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27 DE FEVEREIRO DE 1947 667

E o silêncio desesperante é perturbado apenas pelos rumores idos preparativos de, mais uma greve - uma greve monstro! -, adiada para princípios do mês que vem.
Nos vários quadrante da terra: produção insuficiente, tremendas dificuldades de vida, falta de trabalho, de lar, de pão, de calor, de luz ...
Estaremos pior? Seremos excepção?
Que cada português interrogue a sua. consciência nos momentos de, aliás, legítimo desespero, em que a complexidade do transe que atravessamos o leve a desanimar. A resposta reconfortá-lo-á.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E os que renunciam, os que perdem a esperança, os que se acobardam perante a enormidade da luta, que leiam as reconfortadoras páginas do prefácio com que esse iluminado servidor do Estado Novo, Prof. Ferreira Dias, inicia o seu Linha de Rumo. E serão tocados daquela fé de idolatria nos ilimitados recursos de recuperação da nossa Pátria, de que me sinto possuído!
Apoiados.
Para dar a última têmpera a essa confirmação, rija como o aço, falta-me a informação que solicitei do Sr. Ministro das Finanças.
Se ela vier, e se vier desmentindo os maus agoiros dos articulistas que citei, então, Sr. Presidente, cessem os sustos de profetizar dias melhores!
Contamos com um Governo de ordem (Apoiados), uma administração honrada (Apoiados) e 300 toneladas de ouro e 80 milhões de libras a garantirem um plano de reconstrução industrial a que esta Assembleia já deu o seu voto:
As indústrias-base absorverão mais. de l milhão de contos, aperfeiçoarão a agricultura, obstarão a importações anuais de adubos que ascendem a cento e tantos mil contos e permitirão adubar mais e melhor, aumentando e embaratecendo a produção;
Na renovação da frota mercante despenderemos 2 milhões de contos;
No plano de electrificação, 3 milhões de contos;
Na renovação e melhoramentos dos caminhos de ferro, 2 milhões de contos;
Na construção de estrada, 1 milhão.
É preciso gastar! Gastemos liberalmente em obras de utilidade geral essa gigantesca fortuna, acumulada por uma administração cautelosa. Toneladas de ouro fechadas a sete chaves no fundo de uni cofre servem apenas para preocupar a polícia!
Apoiados.
O Sr. Mário de Figueiredo: - E para assegurar o valor da moeda.

O Orador:- Ponhamos de parte despesas aplicadas na mera satisfação de caprichos ou requintes de inútil luxo.
Quanto mais despendermos proveitosamente mais teremos, proclama Robert Natham no Caminho da Abundância: participemos em actividades produtivas. «O nosso nível de vida geral admite uma imensa melhoria. O nosso país pode e deve consumir mais».
1 milhão, 2 milhões, 3 milhões, 9 milhões! ...
Como que me sinto um Shylock de novo tipo, que deixa correr por entre os dedos uma cascata de ouro para a ver germinar por esse País fora, do norte ao sul, do Atlântico às fronteiras de Espanha, florescendo em instalações industriais e agrícolas, transportes rápidos, fáceis e económicos, e energia e luz a jorros e a preço acessível para que invada os escaninhos lôbregos dos lares dos trabalhadores portugueses, assegurando-lhes a existência arejada a que têm direito na claridade de uma decente mediania.
Apoiados.
Objectar-me-ão que sonho!
E pergunto se sonham os que confiam nas infinitas t> bem demonstradas possibilidades da sua raça?
Sonho?
Sonho teria sido prever Aljubarrota naquele meio-dia tórrido de Agosto em que a chusma dos castelhanos descia o vale - 30:000 contra 7:000 -, o «lume de uma pobre estrela ante a claridade da lua em seus perfeitos dias» (no dizer de Fernão Lopes) ... E, contudo, ainda o sol se não escondera por detrás das montanhas e nas hostes de Nun'Alvares rompia o brado, vibrante como o de um clarim que anuncia a vitória, «Já fogem, já fogem»! ...
Apoiados.
Sonho foi Alcobaça; sonho foi a Batalha ...
Sonho seria predizer as descobertas quando a proa da primeira nau portuguesa principiou cortando as vagas do mar ignoto ... E, não obstante, volvido menos de meio século, o tratado de Tordesilhas reconhecia-nos direito a metade do novo Mundo.
Apoiados.
Sonho significaria na «manhã pura e alegre» do 1.º de Dezembro de 1640 vaticinar a Restauração ... E aqui estamos, e estaremos, independentes e livres.
Apoiados.
Mais que sonho, fantasia de opiado, representaria o anunciar-se em Maio de 1926 os vinte anos de ordem, progresso e paz que contam indestrutìvelmente nos fastos da nossa história !
Apoiados.
E mais do que sonho, mais do que fantasia, de delírio frenético de visionário seria acusado aquele que, neste sala e na paisagem de que dei um pálido esquisso ao iniciar estas considerações, prognosticasse que três décadas bastariam para que o País deixasse de «estar a saque» e pudesse olhar de frente o sol de um futuro nas condições de segurança financeira que mais de 8 milhões de contos em ouro ou divisas-ouro e 80 milhões de libras garantem interna e externamente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador : - Mas se, mau grado todos estes precedentes, sou eu quem sonho e não os que discorrem enfeitiçados pela magia de abstracções metafísicas ou de fórmulas algébricas rígidas, ao lado das quais os mil e uns imponderáveis da evolução do Mundo passam desinteressada e depreciativamente, se sou eu o sonhador e eles os realistas - então, Sr. Presidente e meus colegas, quero sonhar!
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado por todos os Srs. Deputados.

O Sr. Alberto de Araújo: - Sr. Presidente: peço a generalização do debate suscitado pelo aviso prévio do Sr. Deputado Bastorff da Silva.

O Sr. Presidente: - Concedo a generalização do debate.

O Sr. Alberto de Araújo: - Peço a V. Ex.ª a palavra; mas, atendendo ao adiantado da hora e a que esta Assembleia teve a sua atenção presa durante duas horas ao trabalho, a todos os títulos notabilíssimo, que acaba