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14 DE JANEIRO DE 1948 141

Eu conheço perfeitamente os resultados do consumo excessivo de álcool.
Eu sei que um alcoólico é um impotente sob o ponto de vista sexual e que sob o ponto de vista físico ele é portador de muitas doenças.
Eu sei também que os descendentes de alcoólicos são, muito frequentemente, indivíduos imbecis, idiotas, perversos, etc.
Eu sei ainda que o que conduz um povo ao seu desaparecimento é o alcoolismo, mas também sei que, por um confronto estranho, é exactamente nos povos que consomem vinho que nós vamos encontrar a beleza serena de Atenas, ao passo que nos outros encontramos um destroço enorme, como sucedeu na nossa África, aos peles-vermelhas da América do Norte e aos índios brasileiros.
Estes são os efeitos que me interessam como médico que trata aqui um problema de medicina social.
Ora nós não temos em Portugal o alcoolismo como doença social, e não o temos exactamente porque bebemos vinho e o continuaremos a beber.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Querubim Guimarães: - Sr. Presidente: já o problema da taberna tem sido aqui tratado com elevação e largamente.
Ouvi com muito interesse as considerações do apresentante do aviso prévio, o nosso ilustre colega Sr. Mendes de Matos, e, cie harmonia com as considerações que fundamentam esse seu aviso prévio, não (posso deixar de estar a seu lado.
Há razões, que todos nós sentimos e compreendemos, que levam à necessidade absoluta de extinguir essa coisa hedionda que é o antro da. taberna, sem a mais rudimentar higiene na maior parte dos casos, espalhadas por esse País fora, desorganizando a família e dando um espectáculo deprimente da própria dignidade da pessoa. Não há ninguém que, encarando o problema, não veja que se tornam necessárias providências das autoridades no sentido de serem reprimidos tais focos de infecção.
A taberna é uma vergonha, porque nem sequer decência há na maior parte .dessas casas. Olha-se para elas com repugnância. A própria palavra não tem senão esse significado.
Fazer a apologia do vinho para ser bebido em nossa casa, para aí ser consumido pêlos nossos filhos, pela nossa família, está bem; mas querer fazer da taberna o passatempo do chefe de família, que ali gasta o seu dinheiro, tão preciso na maioria dos casos para as necessidades domésticas, e maltrata a esposa quando chega a casa ébrio, isso não!
A esposa ou os filhos, para quem essa educação é prejudicialíssima. Não é isto um problema que se trate superficialmente sem se atender aos efeitos deletérios que - ocasiona no indivíduo, na família, na Raça, na Nação.
Não posso conceber - que se não dê valor ao aspecto social de que ele se reveste e se olhe a taberna como consagrada pela tradição, ponto de reunião forçado de frequentadores impenitentes, local de recreio e de distracção, e não só de venda de vinhos, tão necessária num país vinícola como o nosso.
Não posso deixar de dar por isso todo o meu aplauso à iniciativa do nosso ilustre colega o Sr. cónego Mendes de Matos. De facto o problema é de importância extraordinária.
Ouvi com muita atenção as considerações por S. Ex.ª feitas. Vêm ao encontro do que há muito penso sobre o assunto.
Ouvi depois um meu caríssimo amigo e jovem Deputado a quem me ligam tantos laços de amizade e simpatia - o nosso ilustre colega Albano de Melo. Ouvi-o com aquele carinho com que se ouve alguém que tem o alto valor representativo de uma classe e de uma família, ilustre da minha região. Ouvi-o com igual a com atenção notória competência e elevação, sendo notável a sua actividade na Junta Nacional do Vinho onde teve papel de grande relevo. Os seus trabalhos em todas estas actividades, em que serviu a Nação não podem ser esquecidos. Ouvi-o, repito, com o maior interessa e fiquei com esta. impressão: o Sr. Deputado Albano de Melo não está em desacordo com o Sr. cónego Mendes de Matos. Tem em sua consciência a mesma opinião daquele nosso ilustre colega.

O Sr. Albano de Melo: - Desde que se defenda o consumo do vinho...

O Orador: - Mas não pode reduzir-se a um simples problema de ordem económica uma questão desta natureza.
Não negamos, a necessidade do consumo do vinho e o seu valor como tónico e estimulante alimentar, na verdade necessário ao organismo pelas calorias que desenvolve, pela compensação que dá às necessidades físicas, às exigências do trabalho, por vezes extenuante, do nosso artífice ou do nosso trabalhador rural.
Mas daí a fazer-se a apologia da taberna, esquecendo os danos de ordem moral e social que ela acarreta, os perigos para a ordem familiar e paz dos lares, a tristíssima lição para os filhos, que, vendo o pai passar o tempo na taberna a beber copos de vinho sucessivos, com perigo da sua saúde e da saúde dos seus, serão amanhã os seus continuadores, os que frequentarão a taberna, como os pais, ilustrados e autorizados pelo seu exemplo, e como eles desorganizarão os seus futuros lares e iguais lições darão aos seus descendentes, vai grande distância.
Não faço a ninguém medianamente ilustrado ou simplesmente sensato a injúria de não reconhecer o perigo da frequência da taberna.
Há necessidade económica do consumo do vinho, num país essencialmente vitícola como o nosso, com dificuldades de colocação nos mercados externos, como presentemente?
Não discordamos, mas tudo tem limitações, tanto no consumo do vinho, que tem de ser moderado, como na sua produção, que carece de um condicionamento, racional. E não se diga que os nossos- viticultores o tenham respeitado sempre.
Sr. Presidente: tenho pena de cá não estar hoje o nosso ilustre colega Dr. Bustorff da Silva para perguntar a S. Ex.ª se não deverá chamar-se especulação a um excesso de cultivo da vinha num país que tanto carece de cereais panificáveis, aplicando a essa produção terras que poderiam dar pão ou outros produtos (necessários à nossa alimentação.
A história da nossa economia vinícola não nos deixa dúvidas no espírito. Pelo contrário, demonstra-nos a veracidade do que dito fica.
Ao inconsiderado abuso da plantação de vinha em toda e qualquer terra, responderam os Governos pondo-lhes cobro ou restringindo o plantio. O exemplo do Governo de João Franco é frisante, para não remontar às violências pombalinas. E já o Estado Novo, em di-