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21 DE MARÇO DE 1947 943

escassos que a comissão lucidamente reconheceu, realizar aquela transfiguração por que todos nós ansiamos.

O Sr. Cerveira Pinto: - Essa transfiguração das Casas do Povo só pode obter-se mediante dinheiro.
No fundo, o que há é um problema de dinheiro e também de direcção.

O Orador: - Não é só isso.

O Sr. Cerveira Pinto: - As Casas dos Pescadores são vinte e seis e têm 21:000 contos, porque para lá todos pagam, ao passo que as Casas do Povo são quinhentas e o fundo comum dessas instituições é constituído, na mais optimista das hipóteses, por uns ridículos e esganados 5:000 contos.

O Orador: - Na verdade, estamos numa situação tal, quanto à receita do fundo comam das Casas do Povo, que, ou não consentimos que outras se fundem por ora, ou então o rateio daquele fundo dará quantias insignificantes.

O Sr. Cerveira Pinto: - Mas deixe-me V. Ex.ª dizer-lhe o outro motivo por que muitas Casas do Povo têm falhado, e que consiste em se persistir no delírio romântico-corporativo de entregar as direcções desses organismos aos sócios efectivos.
Estou convencido de que não há em Portugal um único trabalhador rural que esteja à altura de dirigir uma Casa do Povo.

Vozes: - Muito bem!

O Sr. Cortês Lobão: - É essa exactamente a razão da diferença de funcionamento
entre as Casas dos Pescadores e as Casas do Povo.

O Orador: - Também não ó só essa a razão da diferença. Não me chega, porém, o tempo para me alongar em explanações que são na verdade tentadoras. Excedi-me no tempo que tomei à Câmara. Releve-me da falta o entusiasmo pelo assunto, entusiasmo que V. Ex.ª, Sr. Presidente, e V. Ex.ªs, Srs. Deputados, absolverão generosamente.
Foi meu intuito até agora demonstrar que o relatório, umas vezes por insuficiência da explanação dos benefícios, outras por excessiva generalização dos defeitos, pode induzir em erro na apreciação da organização corporativa, no julgamento da sua acção e efeitos.
Não me queixo disso. Sinto apenas a amargura do facto.
Mas queixo-me, sim, de uma grave injustiça que nele se comete, tanto mais grave quanto é certo que -repito- os homens que o assinam são homens justos.
Em poucas palavras direi qual é o meu pensamento.
A Revolução Nacional tem já um património espiritual, que criou.
E dela faz parte sem dúvida, sua grande parte, tudo isso que a organização corporativa, a sua ética, os seus objectivos de engrandecimento nacional, levantaram em todo o País.
À volta desta ideia, atraídos por ela apaixonadamente, juntaram-se valores morais indiscutíveis.
Simples operários que nenhuma ideia seduzira, jovens professores do aldeia, párocos sequiosos de justiça social para os seus rurais, gente saída das Universidades, homens das oficinas desiludidos de velhas e traiçoeiras teorias, velhos proprietários a quem um século de liberalismo não embotou a sensibilidade patriarcal e a noção do que é ser chefe, engenheiros cansados dos tumultos das fábricas, dirigentes sindicais, pequenos chefes de
aldeia, industriais convertidos a um ideal de que gostariam de ter beneficiado quando operários - todos estes são os muitos, embora muito menos do que os precisos, que vieram até à nossa chama.
Sacrifícios desde as horas de repouso do empregado dadas ao sindicato até ao dinheiro ou à fiança comprometidos em garantir a acção do grémio.
Dedicações que se traduzem na permanência de anos em lugares que nada rendem e onde, ao contrário, se é apontado pelo vulgo ou pelos beneficiários como imbecil, como traidor ou como vendido. Dedicações representadas pela inteira doação da vida em acarretamento durante anos a lugares de minguada retribuição, quando lá fora se abriam possibilidades reais de lucrativos trabalhos.
Luta contra as incompreensões. Recompensa em insultos o ameaças e suspeitas.
Com isto tudo e mais e pior, infelizmente, se caldearam as vontades dos que, pouco a pouco, formaram a hoste dos apaixonados pela ideia corporativa e que estão firmemente dominados pelas mesmas convicções do princípio. Estes não têm culpa dos desvios e dos vícios. O movimento em que entraram, sem dúvida o mais forte movimento espiritual da Situação, é, como já disse, património desta. Constituo força de que dispõe e ideal que lhe pertence.
A arrancada desses, em 1933, fica bem ao pé da arrancada do 28 de Maio.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Lutaram e com isso engrandeceram o espírito da Revolução Nacional. Outros tiraram proveitos materiais ilícitos que às mãos daqueles nunca foram, pois estão limpas da mácula do dinheiro mal ganho e nunca conseguiram amealhar sequer o necessário para uma doença. Não cometeram desvios e, se alguns erros se lhes podem assacar hoje (tão fácil é corrigir agora o que já está experimentado!), ninguém os apontava até há pouco, ninguém os apontava ontem ainda.
Pois bem:
No relatório da comissão nem uma palavra a respeito desta forte contribuição, talvez a maior para o património moral da Situação.
Chega a parecer que não se deu em Portugal movimento de tão forte espiritualidade. Chega a parecer que ninguém estima o contributo moral formidável que para a vida da Nação constitui essa disposição extraordinária de inteligências e de almas.
Eu não quero crer que a comissão tenha esquecido tão extraordinário movimento, que não morreu, que há-de frutificar mais, nem quero crer que até ao fim persista no seu quase silêncio a esse respeito. Mau foi - passe o arrojo do conceito, desculpe-se a sinceridade com que se põe tal convicção -, mau foi que não tivesse proclamado no seu relatório esse valor inestimável como o maior crédito, a maior realização e p melhor efeito da organização corporativa.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Henrique Galvão: - Sr. Presidente: como é natural, dada a posição que ocupo na Câmara, a minha intervenção neste debate não abrange a totalidade do conteúdo do relatório de inquérito aos elementos da organização corporativa.
Como Deputado por uma colónia, são os interesses coloniais que me preocupam - evidentemente no quadro dos interesses da Nação - e são, por consequência, eles que determinam as minhas intervenções.