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27 DE FEVEREIRO DE 1947 663

3.° Uma última parte, que representa efectivamente capitalização extraordinária devida às transacções excepcionais do período da guerra.
Na utilização desta última é que reside o grande perigo.
Mas o Sr. Dr. Águedo de Oliveira tinha razão sobrante quando, em Dezembro último, notava que a inflação dos preços e o custo da vida não dependem só das medidas do Governo ou das intervenções desta Assembleia, ou das operações do banco emissor, mas, acima de tudo, do critério do grande público, que deve abster-se de gastar pródiga e desordenadamente o seu dinheiro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -A situação interna, note-se bem, é delicada, mas não justifica previsões de tragédia.
Reuniram recentemente em Lisboa as assembleias gerais de dois estabelecimentos bancários que ocupam posição de destaque na finança nacional: o Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa e o Banco Fonsecas, Santos & Viana.
Numa e noutra ouviram os accionistas palavras de confiança no futuro e de louvor à obra do Governo Nacional.
Na assembleia do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa o seu director disse:

A transição para a economia da paz tem tomado aspectos fundamentalmente diferentes nos diversos países, conforme a situação em que a cessação das hostilidades os encontrou, e assim, enquanto alguns procuram por todas as formas opor uma barreira à onda crescente da inflação, outros há em que os sinais de deflação são tão nítidos que requerem o estudo cuidadoso de medidas tendentes a facilitar a readaptação a que, na terminologia moderna, se chama «reconversão».
Entre nós a reconversão iniciou-se sem sobressaltos e temos de convir que a diminuição do poder de compra da nossa moeda, resultante mais da escassez de bens de consumo do que da inflação do meio circulante, não lhe diminuiu a paridade com as moedas estrangeiras mais consideradas, nem mesmo com o próprio ouro fino, que, no mercado livre, depois de oscilações de origem mais ou menos especulativa, tem hoje um preço que excede apenas em cerca de 10 por cento o gold point estabelecido.
Provimos que o excesso de numerário que pesava sobre a nossa economia seria gradualmente reabsorvido na aquisição das divisas de que era contrapartida, logo que as exportações estrangeiras pudessem dirigir-se para o nosso País.
E não nos enganámos ...
Felizmente, Portugal hoje pode pagar em qualquer mercado, em qualquer moeda, e tem reservas suficientes para o fazer durante alguns anos, que esperamos sejam mais do que os indispensáveis para estabelecermos a produção metropolitana e colonial em condições de suprir as necessidades de todos os portugueses.

Não se dirá que são «teóricos» que fantasiam. Produziram afirmações idênticas homens práticos que no triunfo das suas realizações dão a prova da consistência dos conceitos em que se inspiram.
Assim, no Banco Fonsecas, Santos & Viana, o Sr. Mário de Sousa foi, se possível, ainda mais terminante:

... se compararmos o último ano com os anos anteriores, verifica-se que o ano de 1946 se caracterizou não só por terem cessado completamente as causas que determinaram a grande inflação produzida durante a guerra, mas também por se haverem revelado já, nos últimos meses do ano, os primeiros sintomas, nítidos e inequívocos, de havermos entrado no período da deflação.
É certo que a maioria do público mal se terá por enquanto apercebido disso, visto que, assim como só bastantes meses depois de começada a inflação ele lhe sentiu os efeitos, assim também agora não poucos meses serão decerto necessários para se reflectirem por forma sensível, nos variados elementos da economia, os efeitos da deflação.
Certo é, porém, que o fenómeno se verifica como uma realidade do mais largo alcance para o futuro económico do País, só restando saber como essa deflação virá a operar-se e a desenvolver-se: se lenta e progressivamente, de modo a permitir a todos os factores da vida económica uma gradual e suave adaptação, se de moído brusco e violento - de rendimentos, de salários, de valores e de preços -, com todos os correspondentes desequilíbrios e perturbações económicas e sociais.
Julgo difícil fazer prognósticos seguros nesta matéria.
Tudo dependerá, em última análise, da vida que o País fizer: na restauração e fomento da sua economia, no reapetrechamento e progresso da suas indústrias, no rendimento do seu trabalho e ainda no ritmo, natureza e volume das suas despesas, quer estas correspondam directamente a um aumento de importações, quer a um aumento de consumo, capazes de afectar as exportações.
Com efeito, ao passo que durante a guerra todas as despesas contribuíam para estimular e avolumar caída vez mais o movimento geral da inflação, hoje, pelo contrário, julgo que quanto maiores forem aquelas despesas e mais largos os consumos nacionais tanto maior, mais rápida e mais violenta poderá ser a deflação.

Por sinal que estas, palavras calaram tão vibrantemente no espírito dos accionistas presentes que o seu representante irrompeu num caloroso e merecido elogio à sábia política financeira do Governo de Salazar, elogio que provocou em todos os arraiais da política, amigos ou inimigos, a emoção natural.
Não nos alarmemos, pois, a ponto de descrer do futuro.
Ë certo que, num artigo de fundo publicado no Diário Popular de 12 do corrente, o respectivo autor, socorrendo-se da última situação semanal publicada pelo instituto emissor, respeitante a 24 de Dezembro de 1946, apura que em 1946 a circulação de notais aumentou em mais 678:396 contos, isto é, mais 144:788 do que de 1944 para 1945, e conclui que isto significa «ter retomado a inflação a sua marcha ascencional», pelo que, «por mais boa vontade que tenhamos, não vemos, à luz dos conceitos e ideias da ciência económica, nenhum processo deflatório em curso» ... embora possamos «dizer e provar que cessaram as causas externas da inflação; todavia isto não é deflação».
Ora se em Janeiro de 1946 a circulação fiduciária andava por 8 milhões e em Dezembro subiu 600 mil contos, subiu menos de 10 por cento, o que está dentro das normas da oscilação estacionai.
Acessoriamente, o aumento da importação que teve de ser financiada justifica o aumento, aliás normal, da circulação fiduciária (p. 29 do relatório do Sr. Ministro das Finanças).
Os gráficos VI e VII desse importante trabalho corroboram estas conclusões.