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21 DE MARÇO DE 1947 939

Posso dar outro exemplo de verificação da incerteza )n de erro de facto.
Nos quadros de pp. 738-(68) e seguintes consta o número dos dirigentes dos grémios facultativos e do comércio. Tão depressa aparece designado o número l como o número 4, o número 6, o número 9, o número 17.
Não fiz a conta, mas estou convencido de que a comissão, ao fazer o quadro da p. 738-(5) - número de dirigentes -, tomou como bons os que constam daqueles quadros subsidiários e somou-os.
E com isto só errou. É fácil ver porquê. Os organismos, ao responderem ao inquérito, consideraram uns que dirigentes eram os membros da direcção, outros acrescentaram um ou três da mesa da assembleia geral, outros os de outro qualquer órgão e um deles, ao apontar um só dirigente, deve ter-se contido talvez na ideia de que dirigente era só o presidente.
Dei estes exemplos apenas para documentar a minha afirmação de que uma análise mais demorada do relatório e a confrontação com os seus elementos informativos m outros que houvesse tempo de recolher poderiam levar numa ou noutra parte a interpretações diferentes de algumas a que a comissão chegou ou a que podem conduzir o texto ou os números do seu trabalho.
Também digo que não estou convencido de essa análise levar a conclusões gerais diversas daquelas a que chegou a comissão. E isso é, na verdade, o que interessa. Mas também afirmo que não estou a apresentar estes casos por mero espírito de detracção do trabalho. Para mim, perigoso é poder-se tirar conclusões erradas dos pontos não corrigidos ou não esclarecidos. E não tenhamos dúvidas de que o relatório vai ser analisado fora lesta Casa com diverso espírito, não, faltando quem se encarnice em procurar tudo o que convenha a certos objectivos políticos bem conhecidos, ou, melhor, de esculação política cujos fins já são conhecidos e cujos processos já experimentámos.
A comissão de inquérito foi constituída para investigar s vícios do funcionamento dos elementos da organização corporativa, procurar as causas do ambiente público que s cerca, indicar aqueles vícios, para a necessária correcção, e referir as causas, com o intuito de serem elimiadas.
A comissão, antes de mais, cuidadosamente lembro: do mesmo no princípio do seu relatório.
E percebe-se o intuito.
Rigorosamente, no estrito sentido jurídico do voto da assembleia, havia só que rebuscar o mau e nada obrigava a apontar o bom.
Houve-se a comissão com acerto na conjectura, por não se esqueceu de que emanava ou fazia parte de na assembleia política e, assim, não praticou o erro de
ser apenas o rol ou a explanação dos defeitos. Enveadou, como era mister, pelo caminho de, não só propirar as justificações legítimas e apontá-las em todos os isso do relatório, como também indicar virtudes entradas e os benefícios delas resultantes.
Não redigiu, portanto, o unilateral libelo acusatório 3 faltas que apresentaria um tribunal revolucionário,
asses que fazem o pavor de certas épocas sangrentas
História. Serenamente, pairou acima das paixões polcas ou sentimentais, dos interesses feridos ou das lições refreadas, ficou indiferente às esperanças de agnanimidade, que fosse absolvição, ou aos desejos violência de oferecer cabeças em bandejas. A comissão mostrou-se cônscia da sua missão de anaar uma obra humana, para mais obra de período conrbado e feita para as mal avindas e desvairadas gentes* e nós somos. Por isso soube apontar as dirimentes e atenuantes quando as havia e, mais, saiu do domínio trito do rol dos vícios de funcionamento e fez também, embora insuficientemente, o dos seus benefícios. Mostra
o texto do relatório, mostram sobretudo as conclusões, que no balanço final o saldo é destes e com grande diferença.
Contudo, presa às directrizes de trabalho que resultavam do voto da Assembleia, confinado este à pesquisa dos vícios de funcionamento e das causas do ambiente público, só por esta razão - estou disso convencido -, o seu trabalho ressente-se quanto aparenta uma excessiva generalização dos defeitos em virtude de não a contrabalançar, por não ser sen objectivo, uma larga e completa explanação das virtudes achadas.
E isto é grave, grave não em si mesmo, mas nos seus efeitos, sabido como é que o público aceita facilmente a critica punitiva, que deseja, das obras do Estado ou que ele julga do Estado, e só dificilmente a apreciação que dirime ou que louva. O lado bom, se é tomado, é o com desconfiança, ou pelo menos com hesitação. Não se firma, não se instala nos espíritos, como se firma e se instala a acusação, mesmo que seja do pior - ou, melhor direi, que mais fortemente se instala quanto pior for.
Somos assim, muito embora, decorridos os anos, passemos a dizer bem daquilo que mais feríramos, e muito embora o façamos, a partir de certo momento, como se sempre tivéssemos louvado. E nesse momento somos capazes de jurar que nunca outra coisa fizéramos. Basta-nos muitas vezes derruir a estátua, vê-la quebrada aos nossos pés, para logo chorarmos a sua queda como a de um ídolo. Pelo menos, seremos capazes então de juntar os bocados e colocá-los no escrínio das coisas preciosas, jurando que abatêramos a estátua sem querer e que, afinal, muito gostávamos dela.
Malaventurado povo é este, o do extremo ocidental, rico de glórias, que não hesita em denegrir, para mais tarde delas fazer a sua vida e a sua saudade.
E nisto dos grémios, como se chamou no vulgo à organização corporativa, a coisa é séria.
Quero dizer que, onde não pusermos nós toda a verdade, o público não cuidará de suprir a falta desta. Os grémios são assim uma espécie de «jasuítas» da nossa época
- não digo Jesuítas. Não há mal que se lhes não assaque, nem bem que se lhes atribua espontaneamente, por mais real e sensível que seja. O mal vem, como bem anota o relatório, de não se terem sentido os prejuízos que resultariam da sua falta. O público não pode comparar, porque não tem à vista as dimensões que lhe dariam a comparação. Não obteve todo o beneficio que exigia e não sentiu o malefício de que o livraram.
E não há que sair disto se por um esforço enorme de vontade o de espírito de justiça não se lhe demonstrar persistentemente, tenazmente, até ao cansaço, que não tem razão. Às vezes as coisas boas também entram nos ouvidos do público e melhor entram ainda no coração do povo-entidades que distingo tanto quanto distingo o frequentador dos cafés e das esquinas das cidades do cavador dos nossos campos.
Perdoem-me V. Ex.ªs estas filosofias, que resultam do tal receio de que os «grémioss sejam tomados pêlos aneo-
-jasuitas» das nossas vidas.
Tudo isto veio a propósito de querer dizer que a excessiva, embora aparente, generalização dos defeitos pode induzir em erro e, por isso mesmo, redundar em pessimismo que não se justifica.
E porque nem posso abarcar o largo âmbito do inquérito, nem, se pudesse, teria tempo para o fazer, reduzo-
-me ao campo da acção sindical e do funcionamento dos organismos sindicais. Quando digo sindical englobo tudo que é de trabalhadores, sejam do campo, das oficinas, dos escritórios ou das lojas.
Mas antes quero anotar que nem só a parcimoniosa relegação das virtudes ou a falta de menção de algumas
- e das maiores - dá lugar a essa aparente generalização dos defeitos.