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5 DE MARÇO DE 1947 735

acordos na firme convicção da paz perpétua ideada por Wilson e os idealistas americanos seus sequazes.
Quanto a 1945..., suspenso o tiroteio para se enxugar o suor de cinco anos de batalha, logo a bomba atómica, as novas corridas ao rearmamento, as ameaças mais ou menos veladas, adensaram um ambiente de trágicas previsões...
O optimismo cor de rosa de 1918 contrasta impressionantemente com o negror realista do quadro de 1945... Pois não?
Logo adiante, o Prof. Pacheco de Amorim recordou que em fins de 1941 anunciou o movimento inflatório que desde Outubro, salvo erro, se manifestara, em consequência do já descrito desequilíbrio da nossa balança de pagamentos provocado pela guerra, e proclamou que se deveria ter feito uma política coerente, harmónica, entre os diversos Ministérios, orientada ou pela preocupação de manter a estabilidade cambial ou do não deixar modificar o poder de compra. E concluiu: em Bretton Woods levou-se tempo, mas chegou-se a acordo. E exacto. Repare-se contudo que o acordo entre a Inglaterra e os Estados Unidos tem lugar... três ou quatro anos depois de conhecida a situação de 1941.
Mesmo para profetas do passado, a harmonização achava-se facilitada - o que não obstou a que a solução adoptada fosse uma solução híbrida, eléctrica, pedaço daqui, retalho de acolá...
No que respeita à demonstração que fiz de que o Governo retirou cerca de 5.500:000 contos por meio de impostos agravados e empréstimos internos lançados no período que decorre de 19-10 a 1946, o meu distinto contraditar adiantou que ao Governo não bastava retirar do mercado essas avultadas quantias, e antas havia que aplicá-las.
E onde descobriu S. Ex.ª a prova de que as não aplicou?
No seguinte mapa têm V. Ex.ª a demonstração de que em despesas extraordinárias militares e em despesas extraordinárias de fomento o Governo do Sr. Doutor Salazar despendeu de 1940 a 1940 o melhor de 5:810,3 milhares de contos - cinco milhões oitocentos e dez mil e trezentos contos!

Despesas extraordinárias
(Milhares de contos)

[Ver Tabela na Imagem]

Sr. Presidente: relativamente às enormes quantias entradas em Portugal em virtude das exportações (volfrâmio, conservas, resinas, etc.), quem se der ao trabalho de somar, como eu somei, as importâncias depositadas por particulares nos seus bancos privados apurará um montante que quase as atinge.
De ano para ano os depósitos aumentaram. De onde se deduz, necessariamente, que os referidos particulares não despenderam, lançando-a no mercado, uma importantíssima parte das quantias de tal proveniência. Depositadas nos bancos, ali permaneceram, e permanecem, num volume apreciável.
Em contrapartida, porém, os descontos, a carteira comercial de cada um desses bancos não cresceu em igual ou parecida proporção: «o desconto e o redesconto não acompanharam o aumento da circulação de notas», anotou, vou dizer ipsis verbis, o Sr. Dr. Pacheco de Amorim.
Sendo assim, esta desproporção induz à afirmação de que a influência de tais quantias no poder de compra da moeda não teve, até certo ponto e sob determinados aspectos, a gravidade que à primeira análise somos inclinados a atribuir-lhe.
Por ultimo, o nosso prezado colega sustentou que nas transacções com a Inglaterra se cometeu o erro de fixar um câmbio desfavorável para os nossos escudos.
E S. Ex.ª foi mesmo mais preciso: se outro tivesse sido o câmbio, a Inglaterra recebia o mesmo volfrâmio, nós a mesma quantidade de ouro; mas, em contrapartida, os escudos seriam em menor número.
Quer dizer: S. Ex.ª sugeriu uma elevação do valor do escudo em relação à libra. E eu objecto: e o que seria do nosso vinho do Porto? Como manteríamos as nossas outras exportações?
E pergunto ainda: e porque o não fez então a América em relação ao dólar?
E suponho arredada esta derradeira objecção.
Sr. Presidente: pouco me falta para concluir.
Não o farei sem agradecer as palavras amáveis que me dirigiu o nosso distinto colega Dr. Águedo de Oliveira, que peço licença para imputar à velha e fraterna camaradagem que nos une desde os bancos da Universidade.
Quanto ao que se me refere no ardente discurso que acaba de ser proferido pelo ilustre Deputado major Botelho Moniz, curvo-me sinceramente emocionado perante a cortesia que me dispensou, citando-me; mas peço licença para não me deter na refutação das pretensas contradições em que imagina ter-me surpreendido.
Para quê?
Aqueles que relerem no Diário das Sessões as palavras por mim proferidas na quarta-feira passada verificam sem esforço que se trata de uma série de afirmações baseadas em factos e ensinamentos dos mestres, umas e outros absolutamente harmónicos entre si.
Depois, esta discussão decorre numa assembleia construtiva, e não em qualquer ring de competências.
Todos os que aqui nos encontramos, sem excepção de um só, igualamo-nos no desejo de servir sacrificada, desinteressada e exclusivamente a Nação !
Seria inútil, por consequência, a esta hora da tarde, prolongarmos o debate em jogos florais de pura dialéctica.
E mais que inútil, prejudicial, pois poderia depreender-se que o problema monetário português permitia ainda as enevoadas insinuações que este aviso prévio teve em mira liquidar de uma vez para sempre. Melhor serviço prestaremos ao País aproveitando estes últimos minutos para resumir e salientar os resultados que unanimemente obtivemos. Há censuras ao Governo nas palavras que proferi? Nem S. Ex.ª nem nenhum dos meus colegas da Assembleia Nacional, nem quem quer que seja por esse País fora, tem o direito de supor que eu subi a esta tribuna num propósito de elogio incondicional aos Governos do nosso País.

O Sr. Botelho Moniz:- Foi isso que eu quis demonstrar precisamente.