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5 DE MARÇO DE 1947 733

É isto que se tom feito e se fará com maior rigor, se indispensável para corrigir abusos sumptuários. Não supúnhamos que nos são permitidos todos os luxos. Ninguém tire essa conclusão da abundância de ouro.
Vou terminar.
Desta avalanche de críticas, quem é o culpado?
Aponto um: o homem que nos ensinou três palavras muito simples - «mais e melhor». Habituámo-nos a esta pequenina fórmula de três palavras, que representa o máximo da insatisfação e define um homem.
Um homem que não sabe dormir sobre os louros colhidos, nem descansar das fadigas da ascensão. Ele nunca quer considerar perfeita a obra efectuada. Realista ou sonhador, quando o sonho se transforma em realidade, logo surgem outros anelos e outros sonhos!
«Mais e melhor!»
Salazar idealizou e realizou a revolução financeira.
Conforme se diz na moção apresentada, colocou Portugal no polo oposto ao da política monetária anterior a 28 de Maio. Pois bom: isso não é bastante. Precisamos «mais e melhor»!
Salazar fez o milagre do uma paz prestigiosa no meio do mundo de ruínas? Isso não é bastante: «mais e melhor»!
«Mais e melhor» exigem todos os que criticam. «Mais e melhor» exigem todos os ingratos.
Para que as mães e as noivas portuguesas não sofressem; para que pudessem ver os soldados mobilizados por todo o Império regressarem finalmente sãos e salvos às suas casas intactas - foi necessário que o Homem não vivesse ao calor de um lar e não tivesse o sossego de uma noite?
Que importa isso, só ele nos deu como ensinamento: é preciso mais e melhor?!
Triste destino o dos homens que dedicam a vida ao serviço da Nação! Triste destino o de quem, a todo instante, é vitima da incompreensão dos que ganham sem trabalhar e dos que trabalham sem ganhar!
«Mais e melhor»! Sob o látego da ingratidão, o escravo continua a sua ascensão penosa. Não pode descansar. Insatisfeitos, do nosso lado e do lado da oposição, todos lhe exigem «mais e melhor»!
Vigia escravo, para que os outros descansem!
Trabalha escravo, para que os outros usufruam! Trabalha escravo, para que os outros amealhem!
«Mais e melhor»! Trabalha escravo, trabalha Salazar- porque és o escravo da Nação!
Tenho dito.

Vozes:- Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Bustorff da Silva:- Sr. Presidente: não posso esconder a patente e bem justificada alegria de que me sinto possuído ao usar da palavra para encerrar o debate sobre o problema monetário português no sen aspecto interno e externo.
Desde há largos meses que uma campanha derrotista -política e economicamente- pretendia especular com a situação financeira actual, acobertando-se sob o nome honrado, o consagrado prestígio de mestre, a clara o desassombrada inteligência do ilustre Deputado Prof. Pacheco de Amorim.
Na minha primeira intervenção pus a chaga bem à vista, vinquei-lhe os contornos e adverti todos os estudiosos e críticos de boa fé da exploração de que poderiam ser vitimas.
O caso de S. Ex.ª impressionava: após as suas duas intervenções nas discussões da lei de meios, o Prof. Pacheco de Amorim era apresentado, melhor, aproveitado como um demolidor de toda a situação financeira criada pelo Governo que nos rege; as opiniões, emitidas num sincero desejo de crítica imparcial, apareciam deformadas; os seus propósitos malsinados; os seus vaticínios enegrecidos ao ponto de em certos meios se ameaçar com uma crise financeira devastadora.
E quando surgiam os reparos, as contestações ou as dúvidas, logo se intentava remeter ao silêncio o opositor hesitante com a invocação do argumento de autoridade, decisivo, de que essa era a opinião do distinto professor da Universidade de Coimbra!
Fomos, porém, honrados com a intervenção no debate daquele por detrás de cujo bem merecido renome tanta e tanta pedrada tem sido arremessada sobre a política financeira do Estado Novo!
Em boa hora tal facto sucedeu, pois após o discurso aqui proferido por S. Ex.ª e os esclarecimentos enviados a esta Assembleia pelo Sr. Ministro das Finanças a atmosfera desanuviou-se, as ameaças de catástrofes avizinhantes reduziram-se a augúrios ridículos, a exploração do saber e do prestígio de um português eminente perdeu quaisquer possibilidades de êxito.
Daqui resulta que ao comentar sucintamente a brilhante lição do Prof. Pacheco de Amorim principiarei por sublinhar o perfeito acordo em que nos encontramos, eu e o Sr. Prof. Pacheco de Amorim, relativamente à situação actual das finanças portuguesas e às suas possibilidades futuras.
A todos nós, ao País inteiro, cumpre repetir - porque, vindo a afirmação de quem vem, vale ela própria mais que ouro de lei - uma das últimas frases pronunciadas pelo nosso preclaro colega: «temos a cobertura necessária para a salvaguarda do futuro»!
E temos!
As minhas contas de há dias pecam agora por falta, desde que à Assembleia Nacional chegaram os esclarecimentos solicitados a S. Ex.ª o Sr. Ministro das Finanças !
Já não dispõe o Governo apenas - este «apenas» tem carradas do graça!- de 300 e tantas toneladas de ouro para cobertura da nossa moeda.
Também os 80 milhões de libras, ou 8 milhões do contos, com que acudimos às necessidades de unia grande nação amiga e velha aliada valem como ouro!
Nem sofreram as tais reduções substanciais vaticinadas pêlos articulistas a que fiz referência, nem continuarão amarradas às vicissitudes e desvalorizações que a moeda do devedor haja de sofrer.
Logo, a posição, que alguns taxaram de optimista, por mim desenhada é duplamente segura.
O Sr. Prof. Pacheco de Amorim tem razão: «dispomos da cobertura necessária para salvaguarda do futuro».
Repugna-me, todavia,, que alguém possa objectar que me aproveito de uma frase isolada do penetrante discurso de sexta-feira aqui produzido e fujo à discussão do mais que nele se contém.
Embora irrelevante, o reparo merece ser evitado. E a respeitosa consideração que merece o eminente parlamentar e amigo impõe-me o dever de, embora em breves palavras, acompanhar passo a passo as suas eruditas considerações.
Sr. Presidente: principiou o Sr. Prof. Pacheco de Amorim por declarar que estão em causa neste debate a política económica seguida pelo Governo desde 1940, ou seja desde a guerra, e as atitudes por S. Ex.ª tomadas no exercício do direito de crítica a essa política.
Peço licença para, logo de começo, divergir.
Ao apresentar o aviso prévio e ao justificá-lo tive como preocupação dominante encarar o futuro, pôr em equação as suas probabilidades e lançar as linhas gerais de uma política dominada pelo veemente propósito de facilitar progressiva, intensa e liberalmente a vida de todos os portugueses.