórios. Porquê? Paga-se miseravelmente a estes professores. Deste modo, o que sucede? Não há professores efectivos. Em cada ano aparecem uns senhores que se propõem ser professores, à falta de melhor emprego, e que, quando lhes aparece qualquer coisa que lhes convém, largam a escola e vão tratar da vida. Vejam V. Ex.ªs o que isto representa para o ensino.
É impossível fazer o ensino com uma selecção, digamos, ao contrário; por este processo escolhem-se, evidentemente, os piores. Creio, porque desejo prestar justiça àqueles que se conservam no seu posto, que é preciso uma grande dose de filosofia, um grande amor à profissão e um enorme desejo de ensinar para se conservarem naquela posição aqueles homens que realmente tenham qualidades para ensinar, que exerçam o ensino como um verdadeiro sacerdócio.
Sucede por vezes também que as escolas estão à espera de ter professores para abrir. Julgo, pois, que nesta reforma, que, penso, não tem nada de muito extraordinário, nenhuma inovação ou, pelo menos, inovações extraordinárias, se contêm estas três possibilidades: primeira, a de construir edifícios próprios com capacidade suficiente para estas escolas; segunda, a de aumentar os maquinismos e dotações para material, sem o que este ensino; que deve ter um carácter prático, que lhe é absolutamente indispensável, não pode ser exercido eficientemente; terceira, a de, pagando convenientemente aos professores, formar um quadro que possa responder pelas necessidades do ensino, mantendo-o ao nível conveniente.
Suponho, sem nenhuma pretensão a pedagogo, que ter bons professores é um capital de tão grande rendimento que não podemos ter nenhuma hesitação em gastar para esse fim.
Apoiados.