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666 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 92

Constituem excepção a esta regra os Profs. Drs. Pacheco de Amorim e Rui Ulrich.
Da análise dos escritos do nosso ilustre colega e das palavras que aqui tem proferido parece subentender-se que S. Ex.ª perfilha a ideia, de uma elevação maciça ele preços, salários, etc.

O Sr. Pacheco de Amorim: - Mas não instantânea.

O Orador: - Quanto ao Prof. Ulrich, numa conferência recentemente realizada no Porto (e ao que depreendo dos jornais, pois, mau grado a patente boa vontade do ilustre professor, foi-me impossível ler o original) S. Ex.ª aconselha que tudo se multiplique por 2 em relação a 1940. E fica certo, segundo supõe.
A multiplicação é possível que fique. Os efeitos, esses, salvo o devido respeito, ante vejo-os mais do que incertos.
Vejamos:
Excepção feita do trigo e da carne, cujos preços dependem de circunstâncias de ordem política ou ocasional, a generalidade dos produtos agrícolas de produção interna atingiu preços que excedem ou já igualaram o dobro dos de 1940.
O mapa que se segue corrobora esta asserção:

Preços do produtor

Índices referidos ao prego médio de 1938 (100)

[Ver tabela na Imagem]

Quer dizer: praticamente o produtor já recebe pelos seus produtos o preço que corresponderia à aplicação da fórmula do Prof. Ulrich.
Ora ainda há bem pouco a expectativa de um ligeiro acréscimo da contribuição predial bastou para que os proprietários portugueses gemessem de exaurimento por não poderem pagar mais.
Aplicada a solução proposta, pagariam mesmo. Pagariam o dobro, vendendo embora os produtos aos preços que já indiquei.
Com a indústria aconteceria pior: a duplicação do preço de venda dos produtos facilitaria a luta triunfante dos concorrentes estrangeiros.
Com as rendas das casas as injustiças de 1940 acentuar-se-iam pura e simplesmente pela aplicação do coeficiente.
E como aplicar esse coeficiente aos débitos, às pensões, às reformas ou aos créditos?
As ponderações do Sr. Dr. Águedo de Oliveira em 14 de Dezembro último subsistem inteiramente.
Sr. Presidente: sei que as agonias do próximo não curam as que nos afligem. Dão-nos, porém, até certo ponto, o conforto de não sofrermos sós.
Beneficiemos, por conseguinte, das maravilhosas descobertas científicas que encurtaram o Mundo e nivelaram os obstáculos que distanciavam as diferentes nacionalidades e perscrutemos, mesmo daqui, desta sala, o que se passa por esse orbe além:
Governantes e economistas inclinam-se para qualquer elevação de preços?
Estou habilitado a afirmar que não.
Em França propagandeia-se o plano Monnet, logo seguido do chamado «golpe psicológico» de Blum, com a redução de õ por cento nos preços.
O plano Monnet importa, de certeza, um sacrifício imediato, pesado e irreparável, em compensação do qual não se descortinam resultados certos. O «golpe psicológico», esse, precedido, como foi, de uma elevação, a bem dizer que surda, de certas tarifas que subiram 30 e 25 por cento, há-de correr os avatares de todos os artifícios desta espécie... Há dias, em 19 do corrente mês, o Governo ordena nova baixa de preços e opõe-se à elevação dos salários.
Passemos à Bélgica: a experiência Yan Acker.
Em fins de Maio de 1946 o Sr. Yan Acker deliberou, de certo modo imprevistamente, que os preços baixassem 10 por cento, porque ... «toda a alta no custo da vida arrastaria dentro de um prazo mais ou menos curto uma desvalorização da moeda».
A medida foi aplicada corajosa, rigorosamente.
As reivindicações operárias mais instantes calaram-se por algum tempo.
A carne chegou, por vezes, a vender-se 20 por cento abaixo da tabela oficial.
Todos os índices deixam perceber que se obteve, de facto, uma estabilização do custo da vida.
Porquê?
Porque a produção industrial e a produção agrícola atingiram níveis jamais previstos, a tal ponto que desde a primavera de 1946 a inflação não aumenta e principia a respirar-se um clima de deflação.
Quer dizer: nos dois países do continente europeu o processo adoptado foi caracterizadamente adverso ao sugerido na conferência do Porto.
Em vez de elevar, reduzira-se preços e estimulou-se uma forte poussée na produção agrícola e industrial.

O Sr. Águedo de Oliveira: - V. Ex.ª dá-me licença.? ...
Devo chamar a atenção de V. Ex.ª para o facto do que na conferência, que li, o Sr. Dr. Rui Ulrich preconiza uma readaptação gradual a um novo nível de preços e ganhos.

O Orador: - V. Ex.ª navega num autêntico mar de nevoeiro, como eu. V. Ex.ª não tem outro ponto de referência senão um curto relato da imprensa. Temos de aguardar a publicação do discurso para considerações finais.
Mas, continuando:
E em Inglaterra?
Nesta grande nação, onde, pode dizer-se sem exagero, cada inglês que passeia pisa uma mina de carvão, ha dezenas de indústrias paradas, milhões de operários sem trabalho por falta de combustível.
Onde estarão os tímpanos capazes de resistirem à gritaria que se elevaria em Portugal em caso semelhante?
Pois também em Inglaterra um membro do governo trabalhista condenou a elevação de preços.
Renegando o slogan que dominou a propaganda trabalhista durante vinte anos, o Sr. Stafford Cripps, Ministro do Comércio, falando em Londres no dia 22 do mês passado, preconizou a urgente necessidade de se produzir mais em Inglaterra, acrescentando não haver vantagem em elevar os salários.
Na América, o presidente Trumann vaticina um déficit mundial de 10 milhões de toneladas de trigo. Os homens do Governo e da finança, de ouvido alerta, continuam aguardando a resposta da Rússia à pergunta, várias vezes insistentemente repelida: quando serão pagos os 12 milhões de dólares que a América confiadamente emprestou?