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146 DIÁRIO DAS SESSÕES - N.º 123

tudo, algumas horas de bom convívio com as famílias da localidade, tão preciso aos que passam a semana inteira ocupados em trabalhos exercidos isoladamente ou em grupos muito limitados.
Em muitas terras já os desportos conseguem reunir a maioria da população durante algumas horas.
Trata-se de um rumo acertado e com variadíssimas possibilidades, como a caça e a pesca, susceptíveis de serem praticadas em todo o País, desde a costa atlântica até às montanhas e rios fronteiriços, e que mutuamente se completam, porque quase sempre ao período defeso de uma corresponde a vigência da outra.
O remo, a natação, o pedestrianismo, o futebol e ainda muitos outros são exercícios que correspondem a todos os gostos e à vida isolada ou em sociedade.
A constituição de grupos corais, de tunas ou filarmónicas, ou mesmo de simples ranchos para a prática de danças regionais, oferece ao povo passatempo geralmente vantajoso e que o defende de maus convívios e perniciosos vícios.
A camionagem também pode constituir factor precioso para a organização de excursões que, além de divertirem o povo, o põe em contacto com monumentos, paisagens e outros valores, onde pode aprender e distrair-se.
Boas sessões cinematográficas são também de recomendar.
Entendo até que esta e outras distracções deveriam ser facilitadas e estimuladas com subsídios que não tardariam a justificar-se pelo combate ao vício e intensificação da cultura popular.
Da mesma forma, sou da opinião de que as feiras, arraiais, romarias e outros pretextos para a vida social das populações rurais devem não só manter-se, mas estimular-se, expurgando-os, é bem de ver e tanto quanto possível, das possibilidades de degenerarem para fins inconvenientes, o que é até certo ponto viável, porque o policiamento dos grandes ajuntamentos é mais fácil, mercê da- concentração de agentes nesses pontos, que a sua pulverização por variadíssimos locais e recintos fechados.
Sr. Presidente: ao Estado Novo deve o País a criação das Casas do Povo.
Trata-se de um problema que tem sido muito debatido e apontadas bastantes deficiências, que o Governo se empenha em remediar.
Mas também se registam, aqui e ali, boas realizações neste campo basilar da organização corporativa.
A uma dessas instituições já aqui me referi, se não me engano, há três ou quatro anos.
Ali encontrei reunidos em data festiva quase todos os habitantes da região. Não só os homens, como geralmente se verifica nas tabernas, mas família» inteiras em alegre convívio.
Ao ar livre dançava-se animadamente, vários grupos jogavam a malha e todos bebiam, mas moderadamente.
As canadas de bom verdasco, que na taberna iriam acumular-se no estômago do chefe da família, dilatando-lho e perturbando-lhe as ideias, dividiam-se ali por toda a família em doses tonificantes e que apenas concorriam para estimular os folguedos sãos a que todos se entregavam «em alegria irradiante e comunicativa, os quais desta forma decorreram por horas seguidas sem a mais insignificante perturbação da ordem.
E não é só para se divertirem que as famílias acorrem à sua Casa do Povo.
Ali recebem bons conselhos e preciosas lições para os seus trabalhos, são orientadas no preenchimento da infinidade de formalidades exigidas pelas repartições burocráticas e, periodicamente, lá está o médico para a consulta e a- enfermeira para os tratamentos, com uma farmácia bem sortida.
Quando se debateu aqui o relatório do inquérito à organização corporativa, eu apontei cortas insuficiências das Casas do Povo, mas não deixei de, com justiça,
conhecer os bons serviços que aquelas instituições já vão prestando e alvitrei providências que, a realizarem-se, como, aliás, é de esperar, muito poderão contribuir para a sua eficiência.
Sr. Presidente: infelizmente não é só nas tabernas que se registam perturbações da saúde, se altera a ordem e se conjura contra os bons princípios que nos regem.
E se pusermos em confronto as tabernas rurais com os botequins, cafés, casinos e outras casas públicas citadinas, onde a sociedade de variadas categorias se reúne, diverte, bebe, joga e pratica, ao lado de coisas inofensivas, outras merecedoras também das vergastadas com que o nosso enérgico colega Mons. Mendes de Matos ZUTZIU no seu aviso prévio certos desmandos perniciosos, num ponto chegaremos- desde logo, e sem favor, a conclusão francamente favorável ao sector rural: é que enquanto nos botequins, casinos e estabelecimentos congéneres só por excepção se consome vinho, porque é ali manifesta a preferência para outras bebidas, entre as quais abundam as alcoólicas, muitas vezes de procedência estrangeira, sendo algumas delas de alta nocividade, nas tabernas, aias feiras, romarias e outros pontos de reunião do povo rural é ao vinho que sistemática e quase exclusivamente se recorre, por via de regra espirrado da pipa-mãe, com sua frescura natural, fortemente vitaminado e perfumado, portador de elementos benéficos, com altas qualidades alimentícias, cerca de 600 calorias por litro e graduação alcoólica geralmente baixa (particularmente tratando-se dos afamados vinhos verdes lá da região minhota onde eu nasci).
Sr. Presidente: pelo que li na imprensa, o nosso distinto colega Sr. engenheiro Homem de Melo, na sua substanciosa exposição, aludiu ao parecer favorável da Medicina, agora também confirmado pelo Sr. Dr. Moura Relvas, sobre o vinho, cuja cultura, como o ilustre Deputado demonstrou, ocupa numerosos braços, que as máquinas ainda não puderam substituir, durante as. diferentes quadras do ano, de forma a concorrer francamente para a «nossa colonização.
Sr. Presidente: tive o prazer de folhear uma pequena, anãs utilíssima, publicação do Sr. Dr. Silva Leal, da cidade do Porto, e lá encontrei referências a Hipócrates, que já dizia há 2:000 anos que o vinho era conveniente para o homem são ou doente, e a outro sábio da antiguidade, Plínio, que afirmava dever discutir-se o vinho com a gravidade de um romano ao tratar de artes ou de ciências, não tanto como médico, mas como juiz encarregado de pronunciar-se sobre a saúde física e moral da humanidade.
Vale a pena ler aquele valioso livrinho só para conhecer as opiniões favoráveis acerca do vinho emitidas através dos séculos pelos mais eminentes cientistas.
Lá se encontra também no interessante e justificado capítulo consagrado à «Contribuição portuguesa para o estudo e propaganda científica do vinho».
A verdade é que nem sempre a Medicina reconheceu à nossa grande bebida nacional os seus incontestáveis merecimentos, e até contribuiu para o seu injustificado descrédito.
Felizmente, a partir de 1933 data do I Congrès National des Médecins Amis des Vins de Erance, os ventos mudaram para melhor quadrante e vai-se fazendo ao vinho uma propaganda, séria, justa e oportuníssima sob os aspectos sanitário e económico.
Em Portugal pode afirmar-se que actualmente a quase totalidade da classe médica comunga naquele mesmo pensamento, mas há que destacar o Dr. Samuel Maia pela sua já longa e valiosa actividade como médico e escritor em defesa do vinho.