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8 DE JANEIRO DE 1948 101

abusos das tabernas. Num só ano as multas cobradas por essa fiscalização nos termos da lei subiram a 160 contos.
O facto parece-me tão expressivo que dispensa comentários.
Tal estado de coisas não pode deixar de exercer influência profunda na descida dos costumes e na indisciplina social.
Um documento só, entre tantos que poderia trazer à tribuna e à Assembleia, se a própria natureza dos factos me não vedasse de o fazer: existe no Subsecretariado da Assistência Social um documento oficial pelo qual se mostra esta coisa alarmante, tragicamente alarmante: em curtos anos, a população juvenil dos dois sexos de um concelho muito populoso foi gafada daquele mal oculto, filho do vício hediondo de que S. Paulo queria se não pronunciasse sequer o nome. É certo que outros factores concorreram para este resultado aflitivo, mas as tabernas figuram nele como factor principal.
Factos de espantosa brutalidade mostram que a insensibilidade moral avança temerosamente por zonas populacionais onde a delicadeza de costumes e a elevação moral eram timbre e expressão da comum vida de relação social.
A estes malefícios podemos juntar outros de natureza política, também de graves consequências. E nos meios corrompidos, nos terrenos lodosos, que germinam as sementes da revolta e da desordem. Sabem-no os agentes das revoluções e da agitação. E procuram na taberna, ao domingo, semear os germes da revolta. Não faltam tabernas que funcionem ao domingo como pequenos clubes revolucionários.
Frequentadores ocasionais e desconhecidos passam o domingo na taberna distribuindo vinho e ataques a tudo quanto representa valor tradicional, em propaganda dissolvente contra os princípios e contra a actividade política e administrativa do Estado.
Fala-se muito no despovoamento dos campos o com razão, mas esquece-se este outro despovoamento de mais funestas consequências ainda e que é o abastardamento das qualidades cívicas e morais do nosso povo, a depressão causada nas suas másculas energias por esta obra satânica que o regime do comércio do vinho está causando.
E no entanto há pior do que isto; o actual regime do comércio de vinhos e outras bebidas alcoólicas não atinge apenas a Nação na degenerescência da Raça; ataca-a nas próprias fontes do seu abastecimento demográfico, da sua conservação e do seu desenvolvimento, porque:
III. - «É o mais nefasto desorganizador da vida da família, cuja coesão e estabilidade abala, viciando-a na sua estrutura e estabilidade».
Essa obra corrosiva da família realiza-a a taberna por duas formas diversas, mas convergentes no mesmo resultado final: indirecta e directamente, e por oposição aos remédios aplicados aos males que produz.
Indirectamente: é evidente que a estabilidade e coesão da família exigem que ela seja fisicamente robusta e moralmente sadia. Ora o regime em questão empobrece profundamente a vida física da família e corrompe-a atrozmente na sua vida moral.
Empobrece-lhe a vida física, por três razões fundamentais: a - facilita a embriaguez de muitos chefes de família e a embriaguez deprime as melhores energias físicas, queima as necessárias forças orgânicas, conduz às mais baixas misérias biológicas; b - o ébrio engendra normalmente uma prole raquítica e enfezada, desprovida das regulares condições de resistência, tornando-a, por isso, presa fácil e frequente das doenças consumptivas e infecciosas; c - a taberna absorve no sábado e domingo o salário de numerosos operários chefes de família, obrigando esta a um regime de subalimentação que mais
contribui para acentuar os resultados depauperastes das duas primeiras causas.
Corrompe a vida moral da família ainda por três outras razões: a embriaguez quebra todos os freios do autodomínio, despoja a alma dos mais nobres sentimentos, embrutece a inteligência embotando a compreensão dos valores morais; a embriaguez, na frase célebre de J. Keynaud, solta a besta; a miséria física a que frequentemente a taberna sujeita numerosas famílias é caminho seguro e quase infalível para a miséria moral, visto que só um mínimo de bem- estar material normalmente guarda a dignidade e o equilíbrio moral; o ébrio três vezes entre quatro é desordeiro, transforma o lar em arena agitada de conflitos e desordens que amiúde levam às mais baixas tragédias morais.
Mas o regime em questão atinge a família directamente, não introduzindo nela só perturbações nefastas o ruinosas, mas a própria destruição, a morte na ignomínia e na miséria. Com efeito :
A família é antes de tudo uma unidade espiritual, uma comunhão de almas em perpetuidade. Tudo quanto abale ou destrua essa unidade abala e destrói a família, que na estabilidade e na coesão tem a sua mesma essência.
Já vimos que a taberna destrói essa unidade; o ébrio, numa percentagem de 75 por cento, engendra uma geração portadora das mais graves taras físicas, morais e intelectuais, que se traduzem na desordem e na dissolução da família; a prole dos ébrios não vence nunca a quarta geração e termina frequentemente, quase sempre na terceira. Echeverria confirmou tudo isto numa estatística que vale a pena tornar conhecida. Segundo ela, entre 476 descendentes de 68 homens e de 47 mulheres alcoólicos, encontraram-se 23 nados-mortos, 107 mortos por convulsões infantis, 67 epilépticos, 16 histéricos e 41 idiotas ou alienados. Mostra-se assim que as grandes famílias, as famílias estáveis e coesas, que encadeiam os lares, vencem os anos e formam essas dinastias robustas de alma e corpo que, com as vitórias sobre o tempo, cantam o hino bendito da fecundidade, e são, no dizer de Lê Play, a força e a prosperidade das nações, não se dão no clima das tabernas e encontram na taberna ao domingo o seu pior e mais poderoso inimigo.
A confirmação destas conclusões encontramo-la nos arquivos dos dispensários, dos centros de assistência social, dos hospitais de psiquiatria, dos sanatórios, da polícia, dos tribunais e das tutorias da infância.
É sobretudo nos arquivos das tutorias da infância e da polícia que se encontram os mais lúgubres e horríveis documentos da obra corrosiva que nas famílias está exercendo o actual regime de venda de vinhos e outras bebidas alcoólicas.
E com ser tão dissolvente esta obra do regime de comércio de vinhos há ainda, porventura pior: a oposição, o malogro que defrauda todas as providências com que o Estado e a caridade particular se empenham na defesa, na conservação e no fortalecimento da família.
Colhemos a este respeito o depoimento de um distinto delegado de saúde, que no combate à taberna tem empenhado o seu melhor esforço. São desse ilustre clínico estas palavras: «Enquanto a taberna abrir ao domingo, a assistência à maternidade, à criança e à família em geral é estéril, porque a taberna mata os filhos, negando-lhes, pelo salário que absorve, a alimentação necessária, quando os não mata antes de nascerem, pois são frequentes os nascimentos prematuros de nados-mortos, consequência funesta das sevícias e dos desgostos que os ébrios praticam sobre as esposas, verdadeiros verdugos sem pudor e sem moral, falhos totalmente de sentimentos dignos e nobres.
Consequentemente, à face da higiene e da saúde públicas, dos direitos sagrados da família e da ordem social, a abertura da taberna ao domingo é um crime que as