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92 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 120

que se estabelece entre o indutor e o induzido, como toda a espécie de amor na Terra, requer reciprocidade.
Para defender os direitos do seu povo, para outorgar justiça à sua gente, Sidónio Pais, como o pelicano simbólico, desentranhava-se em sacrifícios admiráveis.
Ao contrário do que muita gente diz, Sidónio nilo amava as mulheres; .pelo menos na acepção servil e subalternizante do termo.
Evidentemente que o seu espírito galhardo de sonhador impenitente, aliado à sua garbosa compleição varonil, denunciava nele um temperamento afectivo, exuberante.
Mas os seus amores eram outros:
Era o amor da Pátria, o amor da justiça, o amor do povo; era aquele amor inconsútil que o Príncipe Perfeito nutria «pola Lei e pola grei».
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Botelho Moniz: - Sr. Presidente: 5 de Dezembro de 1917 - 14 de Dezembro de 1918. Entre estas duas datas tão próximas passa, com rapidez de meteoro, o período culminante da vida, paixão o morte do Sidónio Pais.
Em 8 de Dezembro de 1917, após três dias de lutas porfiadas, que ilustraram combatentes de ambos os campos, as forças comandadas por Sidónio venceram a batalha.
Finalmente, depois de tantos anos do apagada o vil tristeza, uns centos de rapazes ardentes e patriotas, magnificamente acaudilhados por chefes exemplares, conseguiram ver realizado o milagre, imprevisto. E assim começou na nossa história., entre brados de entusiasmo e sorrisos de mulher, mais uma aventura maravilhosa.
Em 14 de Dezembro de 1918 o sonho pareceu desfeito pela morte do herói.
Os nossos olhos, talvez por cheios, do lágrimas, não conseguiram enxergar o futuro. A mocidade inexperiente rugia de dor e clamava vingança - mas perdeu o rumo.
Estalaram dissidências entre os homens mais velhos, surgiram ambições entre os grandes vultos, políticos de então, dividiram-se os espíritos anteriormente irmanados pelo fulgor de Sidónio, e bem depressa a desordem voltou, com seu cortejo de guerra civil, de sangue derramado em lutas fratricidas, de retaliações, injustas, de ódios e paixões a rosnarem sobre cadáveres e sobre presos, de garras de fera a despedaçarem uma pátria.
O sonho pareceu desfeito. O herói, que o povo aclamara em delírio, parecia- jazer inerte no seu túmulo dos Jerónimos. O caudilho, que galvanizara o exército, parecia haver terminado a sua carreira.
Mas, por graça de Deus, as almas são imortais. E, por dom ainda mais belo do Criador, as almas dos santos e dos heróis, logo que libertas do seu invólucro terreno, voam mais alto, dominam horizontes mais vastos e comandam com segurança maior: repetindo o milagre das conquistas do cristianismo, transformam em legião o que antes fora apenas centúria.
O espírito de Sidónio Pais, incarnado nos seus discípulos, nos seus amigos, nos seus cadetes - que somos todos nós -, voltou a travar batalha.
E ele que nos guia, com Raul Esteves, Filomeno da Câmara e Sinel de Cordes, na nova aventura de 18 de Abril de 1925. A derrota material retemperou os nossos corpos, fez-nos criar mais forças e logo em 21 de Julho do mesmo ano José Mendes Cabeçadas e meia dúzia do bravos voltam à liça, ainda desta vez sem resultado.
Não desanimámos, porque a causa que servíamos ora verdadeiramente nacional. Por fim, em 28 de Maio de 1926 o exército e a armada, conduzidos por Gomes da Costa, Mendes Cabeçadas, Oscar Carmona e uma verdadeira legião de cadetes de Sidónio, transformou o sonho em realidade magnífica.
Mas, como se o destino quisesse pôr à prova as nossas faculdades de resistência, a breve passo voltaram a transbordar as desinteligências, os ódios e as paixões.
Antes de atingirmos o equilíbrio estável de hoje, que longo e doloroso caminho houvemos que desbravar! O 3 do Fevereiro, no Porto, o 7 de Fevereiro, em Lisboa, o 20 de Julho, a revolta da Madeira, o 26 de Agosto s as repercussões da guerra de Espanha enlutaram e perturbaram a vida nacional - mas possuíram o condão de demonstrar que nada perdêramos do espírito de sacrifício e do valor combativo que Sidónio nos legara.
Com o sabor de experiência feito, com a lição dos dias angustiosos de Dezembro do 1918 e Janeiro de 1919 (manchados péla desunião dos companheiros do herói), em todas essas ocasiões soubemos, os que éramos situacionistas convictos, cerrar fileiras perante o perigo comum.
Por isso mesmo merecemos vencer.
Por isso mesmo também, ao terminar a última sessão legislativa, porque sentia quanto andavam turvados os ânimos, mesmo entre velhos companheiros, fiz um apelo sincero à unidade nacional e aos sacrifícios que ela exige.
Poderei ter desagradado a gregos o troianos, por não se encontrar suficientemente difundido no País o patriótico sentido de renúncia pessoal que está na base do Estado Novo.
«Mal com el-rei por amor dos homens, mal com os homens por amor de el-rei»! Que importa, se essa pode ser a posição mais honrosa para homens de carácter!
Por isso hei-de continuar afirmando que as oposições erram gravemente ao negarem, em bloco, a obra formidável que o Estado Novo, sob a égide de Carmona e Salazar, conseguiu realizar.
Hei-de continuar convencido do que nem o ódio a alguém, nem o despeito pessoal ou político, nem a ambição insatisfeita, nem a própria injustiça que nos haja ferido, constituem razão do rebeldia.
hei-de continuar pedindo que sacrifiquemos o acessório ao essencial, a parte ao todo, a paixão individual ao progresso da grei, as críticas acerbas à necessidade de paz interna, e as censuras de pormenor à grandeza incontestável da obra de progresso material e de paz espiritual que já se realizou.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Hei-de continuar afirmando que os erros e as violências de um lado não desculpam os erros e as violências do outro lado.
E não me cansarei de verberar aqueles que no combate usam armas indignas, afrontas odiosas ou processos desleais.
Especialmente para o lado do Governo hei-de continuar a dizer que é preciso sabor ouvir censuras, para conseguir realizar mais e melhor.
E, exactamente porque detém o Poder, e já demonstrou à evidência a sua força moral e material, deve saber atrair e, sempre que possível ou logo que possível, perdoar aos seus inimigos.
Hei-de continuar afirmando que trairíamos a Pátria se déssemos foros de cidade ao comunismo, quer franco, quer rotulado de «antifascismo» ou disfarçado sob a designação falsa e paradoxal do «democracia».
Mas também não me cansarei de repetir que, por minha parte, não vejo perigos, o só vantagens, na existência de uma oposição patriótica que, dentro das nor-